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Pesquisadoras brasileiras contam sobre o seu trabalho e os desafios da carreira.
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Fernanda Werneck decifra como a seleção natural atuou sobre animais amazônicos

A #MulherCientista desta semana analisa o genoma de répteis e anfíbios – e as mudanças na paisagem brasileira ao longo de milhões de anos – para descobrir por que eles evoluiram certas características, e quais deles têm mais chances de sobreviver às mudanças climáticas.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 5 fev 2021, 20h20 - Publicado em 5 fev 2021, 15h26

Anfíbios e répteis são bem diferentes entre si – ainda que todo mundo já tenha errado a classe da salamandra: apesar do corpinho com jeito de lagarto, ela é um anfíbio.

Seja como for, às vezes é útil estudar essas duas classes em conjunto. A área da biologia que engloba répteis e anfíbios é a herpetofauna. Qualquer cientista que se interesse por esses animais fica com os olhos brilhando só de pensar em trabalhar na Amazônia – trata-se de uma das regiões mais biodiversas do mundo no que diz respeito a essas duas classes de bichinhos.  

Não é à toa que Fernanda Werneck flerta com a maior floresta equatorial do mundo desde a graduação. A pesquisadora se formou em biologia pela Universidade de Brasília (UnB) e começou a carreira estudando a evolução da herpetofauna de uma região brasileira chamada de “diagonal seca”, que compreende a Caatinga, Cerrado e o Chaco. Em 2013, ela se mudou para Manaus para estudar o bioma amazônico de perto – e mora lá até hoje.

Seus primeiros estudos se baseavam principalmente na morfologia dos animais: ela tentava estabelecer a história da origem de sapos, salamandras e afins comparando características de seus ossos, músculos, tendões etc. em busca de semelhanças e diferenças. Mas ela logo percebeu que poderia dar um passo além com uma mãozinha do DNA.

Foi aí que entrou o sequenciamento genético. Analisando as diferenças entre os genomas de dois animais, fica mais fácil determinar o grau de parentesco entre eles. Dois lagartos semelhantes podem até aparentar ser da mesma espécie de um ponto de vista morfológico, mas suas diferenças genéticas forem muito grandes, talvez eles precisem ser classificados em espécies diferentes. 

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O DNA também funciona como um relógio biológico. Todo ser vivo sofre mutações de tempos em tempos, e a maioria delas é irrisória na prática: não melhora nem piora em nada a vida do organismo. Mas o simples fato de que ocorrem mutações a uma taxa mais ou menos fixa é algo valioso, porque serve como medida da passagem do tempo. Quanto mais diferente é o DNA de dois animais, mais tempo faz que eles se separaram na árvore filogenética. O genoma humano, por exemplo, é mais de 98% idêntico ao de um chimpanzé. Indício de que a nossa separação é recente: o último ancestral comum às duas espécies viveu há uns 8 milhões de anos. 

O ponto mais interessante no trabalho de Fernanda é que ela não se limita a reconstruir o álbum de família dos anfíbios e répteis, mas também relaciona essa diversidade biológica com a evolução histórica da paisagem brasileira. Ela avalia como, por exemplo, um lago, rio ou característica geológica qualquer dividiram a população de uma espécie ao meio – o que resulta em duas espécies novas, cada uma adaptada às pressões de seleção natural específicas do seu pedacinho de habitat. Essa abordagem é chamada de biogeografia. 

“A gente vai a campo, faz um bom inventário da biodiversidade, faz o sequenciamento e vê como uma determinada população e a diversidade genética estão distribuídas no ambiente. Aí nos baseamos em evidências independentes, como por exemplo trabalhos sobre a geologia do local e a variação ambiental e climática, para entender os processos que geraram esses padrões de diversidade”, diz Werneck.

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Mutações que permitem a um anfíbio suportar temperaturas mais altas, por exemplo, podem indicar que essa espécie já viveu em áreas mais abertas e secas da Amazônia, fora da floresta densa. Ou então, o contrário: que a espécie permanece no mesmo lugar, mas o clima e a vegetação em torno dela é que mudaram e agora são mais úmidos e frescos. Daí a importância de convergir estudos de diferentes áreas da ciência.

Entender a história evolutiva e a diversidade genômica adaptativa das espécies também dá pistas sobre quais delas têm mais chances de sobreviver ao aquecimento global. Essa é a linha de pesquisa em que Fernanda foca atualmente. Ela estuda as adaptações de cada animal para ter uma ideia de como será a biodiversidade brasileira sob o efeito das mudanças climáticas.

Répteis e anfíbios são especialmente sensíveis a essas mudanças. Por se tratarem de animais ectotérmicos (popularmente conhecidos como de “sangue frio”), eles estão mais sujeitos às variações de temperatura externa do que os mamíferos, que regulam sua própria temperatura.

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Espécies que se adaptam bem a variações drásticas de clima e a temperaturas altas levam vantagem quando o ser humano bagunça o clima. Por outro lado, as espécies ombrófilas (que preferem ficar sob a sombra) tendem a ser as mais vulneráveis. Com menos vegetação e o aumento das temperaturas, é possível que essas espécies fiquem ilhadas em retalhos de floresta, com grande dificuldade de sair para procurar comida ou acasalar.

Os estudos indicam que haverá uma mudança nas comunidades da herpetofauna amazônica nas próximas décadas. Os animais típicos de florestas poderão ser substituídos por espécies acostumadas a ambientes abertos.

Hoje, Fernanda coordena um grupo de pesquisas e Coleções Biológicas no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas, onde orienta diversas teses e dissertações sobre esses temas, além de atuar na valorização das Mulheres na Ciência. Ela também colabora fornecendo dados para diversas iniciativas de conservação, como a lista vermelha de espécies ameaçadas e o mapeamento de áreas prioritárias para a conservação.

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