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É verdade que as mulheres urinavam em cevada ou trigo como teste de gravidez?

Os testes modernos só surgiram na década de 1970. Saiba como as mulheres descobriam se estavam grávidas antes disso.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 6 set 2024, 15h36 - Publicado em 19 out 2023, 14h26

Sim – e eles funcionavam, até certo ponto. A cevada e o trigo foram os primeiros testes de gravidez da história. Um tratado de medicina do Egito Antigo, de aproximadamente 1.350 a.C., recomenda que a mulher urine nesses grãos durante alguns dias. Se eles brotarem, é porque a moça estava grávida. E o papiro vai além: “Se a cevada brotar, significa que é um menino. Se o trigo brotar, é porque é uma menina”. 

A parte de adivinhar o sexo é crendice, mas o teste tem um fundo de verdade. Um artigo de 1963 da Universidade de Cambridge verificou a validade do método egípcio. Os pesquisadores misturaram a cavada e o trigo ao xixi de mulheres grávidas, homens e mulheres que não estavam grávidas. 70% das amostras de urina de mulheres grávidas promoveram o crescimento dos grãos. Nos xixis de pessoas não grávidas, não houve crescimento algum.

É provável que a germinação seja desencadeada pelos elevados níveis de estrógeno na urina, um dos principais hormônios da gravidez. No entanto, pesquisadores ainda não conhecem os detalhes por trás desse mecanismo.

Na Idade Média, surgiram outros métodos que utilizavam o xixi para prever a gravidez, de validade científica incerta. Autodenominados “profetas” analisavam a cor, textura e cheiro da urina para identificar doenças e alterações corporais. Num documento de 1552, o xixi de uma mulher grávida foi descrito como “de cor limão clara e pálida, com aspecto esbranquiçado na superfície”.

Foi só no início do século 20 que o fisiologista inglês Ernest Starling descobriu a existência dos hormônios, ou “mensageiros químicos”, como ele descreve. Em 1927, surgiu o primeiro teste de gravidez com base no hormônio hCG, responsável por fazer a mulher parar de menstruar e preparar o útero para receber o embrião.

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Desenvolvido pelos cientistas Selmar Aschheim e Bernhard Zondek, o teste consistia em injetar a urina da mulher em uma rata que ainda não havia atingido a maturidade sexual. O hormônio hCG estimula o desenvolvimento precoce e ovulação do roedor. Se isso ocorresse, indicava que a mulher estava grávida.

O método era problemático: era preciso esperar uma semana até que a ratinha atingisse a maturidade sexual e ainda sacrificá-la no final do experimento, para olhar o ovário e verificar se estava ovulando. Nos anos 1930, as ratas foram substituídas por coelhas, e então por sapos fêmeas.

A vantagem das sapas e rãs é que elas soltam os óvulos na natureza, então não é necessário dissecá-las para descobrir o resultado. Centenas de milhares de anfíbios foram usados como teste de gravidez entre os anos 1940 e 1960. 

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De toda forma, as mulheres ainda precisavam ir ao médico para que ele enviasse a amostra de urina ao laboratório de sapos. Isso só mudou com a criação do primeiro teste hormonal caseiro, na década de 1970, pela inventora Margaret Crane (leia mais aqui).

Finalmente, na década de 1980, surgiram os testes de gravidez semelhantes aos que compramos nas farmácias hoje. Alguns passam de 99% de precisão – é melhor deixar a cevada e trigo na cozinha.

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Fontes: Artigo The Long Gestation of the Modern Home Pregnancy Test; Artigo The Thin Blue Line: The History of the Pregnancy Test; Artigo ON AN ANCIENT EGYPTIAN METHOD OF DIAGNOSING PREGNANCY AND DETERMINING FOETAL SEX; Texto Pee is for Pregnant: The history and science of urine-based pregnancy tests

Pergunta de @marciomcpiaui, via Instagram

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