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Por que os filmes têm duas horas de duração, geralmente?

É tudo culpa de um filme mudo italiano, feito em 1913 – e que revolucionou o cinema.

Por Rafael Battaglia
18 Maio 2023, 11h01

No começo do século 20, não era assim: quase todos os filmes duravam até 15 minutos. É o que cabia em um rolo de filme, que tinha 305 metros de comprimento e pesava 2,3 quilos. 

Naquela época, a Motion Pictures Patents Company (MPCC), uma associação de produtoras de cinema da costa leste dos EUA, fundada por Thomas Edison, determinou que os filmes fossem curtos para reduzir custos. Não apenas de produção, mas de distribuição.

Financeiramente, fazia sentido. Mesmo os estúdios que não respondiam à MPCC, como os de Hollywood (costa oeste dos EUA) e da Europa, seguiam esse padrão.

Isso começou a mudar nos anos 1910, na Itália. Um grupo de cineastas começou a fazer experimentações – e quebrar a barreira dos 15 minutos. L’Inferno (1911), por exemplo, é um filme de 68 minutos que adapta o livro A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Mas o divisor de águas foi Quo Vadis (1913), de Enrico Guazzoni, um épico sobre a Roma do imperador Nero (37 d.C.68 d.C.). O filme tinha duas horas de duração e usou locações reais, dublês para as cenas de ação e mais de 5 mil figurantes.

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Quo Vadis (que em latim significa “Onde você está indo?”) também inovou na forma de exibição. Na época, os filmes de 15 minutos passavam em cinemas populares, a um preço baixo – nos EUA, o espectador pagava cinco centavos (US$ 1,60 de hoje) para assistir a vários deles, de uma vez. Para fazer jus à grandeza de Quo Vadis, contudo, os produtores criaram sessões em lugares cheios de pompa.

Foram atrás, então, de grandes teatros e salas de concerto. Em Nova York, foi o primeiro filme a ser exibido no Astor, um teatro de primeira linha da Broadway. O ingresso ficou mais caro (US$ 1, equivalente a US$ 30 de hoje). Mas deu certo. Quo Vadis foi um sucesso e teve sessões por toda a Europa e EUA. E inspirou outros cineastas a fazer filmes mais longos. 

Dois anos depois, em 1915, o americano D.W. Griffith lançou O Nascimento de Uma Nação, com 193 minutos de duração – havia, inclusive, um intervalo no meio das exibições. O filme é um marco da técnica cinematográfica, mas foi criticado desde o seu lançamento pelo teor racista (no filme, os membros da Ku Klux Klan são retratados como heróis).

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Nas décadas seguintes, a duração de duas horas se tornou o formato padrão. É claro que vários filmes ultrapassaram essa barreira. Mas poderia ser uma jogada arriscada: um filme mais longo tinha menos sessões por dia nas salas de cinema – e, consequentemente, poderia arrecadar menos.

Hoje, não há esse problema. O número de salas aumentou – e mesmo a janela de exibição entre o momento em que o filme sai de cartaz até ficar disponível para aluguel digital e no streaming vem diminuindo. É nessas plataformas, aliás, que alguns cineastas encontram espaço para não se preocupar com o relógio. Os filmes mais longos de Martin Scorsese, por exemplo, saíram justamente daí: O Irlandês (2019), da Netflix, tem 3h29min; Killers of The Flower Moon, que estreia neste ano no Apple TV+, 3h26min.  

Haja bexiga

  • 85 horas: A Cura para a Insônia (1987) é o filme experimental mais longo já feito, segundo o Guinness. Consiste, basicamente, num artista recitando um poema de mais de 4 mil páginas.  
  • 21h5min: The Innocence é um retrato de Bangladesh durante a Guerra de Independência do país, em 1971. Lançado em 2019, foi o filme mais longo a ser exibido comercialmente.
  • 3h58min:E o Vento Levou (1939) é o vencedor do Oscar de Melhor Filme com maior duração. Na sequência vem Lawrence da Arábia (1962), com 2h47min, e Ben-Hur (1959), com 3h32 min.

Fonte: Why movies went from 15 minutes to 2 hours (Vox).

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