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Por que uma parte do Brasil fala a letra T como “tchi” e outra como “ti”?

Essa diferença entre sotaques ocorre graças a um fenômeno chamado "palatização", que não atingiu igualmente todas as regiões do país.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 ago 2024, 13h10 - Publicado em 26 jul 2024, 14h00

Originalmente, o mais provável é que todos os falantes de português pronunciassem essa consoante na pontinha da língua, como se faz até hoje em partes consideráveis das regiões Nordeste e Sul – bem como em alguns bairros de São Paulo. Essa é ainda é a pronúncia predominante em Portugal. 

Com o passar dos séculos, boa parte do Brasil passou por um processo chamado palatização, que fez “tia” virar “tchia” e “dia” virar “djia”. O nome vem do fato de que a vogal “i” é a mais alta das vogais, ou seja: a vogal em que a língua mais se aproxima do céu da boca, chamado palato.

A palatização otimiza os movimentos dentro da boca. Faça o teste: primeiro, tente pronunciar o “d” na ponta da língua e depois movê-la para trás para encostá-la no palato e fazer o “i”. Note que é muito mais fácil falar o “d” e o “t” já com a língua no céu da boca, posicionada para o “i” que vem depois. 

Para quem é de humanas e curte um textinho cabeludo de linguística, há artigos detalhando porque as combinações “di” e “ti” são particularmente suscetíveis à palatização, como este aqui: “Palatização no português brasileiro e nas línguas do mundo: motivação estrutural, seleção de gatilhos e alvos” (link).

Um estudo de 2002 revela que apenas 7% de uma amostra da população de Recife (66 dentre 949 pessoas) palatizava o “t” e “d” naquela época. Enquanto isso, mais de 99% da população carioca (841 de 844 consultados) fazia essas consoantes no céu da boca. Em Porto Alegre, 59% dos entrevistados palatizavam. Em São Paulo, 40%.

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Não há uma única explicação que dê conta de explicar a palatização (ou a resistência à palatização) em cada região do país. Sabe-se que em São Paulo, por exemplo, a chegada massiva de imigrantes italianos no começo do século 20 teve uma influência notável. Em 1916, 37% da população da capital paulista era italiana.

“No bonde, no teatro, na rua, na igreja, fala-se mais o idioma de Dante que o de Camões. Os maiores e mais numerosos comerciantes e industriais eram italianos”, escreveu um observador mineiro na época. O fato de que os italianos pronunciam o “d” e o “t” na pontinha da língua certamente contribuiu para que a cidade resistisse a essa tendência.

Fonte: artigo “Revisitando a palatalização no português brasileiro”, de Thaïs Cristófaro Silva e outros.

 

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