Poluição sobre tela
Essa imagem aí em cima foi feita com poluição. É, a mesma que você respira todos os dias e que é expelida pelos escapamentos dos carros. “Eu achei que tinha parado de fumar, mas eu sei que eu fumo 5 a 6 cigarros por dia só por causa da poluição”, quem conta é o artista plástico Alexandre Órion, autor da tela.
Órion, em 2006, desceu a pé até o túnel Max Feffer (aquele que liga a avenida 9 de julho à Cidade Jardim, em São Paulo) e nas paredes pretas – que na verdade eram amarelas, mas por causa da poluição estavam daquela cor -, com panos úmidos, desenhou diversas caveiras. Ou seja, em vez de pintar ou pichar a muralha, ele fez uma limpeza. As autoridades estranharam, o governo estranhou e mandou passar uma água por ali – por mais bizarro que seja – para limpar a limpeza.
“Eu não estou preocupado com a parede do túnel. Eu estou preocupado com a minha vida e com a sua, com o nosso pulmão. A limpeza da prefeitura me agradou, pois em uma cidade que era, na época, dominada por publicidade, a intervenção foi forte o suficiente para que despertasse o governo”, conta.
Para compor as novas telas, Órion guardou todos os panos que utilizou para fazer o Ossário (nome dado à intervenção no túnel), lavou-os, separou toda a água imunda que saiu, deixou decantar, retirou o excesso de líquido e deixou o restante evaporar. Restou apenas um pó preto, que é a fuligem dos carros. Com ele, Órion fez uma tinta com base acrílica. O resultado fica muito semelhante ao de uma aquarela. “É um processo muito parecido com o que Leonardo da Vinci fazia em seus afrescos”, compara.
Essa imagem aí em cima chama-se “Cegonha”, e é a primeira de uma série que será produzida. Na realidade, ela tem 1,80m x 1,20m e está exposta no Sesc Pinheiros até o dia 23 de setembro. E a entrada é gratuita.
A reciclagem é uma arte!