A volta do brontossauro
Por Fábio Marton Quem tem um amigo metido a sabichão talvez tenha presenciado a cena. Conversa vai, conversa vem, sabe-se lá como, o assunto vai parar em dinossauros. Alguém menciona que seu dino favorito é o brontossauro. Recebe do Senhor Sabe Tudo um “humpf!… Você quer dizer apatossauro?”. “Como assim não existe brontossauro? Do que […]
Por Fábio Marton
Quem tem um amigo metido a sabichão talvez tenha presenciado a cena. Conversa vai, conversa vem, sabe-se lá como, o assunto vai parar em dinossauros. Alguém menciona que seu dino favorito é o brontossauro. Recebe do Senhor Sabe Tudo um “humpf!… Você quer dizer apatossauro?”.
“Como assim não existe brontossauro? Do que era feito o brontoburguer de Freddy Flintstone? Explica!” – diz então o tio Astolfo, cujo forte é decorar as posições do Campeonato Paulista de 1975, não ciência
Brontoussauro – mais precisamente, Brontosaurus excelsius, “magnífico lagarto-trovão” – foi como o paleontólogo O. C. Marsh batizou um fóssil que descobriu em 1879. Mas Marsh também havia descoberto e batizado o Apatosaurus ajax (“largarto enganador”) dois anos antes. Em 1903, outro paleontólogo, Elmer Riggs, revisou o trabalho de Marsh e concluiu que ele tinha errado. Apatosaurus e Brontosaurus eram a mesma criatura. Como o primeiro nome era mais antigo, o brontossauro foi reclassificado como apatossauro e fim de conversa.
Desde então, brontossauro se tornou palavrão entre paleontólogos. Virou piada entre equipes de museus mandar o estagiário buscar no depósito o “fêmur do brontossauro” (não de verdade, mas eu faria isso se fosse um paleontólogo).
Pode ter sido mais de um século de injustiça com Marsh e um nome que, vamos convir, é bem mais sonoro que apatossauro. Um estudo extenso da Universidade Nova de Lisboa buscou reavaliar a classificação de toda a família dos diplodocídeos – que inclui também o diplodoco e o (sério mesmo?) supersauro.
Representação artística sujeita a licença poética [Brian Walline, Flickr]
“Particularmente notável é que o famoso gênero Brontosaurus é considerado válido por nosso método quantitativo”, afirmam os cientistas. Isto é, eles consideraram o que Marsh chamou de “brontossauros” diferente o suficiente dos apatossauros para ganharem um gênero próprio.
A volta do bronto ainda deve dar muito o que falar entre taxonomistas. Ainda hoje, por exemplo, existe uma briga para dizer se nós e os neandertais somos uma ou duas espécies. Talvez o estudo – e a volta do brontossauro – sejam aceitos amplamente, validando os Flintstones (não, tio Astolfo, isso não quer dizer que humanos conviveram com dinossauros). Mas talvez a maioria dos paleontólogos continue a dizer “humpf!… Você quer dizer apatossauro?”.