O “ser cult” é um estado de espírito típico da juventude pseudointelectual nascida na virada do século. A exemplo dos beatniks, hippies e europeus de 68, os cults buscam arte alternativa. E o cinema, é claro, não passa batido.
Está é uma lista de filmes cult no sentido mais clássico do termo – aquele filme chato que amamos, aquele romance francês, aquele outro de 2h30 a 3h de duração, e é claro, o bom e velho filme preto e branco. Não confunda com aqueles filmes “cult” que, apesar da longa base de fãs, tem pouca qualidade cinematográfica ou intelectual.
Esquente um chá, ponha uma música indie depressiva no Spotify e atualize sua lista de filmes para assistir. Ah, e se quiser mais indicações batutas, confira também 8 filmes independentes para assistir no Netflix e 10 documentários que você não pode morrer sem assistir.
1) Sinédoque, Nova York (2008)
Nota do IMDb: 7,5
Escrito e dirigido por Charlie Kaufman (autor dos roteiros de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e Quero Ser John Malkovich), esse filme traz à tona outro alter-ego do diretor: Caden Cotard.
A trama gira em torno desse diretor de teatro que, depois de levar a filha e a mulher para uma viagem praticamente sem volta, começa a escrever sua primeira peça, na qual ironicamente se torna personagem principal e coadjuvante.
Com um roteiro denso e reflexões existencialistas, Sinédoque, Nova York é, sobretudo, um longa amargo e introspectivo sobre o ser humano e suas complexidades.
2) Oldboy (2003)
Nota do IMDb: 8,4
Chan-wook Park é um dos expoentes do cinema asiático e, em Oldboy, traz a vingança mais uma vez como pilar do enredo. Um homem fica preso por 15 anos, é solto e tem que achar seu captor em cinco dias.
Esbanjando cenas de luta chapacrazy, Oldboy é um marco do cinema coreano, tão conhecido por suas megalomanias, roteiros riquíssimos e cenários admiráveis. É preciso aproveitar enquanto um filme de um circuito pouco explorado no mercado nacional está disponível no Netflix.
3) Pi (1998)
Nota do IMDb: 7,5
Primeiro longa do diretor e roteirista Darren Aronofsky (Requiém Para Um Sonho), Pi conta a história de um jovem gênio matemático, Maz Cohen. O personagem foi inspirado nos irmãos David e Gregory Chudnovsky, que, nos anos 90, projetaram e construíram um computador com peças compradas pelo correio, com o qual pretendiam calcular o valor de PI (3,14…) com a maior precisão de dígitos possível.
O filme, porém, é muito mais que uma viagem pelos números. Ele mergulha fundo na mente perturbada de um gênio e sua loucura. Ao descobrir um padrão por meio da bolsa de valores, ele logo é descoberto por um grupo de Wall Street, ao mesmo tempo em que é procurado por judeus que acreditam que Max tenha achado o segredo de criação do Torá.
4) Melancolia (2011)
Nota do IMDb: 7,1
Lars von Trier faz parte do squad de diretores geniais, mas debilitados psicologicamente. Sua “Trilogia da Depressão” tem Melancolia como segundo filme, expondo com fidelidade as paranoias do convívio familiar, da incompreensão e da solidão.
Neste longa, o diretor, mais uma vez, consagra uma atriz no papel principal, dando a ela uma forte presença de cena e um impacto imenso no enredo. Não à toa, rendeu a Kirsten Dunst o prêmio de Melhor Atriz em Cannes. Podemos dizer que o prefácio e o epílogo são as experiências sensoriais mais bonitas do cinema no século.
5) Último Tango em Paris (1972)
Nota do IMDb: 7,2
Como quase todos os filmes de Bernardo Bertoucci (diretor de Os Sonhadores), Último Tango em Paris é um filme erótico que trata sobre temas marginalizados pela sociedade.
O longa é sobre a relação clandestina entre um viúvo de meia-idade e uma jovem francesa. Ele está em crise porque a mulher acaba de cometer suicídio sem deixar qualquer explicação, e ela está em crise porque não sabe se o futuro que deseja para si é um casamento com um jovem cineasta.
Apesar de suas cenas de sexo explícito, o filme não tem nada de estimulante, sendo muito mais intenso em seus detalhes intimistas.
6) O Mestre (2012)
Nota do IMDb: 7,1
Para tornar-se um diretor cult, basta ser mentalmente instável e pouco agradável ao grande público. Em O Mestre, o diretor Paul Thomas Anderson constrói mais uma de suas odisseias, com o genial Joaquin Phoenix no papel principal e o falecido Philip Seymour Hoffman como coadjuvante, igualmente tomado em cena. Saído da guerra, o personagem de Phoenix entra para um culto ideológico obscuro que faz uma espécie de lavagem cerebral em seus participantes.
Anderson faz outro filme com grandeza literária e consagra-se como um dos cineastas que melhor constroem seus personagens.
7) A Caça (2012)
Nota do IMDb: 8,3
A Caça, filme dinamarquês do diretor Thomas Vinterberg (Festa de Família e Longe deste Insensato Mundo), ganhou destaque no Festival de Cannes de 2012, ao qual concorreu como Melhor Filme e venceu na categoria de Melhor Ator com Mads Mikkelsen (Hannibal).
O longa segue a vida de Lucas, um homem divorciado que tem dificuldade de arranjar emprego, mas consegue uma vaga em uma creche onde as crianças o adoram. Dentre elas está Klara, filha de seu melhor amigo, por quem tem grande estima. A menina, porém, desenvolve uma paixão platônica por Lucas e não é respondida positivamente por ele.
Filmado com uma crueza quase que insensível, esse é um daqueles filmes que fogem da mesmice e tratam de assuntos esquecidos, como a presunção da inocência.
8) O Som ao Redor (2012)
Nota do IMDb: 7,1
O Som ao Redor é uma crônica brasileira sobre barulho, vizinhança e segredo. O diretor Kleber Mendonça Filho entra como uma mosca no dia-a-dia da família tradicional brasileira, explorando facetas como as de uma dona de casa frustrada, um senhor rico de passado obscuro e seguranças de rua com intenções dúbias. Kleber entra no cenário cinematográfico nacional de maneira bastante promissora e já é um dos mais endeusados nos círculos cult Brasil afora.
9) Cosmopolis (2012)
Nota do IMDb: 5,0
Nesse longa de David Cronenberg (diretor de Videodrome e Scanners), acompanhamos o jovem bilionário Eric Packer (interpretado por Robert Pattinson) em um passeio de limusine por uma Manhattan congestionada, rumo ao barbeiro para cortar o cabelo.
Retratando de forma fiel o século 21, com um cenário corporativo e constantes transmutações entre homem e máquinas, Cosmopolis se passa em uma limousine que, parada em congestionamentos, se torna o objeto central de reflexão do filme.
Lá dentro, Eric recebe pessoas, faz sexo e até realiza exames médicos, abrindo brechas para interpretar o carro como uma bolha protetora dos acontecimentos externos e sua constância.
10) Dr. Fantástico (ou Como Parei de Me Preocupar com a Bomba) (1964)
Nota do IMDb: 8,5
Quando chega Stanley Kubrick na lista, cult que é cult estremece e sua frio. É fascinante como o cineasta é versátil em seus temas, fazendo desde comédia, passando por romances e chegando ao horror.
Dr. Fantástico é o início do seu auge; uma caricatura dos grandes generais em suas políticas de guerra exageradas e duvidosas. Nem mesmo o título se leva a sério. E o longa ainda conta com o absurdo Peter Sellers em cena fazendo três personagens.
11) Paris,Texas (1984)
Nota do IMDb: 8,1
Paris, Texas é o encontro do requinte romântico de filmes parisienses com a beleza desértica do vazio texano. Wim Wenders e Sam Shepard criam uma história sobre família, memória e amor, tendo como beleza a fotografia, as cores, as longas cenas em silêncio e um dos diálogos românticos mais singelos do cinema, realizado através de uma parede de vidro. O amor líquido pós-moderno nunca fez tanto sentido.
12) Zeitgeist (2007)
Nota do IMDb: 8,2
Se todo ser humano assistisse Zeitgeist, viveríamos numa anarquia extremista, ateia e cética. O documentário disseca as raízes das crenças humanas, apresenta conspirações com argumentos assustadoramente críveis e denuncia um possível futuro distópico alienador.
Essencial para todo adolescente rebelde e também conhecido como “O Filme que Michel Moore Gostaria de Ter Feito”.