Apesar de ter o mesmo nome do terceiro livro da saga Jogos Vorazes, Esperança (Companhia das Letras, R$ 39,90, 384 páginas), de Mary Jordan e Kevin Sulivan, é bem diferente dos livros da trilogia. Ambos os títulos possuem algo em comum: o fato de apresentarem protagonistas fortes que fazem de tudo para lutar por suas vidas. Mas Esperança acontece no mundo real: o livro relata a história verídica de Amanda Berry e Gina de Jesus, duas das três meninas que foram mantidas em cativeiro por mais de 10 anos em Cleveland (EUA) pelo criminoso Ariel Castro.
Amanda foi a primeira, sequestrada em 21 de abril de 2003 (um dia antes de seu aniversário de 17 anos) quando estava saindo do Burger King em que trabalhava. Ela foi atraída para o carro de Castro, que era pai de um de seus colegas de trabalho. Já Gina foi raptada aos 14 anos, em 2004. Estava saindo da escola e avistou Castro, que ela conhecia porque era pai de sua melhor amiga. O homem disse estar procurando por sua filha e pediu a Gina que o ajudasse. Quando a menina entrou no carro, os dois seguiram em direção à casa de Castro na avenida Seymour, 2207.
Durante essa década, as meninas não só foram mantidas em condições desumanas (passaram a maior parte do tempo em um pequeno quarto quente, com uma antiga televisão e um ventilador), mas também enfrentaram situações marcantes como gravidezes, abortos causados por violência, humilhações e espancamentos.
Amanda, por exemplo, engravidou, mas pôde manter sua filha, Jocelyn – a menina viveu toda sua vida em cativeiro e apenas saiu aos 6 anos. Porém sua mãe fez o que pôde para tentar minimizar o impacto daquela situação sobre ela. Dentre as medidas tomadas, transformou o quarto em uma sala de aula. A criatividade é retratada no livro como um ponto-chave para amenizar a situação de horror em que as mulheres viviam.
O relato, apesar de parecer pesado, possui toques de leveza. Um dos trechos, por exemplo, fala do que as meninas pensaram ao assistir ao Casamento Real, enquanto outro trata da reação à morte de Michael Jackson. Com maestria, os autores (e ganhadores do prêmio Pulitzer) alternam os capítulos com histórias de Amanda, Gina e suas famílias, o que faz com que seja impossível parar de ler.
Ademais, o livro também possui mapas e fotos exclusivas da investigação do caso, fornecidas pelo FBI, o que facilita a compreensão dos fatos. Os relatos das jovens são surpreendentes e, em sua maioria, trazem momentos de tirar o fôlego, o que torna o livro ainda mais cativante.
O impressionante caso repercutiu na mídia mundial em 2013, após Amanda ter bravamente conseguido escapar de seu cativeiro. Essa história deveria ser lida por todos, uma vez que nos mostra que não podemos confiar em ninguém e também que é preciso manter a esperança e ser forte, independentemente de qual for a situação.
Portanto, recomendo fortemente a todos que leiam Esperança e, assim como eu, que se emocionem, se surpreendam e se enfureçam com essa impressionante história. Mas já deixo avisado: não me responsabilizo caso você também se enxergue nas personagens do livro e queira viver apenas para terminá-lo – o que não levará muito tempo, já que, uma vez que você comece, não irá mais querer parar.