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Okja, da Netflix, emociona, diverte e faz crítica à sociedade

Por Thiago Maciel
Atualizado em 4 jul 2018, 20h33 - Publicado em 4 jul 2017, 17h22

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Produzido pela Netflix, Okja – indicado (e muito merecidamente!) à Palma de Ouro em Cannes, chegou semana passada à plataforma de streaming. Acompanhado por aplausos, vaias e até mesmo complicações técnicas em sua estreia na França, o filme é mais um acerto do elogiado diretor Bong Joon-ho.

Estrelado por Tilda Swinton e pela atriz sul-coreana Ahn Seo-hyun, o longa-metragem nos revela logo de cara o ambicioso projeto concebido pela empresa agroquímica Mirando Corporation, que promete revolucionar a indústria pecuária: criar superporcos geneticamente modificados, visando o lucro com gastos mínimos, sob o pretexto de que, deste modo, em pouco tempo, conseguirão erradicar a fome no mundo.

Assim, cada uma das criaturas reproduzidas é enviada a diferentes fazendas ao redor do mundo. Uma delas vai para a órfã Mija (na tradução brasileira ficou Mikha; não é tão difícil entender o porquê) e seu avô (Byun Hee-bong), moradores de uma floresta próxima de Seul. Após um pulo de 10 anos, descobrimos que Mija tornou-se amiga inseparável de Okja, criando-a como um membro da sua família. Ao constatar que a empresa está decidida a levar o animal de volta a New York, a menina decide partir em busca de resgatar a amiga.

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Filmes que retratam laços afetivos entre seres humanos e animais já não são novidade no mundo cinematográfico, é verdade, mas Okja possui um “quê” a mais. A aventura de Mija oferece novo fôlego a esse tipo de história. Mas não se engane em pensar que este longa deva ser rotulado apenas como mais um roteiro clichê envolvendo o amor entre criador e criatura. Na verdade, Okja é muito mais do que isso.

Dosado com perfeição, o filme possui diálogos cômicos, momentos sensíveis e personagens principais bem desenvolvidos. Lucy Mirando, a neurótica CEO da Mirando Corporation, por exemplo, consegue ir muito além do papel de uma vilã comum e unilateral, revelando um passado conflituoso com familiares e a obsessão pela própria imagem (o mérito também deve ser compartilhado com a talentosíssima Tilda, que deu vida à personagem de forma genial).

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(Divulgação/Netflix)
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As críticas sociais são um destaque à parte; recheado por sarcasmos e ironias, Bong e o roteirista Jon Ronson conseguem usar de inúmeras situações para provocar o telespectador e fazê-lo se questionar sobre a sociedade moderna que o cerca.

A maior dessas metáforas, como você já deve imaginar, envolve a crueldade de corporações alimentícias para com os animais – algo que, devemos ressaltar, é um assunto muito pertinente nos dias atuais, principalmente com as recentes discussões sobre extração de pele animal para a confecção de roupas e acessórios. Durante o filme, assistimos cenas extremamente desconfortáveis que nos revelam como a empresa do filme busca vantagens e lucros, mesmo que isto signifique maus-tratos e outros tipos de ilegalidades.

Exibindo o outro lado da moeda, nós também somos apresentados a uma turma de manifestantes liderados por Jay (Paul Dano), que se juntam a Mija numa tentativa de proteger a superporca a qualquer custo. O que chama atenção aqui é a forma como os roteiristas decidem não tomar um lado específico, exibindo a cena de um membro do grupo que evita ingerir qualquer tipo de comida em nome do ativismo, como forma de protesto contra o uso de produtos químicos em alimentos, o que entrega ao telespectador um novo ponto de vista sobre o que estamos vendo.

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(Divulgação/Netflix)

A tecnologia e as suas consequências também são um tema predominante durante todo o longa, algo que aparece até mesmo em cenas sutis e rápidas, como quando uma garota arrisca a própria vida na tentativa de registrar um vídeo ao lado de Okja, ou quando uma das secretárias da Mirando Corporation sugere a sexualização de Mija.

No papel do famoso zoólogo Johnny Wilcox, uma celebridade em declínio, Jake Gyllenhaal também consegue entregar momentos de bastante reflexão, desta vez representando o mundo artístico. As críticas aqui envolvem particularmente a área televisiva e a noção de como temos tendência a acreditar em coisas que nem sempre são o que parecem.

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Como o filme ainda tem a presença de Lily Collins, Steven Yeun e Giancarlo Esposito, é quase impossível não dar de cara com um rosto conhecido na tela. Isso tudo além, é claro, da animação cuidadosa, dos efeitos visuais detalhados e do carisma que a presença de Okja oferece por si só (o suficiente para nos manter atentos até o fim da trama); o que resulta, provavelmente, no melhor filme original produzido pela Netflix até agora.

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(Divulgação/Netflix)

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