10) Peter Pan (2015)
O grande problema na adaptação de um conto infantil é o quanto ser fiel ao original (que, afinal, é querido pelo público) e o quanto divergir (para surpreender esse mesmo público). Iludido com a promessa de recontar a origem do “garoto que não queria crescer” em um trilogia (quando mal havia firmeza para um único filme), o diretor Joe Wright nunca enxergou esse equilíbrio. Seu Peter Pan é um amontoado de ideias inexplicáveis para qualquer pessoa sensata, desde a dispensa do Capitão Gancho como vilão até o uso de uma música do grupo Nirvana sem nenhum contexto com a trama e a escalação de Rooney Mara para viver uma nativa-americana. Que surpresa: foi uma bomba nas bilheterias e a tal trilogia, claro, nunca vai acontecer.
9) João e Maria: Caçadores de Bruxa (2013)
Este aqui tentou outra abordagem para ampliar as poucas páginas de um conto de fadas: um salto no tempo para mostrar o futuro dos personagens. Os irmãos, agora adultos, se tornaram caçadores de bruxa e tentam solucionar o misterioso desaparecimento de 11 crianças num vilarejo. Não chega a ser uma má ideia, mas não há grandes novidades no roteiro, nos efeitos ou na produção. Faltou brilho. (Hollywood tem planos de refazer uma versão mais tradicional de João e Maria, mas ainda não há diretor associado ao projeto)
8) Jack, O Caçador de Gigantes (2012)
Infelizmente, a maioria dos cineastas entende que, para “blockbusterizar” uma história, a única solução possível é exagerá-la. Bryan Singer (X-Men) acaba convertendo a trama de João e o Pé de Feijão num Frankenstein de clichês. Não há um único gigante, e sim um exército deles, numa guerra ancestral com a Terra. O herói não é apenas um camponês faminto, e sim um “predestinado” a liderar seu reino. Sua motivação não é apenas sair da miséria: há também uma princesa que ele precisa resgatar. E não basta haver apenas um único clímax e um único desfecho: há uns três seguidos. Singer tentou fazer uma omelete com os ovos de ouro da galinha: ficou aparentemente riquíssimo (só aparentemente), mas intragável.
7) A Garota da Capa Vermelha (2011)
Pontos positivos: foi o único live action desta lista que ousou tocar (ainda que bem sutilmente) no subtexto altamente sexual por trás da história a originou (ou você nunca tinha pensado no duplo sentido do Lobo Mau como um predador sexual que “come” a jovem Chapeuzinho?). Mas o filme não engata porque estrutura seu roteiro em torno do mistério óbvio sobre a identidade de quem era o Lobo Mau (na verdade, um “Lobisomem” Mau – e isso bem no auge da fadiga de lobisomens pós-Crepúsculo). O tom excessivamente sério e a atuação nula de Amanda Seyfried também não ajudam.
6) Espelho, Espelho Meu (2012)
Foi a grande “Batalha das Brancas”: no mesmo ano estrearam esta comédia e a superprodução Branca de Neve e o Caçador. Como sempre, a corda estourou no lado mais fraco. Com uma qualidade de produção digna de filme dos Trapalhões, este filme pelo menos tentou uma abordagem mais bem-humorada. Esquecível.
5) Cinderela (2015)
Lindo? Sem dúvida. Mas eis um caso em que o apego à tradição talvez tenha sido exagerado. Preservar a história clássica criou um diamante anacrônico: você passa quase duas horas recebendo a bizarra lição de que, se a mulher for bonita e obediente, vai encontrar sua felicidade – claro, na forma de um príncipe encantado salvador. Remakes são, por natureza, quase sempre dispensáveis, mas este daqui passa da régua.
4) Branca de Neve e o Caçador (2012)
Se você já conferiu o trailer da inesperada (e inexplicável) continuação, A Rainha de Gelo e o Caçador, que estreia em 28 de abril, talvez também tenha tido a mesma sensação que a gente. “Hum, o que aconteceu mesmo no filme anterior?” A gente só consegue se lembrar dos figurinos e dos efeitos especiais incríveis da madrasta má vivida por Charlize Theron. (Foi até fácil Charlize se destacar no filme, considerando que o casal do título era interpretado por Chris Hemsworth e Kirsten Stewart – que, juntos, tinham tanta química quanto um balde de água e 1 kg de jaca).
3) Alice no País das Maravilhas (2010)
Como pode um filme tão colorido, tão lisérgico, ao mesmo tempo parecer tão sem vida? Ainda mais unindo o mais irreverente dos clássicos infantis e um dos diretores mais originais de sua geração? No fim, esse pastiche (que também resume empoderamento feminino ao velho clichê da “salvadora predestinada”, assim como Branca de Neve e o Caçador) se tornou a verdadeira fábrica de chocolates na carreira de Tim Burton: um banquete açucarado de calorias vazias. Ainda assim, é indiscutivelmente o filme com produção mais luxuosa e convidativa nessa lista, e com o elenco mais estrelado, o que ajuda a colocá-lo numa boa posição do ranking.
2) Mogli, o Menino Lobo (2016)
Sim, o filme herda seu DNA diretamente do longa-metragem animado de 1967, que ele replica quase cena a cena (inclusive com dois momentos musicais, algo raro nessas adaptações de live action). Mas há outro genitor nessa história: a Disney nunca foi só uma exímia produtora de desenhos – ela também sempre foi boa em documentários sobre a vida selvagem. E dá para notar toda essa experiência acumulada quando macacos, lobos, tigres, elefantes e dezenas de outros bichos, todos criados em computação gráfica, desfilam pela tela com uma naturalidade típica de cada espécie. É uma ilusão perfeita, de se encher os olhos. A escalação do novato Neel Sethi como o protagonista ajuda bastante: se você pensar que, basicamente, ele estava interagindo o tempo todo com o nada, sua atuação parece ainda mais natural. A história é divertida e, diferentemente de Cinderela, segue com uma “moral” ainda válida nos dias de hoje: família é aquela que você cria com seu coração.
1) Malévola (2014)
O remake de A Bela Adormecida, desta vez sob a perspectiva da “vilã”, consegue o melhor equilíbrio entre honrar e subverter o material original. Seu único problema é que talvez esse “subverter” também mereça aspas: o roteiro jamais permite que Malévola seja 100% má, contextualizando sua índole do jeito mais óbvio possível – ela ficou má por causa de um coração partido. Ainda assim, não dá pra dizer que não é um prazer assistir Angelina Jolie num papel que parece feito especialmente para seu tipo de star power – no limite entre a figura da mãe (sua persona atual na carreira) e a da bad girl (seu arquétipo quando ela estourou em Hollywood, 15 anos atrás)