A caminhada de 35 mil km
Americano vai ficar os próximos sete anos atravessando o mundo a pé - e refazer o percurso trilhado pelos primeiros Homo sapiens.
Marcos Ricardo dos Santos
A humanidade nasceu na África, se espalhou para a Ásia, chegou à América e dominou o planeta – e fez grande parte disso a pé. Se os homens primitivos fizeram isso, por que nós não conseguiríamos? Assim pensa o americano Paul Salopek, 51 anos, que vai ficar os próximos sete anos refazendo o caminho que, segundo cientistas, teria sido percorrido pelo Homo sapiens ao colonizar a Terra. Paul começou a viagem no final de fevereiro, em uma vila na região de Herto Bouri, na Etiópia – um dos sítios arqueológicos onde foram encontrados os mais antigos fósseis de H. sapiens. De lá, ele vai até o Oriente Médio, seguindo pelo sul e pelo leste da Ásia, onde passará por lugares como a caverna Tianyuan (onde foi encontrado o fóssil de um dos primeiros humanos a usar sapatos, 40 mil anos atrás). Só para atravessar a China, serão 18 meses de caminhada. Subindo para o Norte, Salopek irá cruzar o Estreito de Bering e chegar ao Alasca. Acredita-se que a humanidade tenha feito isso, há 15 mil anos, cruzando a pé uma placa de gelo. Como ela não existe mais, Paul terá uma ajudinha, e poderá pegar um barco (essa parte, bem como a travessia do Mar Vermelho, entre o Djibouti e o Iêmen, são as únicas etapas que não serão feitas a pé). De lá, ele descerá pela costa oeste das Américas até chegar à Patagônia, em 2020.
Em cada país, Paul terá a companhia de um tradutor e/ou guia. Ele vai acampar, dormir em pequenos hotéis ou na casa das pessoas – onde também vai comer e tomar banho. A expedição é financiada pela Universidade Harvard, pela Fundação Knight e pela revista National Geographic – em cujo site (goo.gl/CoRY0) Paul irá registrar o dia a dia da viagem. Ele está levando GPS, câmera, notebook, captador de energia solar, barraca, roupas e mantimentos. Paul se preocupa com a passagem que fará pela Síria (que está em guerra civil), mas fora isso não teme encontrar violência. “Em todas as viagens que fiz, a principal característica que encontrei nas pessoas foi a generosidade”, diz.