Eduardo Sterzi
Que pode uma criatura senão, / entre criaturas, amar?” Os versos de Drummond encerram uma pergunta retórica, cuja resposta se conhece de antemão. Mas a forma como o poeta imprime às palavras uma melodia obsessiva, repetindo um vocábulo intenso como “criatura”, renova a questão, como se ele e nós ignorássemos a inevitabilidade do amor. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) inicia sua Metafísica do Amor (Martins Fontes) admitindo que os poetas sempre falaram mais e melhor sobre esse assunto do que seus colegas de filosofia. Platão, reclama o autor, deteve-se mais no amor dos gregos por rapazes, passando ao largo do amor entre homem e mulher. Já Spinoza definiu o sentimento como “uma cócega acompanhada da idéia de uma causa exterior”. O propósito de Schopenhauer é ultrapassar tais diversionismos e determinar a razão que incita a “amar e malamar, / amar, desamar, amar” – como diria Drummond um século depois. Sua hipótese, como anuncia o título, é metafísica: o ser humano é impelido ao ato amoroso por uma misteriosa “vontade de vida” que, alheia aos possíveis sofrimentos (e prazeres) do indivíduo, busca tão somente preservar a espécie.