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A revolta dos rios

A humanidade sempre preferiu morar perto da água doce, onde a terra é mais fértil e a irrigação, fácil. Mas às vezes os rios se rebelam. O resultado é uma tragédia.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 31 jan 1998, 22h00

Igor Fuser

Nenhuma região do planeta está livre desse tipo de calamidade – com exceção dos desertos, obviamente. Para uma enchente, basta existir um rio e pessoas morando nas suas margens. É inevitável. Um dia ele vai transbordar, arrastando tudo o que suas águas alcançarem.

As enchentes são especialmente temidas nos deltas férteis dos grandes rios, que abrigam enormes aglomerados de gente: o Mississipi, nos Estados Unidos, o Gânges, que depois de banhar a Índia deságua em Bangladesh, os rios Azul e

Amarelo, na China. Elas são causadas, quase sempre, pelo aumento da quantidade de chuva ou pelo derretimento abrupto das neves nas montanhas. No sul da Ásia, os ciclones multiplicam a ação nefasta das enchentes.

É difícil, muitas vezes, determinar se as enchentes são um cataclismo positivo ou negativo. As mesmas águas que destroem as casas trazem as substâncias que fertilizam o solo. No Egito antigo, as cheias do Nilo eram comemoradas em alguns anos como uma dádiva dos deuses e, em outros, como um castigo.

Oceano Mississipi

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As cheias do maior rio dos Estados Unidos, que costumam aparecer na primavera, desafiam… os esforços da engenharia de conter o ímpeto das águas com diques e barreiras

 

Cenário alemão

A bacia do Reno é uma das áreas mais alagadiças da Europa (na foto, Frankfurt)

 

Tragédia no Ganges

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O rio sagrado do hinduísmo, quando transborda, é sinônimo de destruição em Bangladesh

 

Correnteza irresistivel

O derretimento muito rápido das neves dos Alpes provoca enchentes violentas na França

 

Rotina brasileira

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Chuva alaga a cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais

Um moleque enlouquece meio planeta

Trombas d’água no Chile, queimadas na Austrália, enchentes no Peru, seca no Nordeste brasileiro. Qualquer lugar está sujeito a calamidades como essas. Mas, quando elas acontecem todas ao mesmo tempo, o culpado é sempre o mesmo: El Niño, o pandemônio climático causado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico.

Quem deu o nome de El Niño foram os pescadores peruanos, os primeiros a perceber os efeitos do fenômeno, que se manifesta perto do Natal e costuma durar um ano e meio. O Niño (menino, em espanhol) é uma referência ao nascimento de Jesus. Quando ele está em ação, os peixes desaparecem do litoral peruano e os pescadores deixam seus barcos em terra.

É que, nos anos do El Niño, os ventos alíseos ficam mais fracos, como se estivessem com preguiça de soprar. São eles que levam as águas quentes da superfície do Pacífico para o oeste, em direçao à Austrália. Em anos normais, esse deslocamento permite que as águas frias, mais fundas, subam para a superfície, ocupando o espaço vazio. A água fria, rica em nutrientes, atrai uma grande quantidade de peixes – um banquete para os pescadores e também para os pássaros, que dependem deles como comida.

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Ao inverter esse mecanismo, o El Niño provoca um efeito dominó com conseqüências em boa parte do planeta. Lugares como a Austrália, a Indonésia e as Filipinas amargam secas catastróficas, pois deixam de receber as nuvens, carregadas de chuva, que normalmente são trazidas pelos ventos alíseos. Essa chuva acaba sendo despejada nas regiões secas e desérticas do oeste da América do Sul. Isso é bom para as colheitas, mas também provoca enchentes devastadoras. O que leva o transtorno para lugares mais distantes é a mudança no mecanismo das correntes marítimas e dos ventos que, juntos, determinam o clima. Resultado: chuvas na África do Sul, tempestades na Califórnia e assim por diante.

A causa do El Niño permanece um segredo para os cientistas. Eles não sabem nem mesmo se o aumento de sua freqüência, nos últimos anos, é fruto do aquecimento global – a elevação da temperatura média do planeta por causa da poluição industrial – ou ocorre por puro acaso. Mas esperaram decifrar o enigma em pouco tempo. Muitos acham que o El Niño em curso atualmente é o mais grave desde que o fenômeno foi detectado. O certo é que será o mais estudado pela ciência.

A miséria faz da chuva uma tragédia

Uma enchente é um problema sério em qualquer lugar do planeta, mas só se torna uma calamidade grave nos países pobres do Terceiro Mundo. Compare o que acontece nos Estados Unidos e no sul da Ásia. As inundações na bacia dos rios norte-americanos Mississipi e Missouri são uma rotina quase anual. Os prejuízos são enormes mas as perdas humanas, leves. Já na Índia e em Bangladesh as enchentes mataram mais de 600 000 pessoas desde a década de 70 – a maioria delas, vítimas da fome e das epidemias. Poucos foram os afogados. A diferença reside num leque de fatores que vai desde a prevenção das enchentes, com a construção de diques, canais e reservatórios, até a rapidez do resgate. Em uma palavra: desenvolvimento.

As travessuras do El Niño

Mudança no vento afeta o oceano

Corrente marinha leva calor ao Oriente

 

Em um ano normal, os ventos alíseos, que sopram de leste para oeste, carregam as águas mais quentes da superfície do Oceano Pacífico. As águas frias emergem e trazem comida para os peixes. Há seca na costa do Peru e chuvas na Indonésia.

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El Niño quebra a cadeia do ar e da água

Nos anos do El Niño, os ventos alíseos se enfraquecem. Com isso, as correntes quentes ficam presas na costa, impedindo que as águas frias aflorem. Os peixem morrem de fome. Há enchentes no Peru e seca no Sudeste Asiático.

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