Afinal, qual é o maior rio do mundo: o Amazonas ou o Nilo?
A dúvida existe há anos, e a resposta permanece controversa: medir um rio não é tão simples quanto o Google Maps faz parecer.
Tradicionalmente, o Nilo é considerado o rio mais longo do mundo, com medições que variam entre 6.650 a 6.852 km da sua nascente mais distante no Lago Vitória até sua foz no Meditarrâneo — esse é o dado levado em consideração até hoje tanto pela Enciclopédia Britânica quanto pelo Guinness World Records, o livro dos recordes.
O Nilo Branco (o trecho do Nilo que nasce no lago Vitória, responsável por torná-lo tão longo) é muito mais comprido que o Nilo Azul (um tributário mais curto que nasce no lago Tana, na Etiópia). Os dois braços principais do Nilo se juntam na capital do Sudão, Cartum.
O problema é que há um bocado de critérios que você pode adotar na hora de medir um rio, e muitos jeitos de questionar cada um desses critérios. Isso é especialmente verdade no caso do Amazonas, que tem uma foz gigantesca, um traçado caudaloso e um montão de tributários. Como decidir qual das nascentes conta?
Andrew Johnston, um geógrafo do Museu Nacional do Ar e Espaço do Smithsonian que participou de esforços de mapeamento do Amazonas em 2000, explicou para a National Geographic em 2007 que a “boca tão larga” do rio brasileiro dificulta a tarefa de determinar o ponto exato em que ela deságua no oceano, o que torna a medição subjetiva (o Nilo, de fato, chega bem mais comportado ao mar).
Em julho de 2008, um trabalho realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no Brasil indicou que o Amazonas seria, na verdade, o rio mais extenso, alcançando impressionantes 6.992 km.
A turma que quer dar as láureas ao Amazonas defende que o rio Mantaro, localizado nos Andes peruanos, é seu tributário mais distante. Se ele for considerado, a extensão do rio sul-americano alcançaria os 7 mil km. Entretanto, a natureza sazonal do Mantaro e a presença de barragens artificiais suscitam debates sobre a viabilidade de considerá-lo parte do curso do Amazonas.
Várias expedições ao longo dos anos, como as realizadas pelo Instituto Geográfico Militar Peruano e pela Agência Nacional de Águas do Brasil, têm contribuído para uma compreensão mais clara da geografia da Bacia Amazônica. Mas a falta de um consenso sobre onde começa e termina o Amazonas continua a ser um obstáculo.
O explorador Yuri Sanada, que está liderando a expedição “Amazonas, do gelo ao mar” ao longo de 2024 — que tem como finalidade medir o gigante de uma vez por todas —, destacou a complexidade em passar a régua em um rio: “É mais uma questão de determinações do que de simples medição”, disse à BBC.
“Se você analisar um mapa de satélite, chega a uma medida. Se pegar uma régua e for pra cada reentrância do rio, medindo pela margem, você chega a outra”, ele explica à revista GQ.
A missão começará nas montanhas peruanas, onde uma equipe percorrerá o rio Mantaro em canoas, enquanto outra explorará o rio Apurímac a cavalo. As duas equipes se encontrarão mais tarde no rio Ene e, em seguida, seguirão de barco até o Amazonas.
De acordo com o geógrafo britânico Jeremy Anbleyth-Evans à BBC, “o consenso internacional entre os especialistas e a literatura científica é que o Nilo é o mais longo, embora haja certamente dúvidas e um debate sobre isso”.
Além de sua extensão, o Amazonas se destaca como o rio com o maior volume de água do planeta: são 210 mil metros cúbicos para o sul-americano vs 3.100 mil metros cúbicos de caudal para o rio agricano.
A bacia do Amazonas cobre cerca de 40% do continente sul-americano e é responsável por 20% da água doce que flui para os oceanos, despejando 224 mil metros cúbicos por segundo no Atlântico. O adversário cobre um décimo do continente africano e deságua 3.075 mil metros cúbicos por segundo no Mediterrâneo.
De qualquer maneira, o lugar de destaque que ambos os rios ocupam no mundo permanecerá inalterado. O Amazonas sempre será o pilar da região mais biodiversa do planeta, enquanto o Nilo sempre será o berço de uma das civilizações que fundou o mundo como o conhecemos.