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Alerta vermelho

Um pequeno descuido em uma usina no Japão resultou na contaminação de 49 pessoas com três casos gravíssimos. Os riscos da energia nuclear dão pouco sossego ao usuários.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 1 nov 1999, 00h00

Denis Russo Burgierman

A manhã começou banal no dia 30 de setembro na usina de processamento de Tokaimura, a 150 quilômetros de Tóquio, no Japão. Em suas instalações, o urânio bruto, usado como combustível nuclear, é purificado antes de seguir para os 51 reatores atômicos que geram 35% da eletricidade do país.

Três funcionários fizeram sua tarefa: deram um banho de ácido nítrico no urânio para dissolver suas impurezas. Cometeram só um erro. Puseram no tanque de ácido 16 quilos de mineral radioativo, sete vezes mais do que o permitido. Com isso, os nêutrons do urânio, partículas atômicas que brotam da substância em raios invisíveis, iniciaram uma reação em cadeia nunca vista na usina.

Em minutos, os três homens absorveram pela pele nêutrons suficientes para deixá-los entre a vida e a morte. “A dose foi muito alta em pouquíssimo tempo”, explica a biofísica Emiko Okuno, da Universidade de São Paulo. “Quando isso ocorre, não dá tempo de as células se recuperarem.”

No total, 49 japoneses foram afetados – 39 funcionários, 3 bombeiros e 7 moradores das redondezas. Todos correm risco de desenvolver câncer nas próximas décadas ou de terem seus filhos afetados. Os vizinhos foram contaminados pelo ar, que absorveu radioatividade na hora do bombardeio de nêutrons. A ausência de vento evitou que o veneno se espalhasse, mas, por precaução, 320 000 cidadãos, num raio de 10 quilômetros em torno da usina, tiveram que deixar suas casas por 24 horas.

A gravidade da possível tragédia resultante de um mero descuido de manuseio com combustível nuclear abala a opinião pública. Há 437 centrais atômicas em operação em 32 países, produzindo 17% da eletricidade do planeta. Para esses países, trata-se de conviver com o risco sob controle.

drusso@abril.com.br

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Algo mais

Há doze anos, foi a vez de o Brasil sofrer sua maior tragédia nuclear. Em Goiânia, 249 cidadãos foram contaminados com átomos de césio 137, radioativo, contido em aparelhos de raios X. Uma das máquinas foi parar num ferro-velho e lá ficou exposta à curiosidade dos moradores. Houve quatro mortes.

Invasor de corpos

A radioatividade causa muitos problemas nas células humanas.
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Ao atingir os seres humanos, os nêutrons quebram as moléculas de água, tornando-as eletricamente carregadas. Essa carga é nociva a várias partes do organismo porque desfaz as ligações químicas.

Células inteiras do intestino podem ser destruídas. Param de funcionar e perdem muita água. O efeito imediato é uma diarréia incontrolável. Muitas vezes mortal.

O DNA de óvulos e espermatozóides também é atacado. O resultado é que os danos são transmitidos aos descendentes das vítimas.

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Muitas células do sangue morrem e deixam de combater as infecções e transportar oxigênio.

O ar dos pulmões torna-se insuficiente, causando cansaço, dor de cabeça, falta de ar e taquicardia.

Moléculas de DNA perdem pedaços e deixam de funcionar direito. Em alguns anos, seu mecanismo de reprodução falha e as células começam a se reproduzir descontroladamente, causando câncer.

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A falha na usina de Tokaimura

Bastou um pequeno engano para causar um desastre.

A rotina

1. Os funcionários tinham que mergulhar, no máximo, 2,3 quilos de óxido de urânio no ácido nítrico, que remove as impurezas da rocha. Com isso, as reações nucleares acontecem sob controle.

2. Como a massa de urânio é pequena, os núcleos ficam muito afastados uns dos outros. Assim, mesmo quando eles emitem radioatividade na forma de nêutrons, essas partículas não acertam outros átomos e não iniciam uma reação em cadeia.

O erro

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1. Acontece que, por engano, foram jogados 16 quilos de urânio num tanque só – sete vezes acima do limite de segurança. A presença de tantos átomos juntos criou uma reação descontrolada.

2. Um nêutron escapou e havia muitos outros núcleos em volta. Assim, a partícula bateu em um vizinho, que se desestabilizou e também soltou um nêutron. O bate-bate se generalizou em microssegundos. Voaram nêutrons para todo lado.

Perdas e danos

Veja onde ocorreram as maiores tragédias nucleares.

1957 – Em Liverpool, Inglaterra, um incêndio liberou radiação que acabou matando 39 pessoas de câncer.

1957 – Uma explosão numa fábrica de bombas atômicas forçou a evacuação de 10 000 habitantes da cidade russa de Kyshtym.

1979 – Vazou o líquido que resfriava o reator de Three Mile Island, Estados Unidos. Superaquecido, ele contaminou oito funcionários.

1986 – Uma explosão no reator de Chernobyl, Ucrânia, matou 31, contaminou mais de 300 000 e envenenou ar, solo e água num raio de centenas de quilômetros.

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