E se não estivéssemos no topo da cadeia alimentar?
As possibilidades tecnológicas do ser humano seriam radicalmente reduzidas pela opressão de uma espécie superior
Qual é o rei dos animais? Exato, é você mesmo. Neste planeta, pelo menos, o maioral é o ser humano. E a principal arma que temos para nos colocar no topo da cadeia alimentar é a inteligência e a capacidade de abstração. Com elas, conseguimos estimar causas e consequências e desenvolver tecnologias cada vez mais sofisticadas de forma a compensar nosso físico, para lá de franzino.
Mas o que aconteceria se o homem, a despeito de sua inteligência, não estivesse por cima da carne seca? A única forma de isso acontecer seria se outra espécie – ainda mais inteligente – tivesse evoluído por aqui. E o resultado mais provável nós já conhecemos: extinção. Não é nem questão de ser pessimista – há precedentes na história da Terra para casos assim. Por exemplo: houve muitos milhares de anos em que Homo sapiens (nós) e Homo erectus conviveram juntos, como duas espécies distintas. Os erectus eram fantasticamente inteligentes, se comparados com os outros animais. Contudo, não tinham como competir conosco. Resultado: sumiram.
O mesmo aconteceu com o Homo floresiensis (apelidado de “hobbit”, esse homem em miniatura, com crânio pequeno, mas ferramentas sofisticadas, viveu durante muito tempo na Indonésia) e com o Homo neanderthalensis (que aparentemente era tão esperto quanto a gente, mas menos numeroso). Tudo que restou dos animais quase humanos atualmente é representado pelos chimpanzés, nossos primos mais próximos ainda vivos. O que também não é exatamente razão para otimismo. Embora sejam mais fortes e rápidos que nós, ele estão também em vias de extinção – e por nossa causa (quando não os matamos, acabamos com seu habitat, o que dá no mesmo).
Agora, suponhamos que, a despeito das dificuldades, o ser humano pudesse sobreviver, mesmo havendo uma criatura mais poderosa e inteligente que ele. Como seria a nossa vida? Em resumo, bem mais difícil. Veja alguns exemplos do tamanho do problema.
Nomadismo
Sempre sob risco de ser atacado por inimigos mais inteligentes e bem armados, seria impossível estabelecer colônias num lugar fixo. Assim, viveríamos da caça e da coleta. A agricultura jamais seria uma opção e as populações humanas seriam de alguns membros por grupo.
Restrição tecnológica
Nada complexo, que exigisse grandes esforços e muitas pessoas trabalhando, poderia ter sido criado. Estaríamos limitados a facas, espadas, machados e, na melhor das hipóteses, armas de fogo baseadas em pólvora. Mas não haveria carros, computadores, telefones e bombas atômicas. Viajar ao espaço para fugir dos malvados na Terra, então, nem pensar.
Apego religioso
Diante de situação tão adversa, os humanos provavelmente desenvolveriam uma cultura religiosa ainda mais fervorosa do que a atual. Os grupos poderiam ter seu xamã para tratar doenças e invocar proteção. O demônio seria personificado (e representado em vodus) na forma dos inimigos. Um dos pilares da fé seria a pura e simples perspectiva de sobrevivência.
Guerra de guerrilha
Sabemos bem que o homem não é de levar desaforo para a casa. Na impossibilidade de confrontar diretamente seus adversários, a única forma de combatê-los seria por táticas de guerrilha, emboscando o inimigo em seu território (mais ou menos como os vietcongues contra os americanos).
Predadores
Como uma espécie inteligente, mas inferior, o ser humano poderia ser caçado (ou criado em cativeiro) para executar trabalho escravo e servir de cobaia na condução de experimentos científicos e testes de medicamentos dos predadores. Se servíssemos de comida para eles, talvez deixássemos de existir em versão “selvagem” – viveríamos em fazendas, à espera do abate.