Eduardo Szklarz
Erro – Tentativa de melhorar a espécie humana por meio de seleção genética e controle da reprodução.
Quem – Cientistas e governantes nos EUA, na Europa e até no Brasil.
Quando – Da segunda metade do século 19, quando o conceito de eugenia foi criado, até o final dos anos 70.
Consequências – Nos EUA, na Europa e no Japão, castração forçada de negros, imigrantes, criminosos, deficientes e doentes; na Alemanha nazista, extermínio de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes e doentes.
A eugenia – tentativa de melhorar a espécie humana por meio de seleção genética e controle da reprodução – é um dos capítulos mais sinistros na história da ciência. A ideia já nasceu racista, na segunda metade do século 19, e começou a fazer vítimas entre as décadas de 1910 e 1920. Nesse período, nada menos que 30 estados americanos aprovaram leis para a castração de negros, imigrantes mexicanos, criminosos e deficientes físicos ou mentais. O mesmo aconteceu na Europa, em países como Suécia, Finlândia, Dinamarca e Noruega, e no Japão. Até no Brasil essa maluquice acabou vingando. A Sociedade Eugênica de São Paulo, fundada em 1918, defendia abertamente a necessidade de promover um “branqueamento” do povo brasileiro.
Mas foi na Alemanha nazista, antes mesmo da 2a Guerra Mundial, que o conceito de eugenia foi levado às últimas consequências. Em 1934, Adolf Hitler começou com um programa que esterilizou 400 mil deficientes, doentes mentais e epiléticos. Sete anos mais tarde, em 1941, decidiu simplesmente eliminar o que ele chamava de “raças inferiores”. Deu no que deu: mais de 6 milhões de judeus, ciganos e homossexuais trucidados nos campos de concentração.
O mais surpreendente, contudo, é que essa ideia de purificação da raça não acabou junto com o nazismo. Na Suécia, 60 mil pessoas foram esterilizadas entre 1935 e 1976, segundo dados oficiais. Na Dinamarca, 11 mil entre 1929 e 1967. A Finlândia castrou 11 mil e fez 4 mil abortos forçados entre 1945 e 1970. E o Japão, onde a lei de eugenia só foi abolida em 1996, reconhece ter esterilizado pelo menos 16,5 mil “incapazes” entre 1949 e 1994. Nos EUA, que tanto colaboraram para a derrota de Hitler na 2a Guerra, a eugenia continuou vigorando até 1979. Só na Carolina do Sul, 7,6 mil cidadãos foram esterilizados à força. Estima-se que tenham sido 60 mil no país inteiro.
Racismo acadêmico
Lá atrás, quando o movimento eugenista engatinhava, um dos que mais colocaram lenha na fogueira foi o zoólogo Charles Davenport. Para ele, a inferioridade era um traço dominante do homem. O jeito era fazer procriar os bem-nascidos e castrar a ralé. Por incrível que pareça, essa tese foi abraçada por várias universidades de ponta, como Stanford. E assim, com aval acadêmico, abriu-se o caminho para algumas das iniciativas mais racistas de que se tem notícia.