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Meditação transcendental: o que acontece no cérebro durante a prática

Um grupo de pesquisadores estudou como a atividade cerebral varia em pessoas que a praticam há mais de 30 anos

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 abr 2018, 19h16 - Publicado em 20 abr 2018, 19h16

O que acontece no cérebro quando meditamos? Essa é uma pergunta que muitos cientistas já fizeram – mas que traz consigo um problemão: como é que as pessoas vão meditar dentro de uma máquina barulhenta e aflitiva de ressonância magnética?

Um grupo de pesquisadores da Califórnia conseguiu superar esse obstáculo em um artigo recém-publicado no periódico Brain and Cognition. Eles foram os primeiros a conseguir fazer imagens do cérebro durante um tipo bem específico de prática, chamada de meditação transcendental (MT).

Se você é fã dos Beatles, provavelmente já ouviu falar nela, dada a relação dos músicos com o fundador da MT, o guru Maharishi Mahesh Yogi. Foi em parte graças à empolgação do grupo com a prática que a meditação transcendental virou moda no Ocidente (essa história toda você conhece aqui).

Mas voltando ao cérebro: os cientistas decidiram realizar o teste apenas com pessoas muito experientes na MT. Os participantes tinham uma média de 34 anos de prática, com mais de 36 mil horas de meditação realizadas. Com uma “carreira” tão longa, os voluntários conseguiram repetir sua meditação diária dentro do scanner sem grandes problemas.

O estudo, feito com uma amostra pequena, de 26 mulheres, fotografou a atividade cerebral das voluntárias em dois momentos. Primeiro, descansando de olhos fechados. A ideia era entender o padrão que o cérebro delas mantinha durante a inatividade. Aí entrava a segunda etapa, da prática de meditação transcendental por 10 minutos.

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No momento em que meditavam, os cérebros dessas mulheres mostraram um padrão bem diferente do estado de descanso. O nível de atividade aumentou em algumas regiões do cérebro, como o córtex pré-frontal dorsolateral e o córtex cingulado anterior. Por outro lado, a atividade diminuiu na região do cerebelo e da ponte do tronco cerebral.

E o que é que tudo isso quer dizer? Difícil dar um veredito definitivo. Regiões do cérebro têm uma série de funções – e é complicado determinar qual delas está associada com aquele pico específico de atividade local.

O córtex pré-frontal dorsolateral, por exemplo, está envolvido em todo tipo de atividade mental complexa. Os pesquisadores consideraram que, nesse caso, ele representa o engajamento em uma atividade focada.

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Agora, a grande importância da pesquisa foi mostrar que a meditação transcendental faz coisas que outros tipos de meditação (como mindfulness) não fazem, que é exatamente a redução da atividade no cerebelo. Essa parte do encéfalo costuma ser associada a vários comportamentos essenciais para sua vida, mas que você não controla o tempo todo, como ritmo respiratório e movimento dos músculos e dos olhos.

Já a ponte, onde a atividade também caiu, ajuda a regular pressão arterial e batimentos cardíacos – mas também é envolvida em funções mais complexas, como tomada de decisão e controle de impulsos.

Para os cientistas, isso é sinal de que a MT leva a um estado de relaxamento e “atenção sem esforço” que, por sua vez, reduz no praticante a necessidade de estar no controle (ou, pelo menos, interrompe o fluxo de avaliações cognitivas constantes que chamamos de pensamentos).

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Vale uma ressalva, no entanto: a meditação transcendental sempre se colocou como uma prática à parte do restante. Ela só pode ser ensinada por um representante certificado pela Sociedade de Meditação Transcendental, com a chancela do guru Maharishi Mahesh Yogi. O processo ensina, de forma personalizada, os mantras individuais (e secretos) de cada praticante, assim como ajusta a postura para que as sessões de meditação (que somam 40 minutos diários) sejam feitas da forma correta.

Então é bom considerar os resultados da pesquisa com cautela. Ela traz, sim, imagens inéditas e informações novas sobre a relação entre cérebro e meditação. Mas, no que se refere às interpretações dos resultados feita pelos pesquisadores, é bom aguardar pesquisas futuras antes de aceitar uma verdade conveniente como absoluta.

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