Mercadores de sangue
Mexicanos descobrem um novo motivo para cruzar a fronteira dos EUA - vender o próprio sangue
Suzanna Ferreira
Os EUA sempre tentaram dificultar ou impedir a entrada de imigrantes mexicanos no país. A não ser quando os vizinhos pobres trazem uma mercadoria valiosa. Uma rede de centros médicos espalhados na fronteira entre os dois países, nos estados do Texas, do Arizona e da Califórnia, têm recebido imigrantes vindos do México para vender o próprio sangue – e receber US$ 30 por isso. “Tem dias que a fila chega a 50 pessoas”, conta Marisela Puentes, 32, que há 3 anos vai regularmente aos EUA para vender seu sangue e com isso sustentar suas filhas, de 7 e 10 anos. Muitos entram de forma ilegal. “Há mecanismos facilitadores para a entrada desses mexicanos nos EUA. Eles precisariam ter visto de turista, mas isso nem sempre é exigido”, diz a médica Patricia Volkrow, do Instituto Nacional de Cancerologia do México.
Os centros médicos pertencem a empresas como BioLife e Talecris Biotherapeuticals, que coletam o plasma (parte líquida do sangue) e usam para fabricar remédios que tratam doenças no fígado e no sistema imunológico – e custam até US$ 40 mil por mês de tratamento. A venda de sangue é proibida no México, mas as autoridades dizem que não podem fazer nada. “Se você sair do Brasil e for até a Argentina vender alguma coisa, o seu governo não poderá impedir”, explica Victor Torras, diretor do Centro Nacional de Transfusão Sanguínea.