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Nascem os primeiros primatas clonados

Os macaquinhos Zhong Zhong e Hua Hua vieram ao mundo pela mesma técnica usada com a ovelha Dolly – e podem ser a chave para encontrar a cura de doenças

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 jan 2018, 22h28 - Publicado em 24 jan 2018, 18h07

Pela primeira vez na história, cientistas criaram clones de macaco por meio da mesma técnica que deu origem à famosa ovelha Dolly, em 1996. Zhong Zhong and Hua Hua, nascidos na China, são bebês idênticos e saudáveis da espécie Macaca fascicularis – a certidão de nascimento é um artigo científico publicado hoje na Cell. Um tem oito semanas de idade, o outro, seis.

O método de clonagem aplicado com a pioneira Dolly e os dois macaquinhos, chamado transferência nuclear de célula somática (TNCS), já foi usado para criar cópias de várias outras espécies de mamíferos nas últimas três décadas – como cães, gatos, bois e ratos.

A TNCS depende de três macacos: o primeiro, uma fêmea, doa um óvulo – que, como toda célula reprodutiva, tem só metade do material genético do indivíduo. O segundo doa uma célula somática – ou seja, uma célula comum, cujo núcleo contém todo o material genético do indivíduo.

No laboratório, os cientistas retiram o núcleo do óvulo e põem, no lugar, o núcleo da célula somática. O resultado é um óvulo com material genético completo. Esse óvulo é implantado em uma terceira fêmea, que é responsável pela gestação. Quando o bebê nasce, ele é uma cópia exata do doador da célula somática.

No papel é fácil, mas na prática é difícil. Os pesquisadores usaram como doadores de DNA tanto macacos adultos quanto fetos de macaco abortados. Com os núcleos celulares adultos foram feitos 181 embriões, implantados em 42 barrigas de aluguel primatas. Nenhum sobreviveu. Já o feto rendeu 79 embriões, que foram colocados em 21 úteros. Foi assim que nasceram os dois – e só dois – macaquinhos saudáveis.

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Essa taxa de sucesso baixa se deve ao fato de que os genes não ficam ligados permanentemente, produzindo as proteínas pelas quais são responsáveis o tempo todo. Um gene associado ao crescimento do crânio, por exemplo, só ficará ativo durante a gestação. Já um que tem a ver com crescimento dos seios nas mulheres será ativado apenas na puberdade. Quando você pega genes de um adulto e tenta transformá-los em genes de bebê, é preciso reprogramá-los, para que eles deem as instruções certas para a fase da vida em que está o embrião. Mudar o relógio interno do DNA é complicado. 

É importante destacar que, em 1999, macacos já haviam sido clonados, mas por um método diferente: cortando no meio um embrião nos primeiros dias, para dar origem a dois bebês iguais. É bacana, mas é uma versão artificial do processo que ocorre naturalmente no útero quando nascem gêmeos idênticos. Muito diferente de criar um indivíduo a partir de outro que já existe – algo que a natureza não é capaz de fazer.  

Para fins práticos, um clone é um clone, não importa como ele é gerado. Acontece que, cortando óvulos, só é possível produzir dois ou três bebês de cada vez. Com TNCS, por outro lado, dá para montar uma verdadeira fábrica de macaquinhos idênticos, que podem tornar as pesquisas biomédicas muito mais rápidas e eficientes.

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Para entender o porquê, pense em uma situação completamente hipotética, em que estejam sendo testados dois remédios para febre amarela. Se você testá-los em macacos diferentes, talvez um tenha uma propensão genética maior que o outro a combater a doença, e isso distorça as conclusões. Já se você testá-los em macacos idênticos, todas as diferenças no resultado poderão ser atribuídas com segurança absoluta aos remédios. Só aos remédios.

O experimento, feito pela Academia Chinesa de Ciências, foi recebido com entusiasmo, mas também com ressalvas. Alguns pesquisadores ocidentais comentaram a ineficácia do método – só dois nascidos entre centenas de embriões implantados. Outros, é claro, lembraram que a clonagem de primatas nos deixa um pouquinho mais perto da clonagem de humanos – que, vale lembrar, é proibida por leis internacionais.

“Agora que não há mais barreiras para clonar primatas, clonar humanos está mais próximo da realidade”, afirmou Muming Poo, um dos pesquisadores envolvidos, ao The Guardian. “Apesar disso, o objetivo da nossa pesquisa é criar modelos não-humanos para pesquisar doenças. Nós não temos nenhuma intenção de clonar humanos, a sociedade não permitiria isso.”

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