Os inimigos agora são os piratas
Como um esquema de segurança digno de presidente americano, nunca visto antes no cinema nacional, evitou que a equipe de Tropa de Elite 2 amargasse outro prejuízo milionário
Texto: Mauricio Svartman
11 milhões de pessoas assistiram ao primeiro tropa em 2007 antes da estreia nos cinemas, SEGUNDO o ibope. Em 2010, só 20 indivíduos tiveram esse privilégio.
Se, em 2007, o diretor José Padilha gastou muito tempo calculando prejuízos, 3 anos depois ele já pode dormir com os bolsos mais aliviados. As inéditas e bem-sucedidas medidas de segurança de Tropa de Elite 2 blindaram as primeiras aparições do filme e parecem ter inaugurado uma nova era no combate à pirataria no Brasil. Para essa sequência, o inspetor de polícia Sérgio Barata foi a cabeça de um planejamento digno de vinda de presidente americano ao Brasil.
“As poucas cópias piratas disponíveis são de péssima qualidade. Só conseguiram filmar após o lançamento, nas salas de projeção”, diz Barata. Mesmo assim, em cada local de lançamento havia 7 fiscais por sala. Na primeira exibição, em Paulínia (SP), um novo polo de produção cinematográfica, havia 20 convidados dentro do teatro. Os privilegiados que assistiram às primeiras cenas de um dos filmes mais aguardados do cinema nacional tiveram de deixar qualquer material de gravação na chapelaria, incluindo celular. Ninguém conseguiu contar o final do filme depois da primeira exibição – nem mostrar uma cena de ação do Bope para um colega.
Antes disso, Tropa 2 ficou sob vigilância cerrada de agentes de segurança até quando foi a Brasília, para ser mostrado ao comitê que estipula a idade mínima para alguém ser admitido no cinema para ver a obra. Também não escapou da vigilância na sala de legendagem. “Tinha gente que dormia com o filme debaixo da cama”, conta Barata. “Até no dia da entrega, quando o filme saiu da distribuidora para ir ao cinema, havia escolta policial para evitar o risco indireto. Vai que alguém resolve assaltar por acaso bem aquele caminhão. Não po-díamos correr esse risco”, diz ele.
Rodrigo Pimentel, a inspiração da vida real para o Coronel Nascimento, revelou mais detalhes da operação de segurança. “Talvez umas 6 pessoas soubessem onde ficava a ilha de edição: era em um apartamento escondido no Leblon”, afirma o ex-integrante do Bope.
Os gastos com segurança foram estimados em R$ 150 mil, custo 200 vezes mais baixo que o prejuízo do primeiro filme.
Segundo Barata, as cópias piratas de qualidade costumam ocorrer quando o filme digital é enviado para exibição nos festivais, sem qualquer preocupação com segurança. “Não finalizamos o filme em formato digital, só em película, e funcionou”, explica Padilha. “Afinal, o filme fala de corrupção. E comprar cópia pirata é, de certa forma, compactuar com a corrupção.”
Após o lançamento no cinema, as notícias de pessoas detidas ao tentar filmar Tropa de Elite 2 nas salas do Brasil começaram a aparecer. Em um shopping de Marília (SP), um jovem de 19 anos foi surpreendido por um fiscal durante a sessão e teve o celular apreendido pela Polícia Militar. Em Santos (SP), o dono de um cinema chamou a polícia após encontrar uma filmadora na mochila de um espectador. As preocupações dos donos dos estabelecimentos se justificam: cada cópia tem uma marca-dágua transparente que leva até o cinema onde ela foi filmada. “Antes havia apenas a preocupação com o camelô, era como combater a droga prendendo o viciado”, explica Sérgio Barata. “Hoje sabemos que, se os exibidores se preocuparem com 15 minutos da exibição, já eliminam a possibilidade de alguém fazer a filmagem.”
E, mesmo quando algum pirata consegue filmar, não chega a ser uma dor de cabeça tão grande para os produtores: a qualidade dessas cópias costuma ser abaixo da crítica, com som inaudível e imagens borradas. Nos camelôs, não chegou nada parecido com a versão pirata de Tropa 1, copiada direto de um dvd da produção. Colocaram a faca na caveira da pirataria. Isso, porém, não aconteceu só no caso de Tropa de Elite 2. Toda a indústria do cinema está mais cautelosa. Resultado: hoje a oferta de grandes produções nos camelôs e na internet é menor do que já foi. Mas isso só vale para filmes que ainda não saíram em dvd. Quando os discos chegam, é impossível frear a pirataria – ainda não criaram uma tecnologia realmente capaz de impedir que os dvds sejam copiados por criminosos. E o que continua firme, claro, é a demanda: se você escreve Tropa de Elite 2 no Google, os resultados mais frequentes são “Tropa de Elite 2 download” e “Tropa de Elite 2 online”. A guerra está longe de terminar.