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Por que palhaços dão medo?

Os Bozos espalhados por aí ativam nosso "detector de bizarrice" - o que, evolutivamente, é uma ótimo mecanismo de defesa

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 7 dez 2018, 17h56 - Publicado em 30 set 2016, 19h45

Levar uma criança ao circo é uma aposta arriscada: não tem como garantir que a diversão inocente não vá virar um show de horror. A coulrofobia, ou o medo de palhaços, é uma das fobias mais comuns e pode ser carregada da infância até a vida adulta. Mas o que naqueles sapatos enormes, narizes vermelhos e olhos arregalados causa um incômodo tão grande na gente?

O psicólogo Frank McAndrew, professor da Knox College, decidiu investigar. Em primeiro lugar, ele levanta o histórico do “palhaço do mal”. A ideia do bufão amaldiçoado de A Coisa, de Stephen King, começou com um serial killer.

Nos anos 1970, a polícia descobriu os corpos de 33 vítimas do Palhaço Pogo, apelido de John Wayne Gacy, que trabalhava em festas infantis aos fins de semana. Aí o palhaço assassino entrou para o folclore.

Só que crianças já sentem medo de palhaços muito antes de terem idade para assistir a filmes de terror. Daí a ideia de McAndrew de que a origem desse pavor é muito mais instintiva. O psicólogo realizou, em 2016, um estudo chamado On The Nature of Creepiness, no qual ele se aprofunda no conceito de “creepy”, característica em inglês que atribuímos para pessoas esquisitas e perturbadoras, que nos causam um certo incômodo.

A pesquisa não era sobre palhaços, mas os dois assuntos se cruzaram muitas vezes. Em primeiro lugar, durante o estudo, McAndrew pediu que 1.341 pessoas classificassem as profissões mais creepy. Palhaços foram os campeões disparados.

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Além disso, elas elencaram as características – físicas e comportamentais – mais perturbadoras. Como resultado, os pesquisadores descobriram que homens são mais propensos a ser considerados esquisitos do que as mulheres. Primeira coincidência, já que também há mais palhaços do sexo masculino do que do feminino.

Outras características que se destacaram foram olhos arregalados, sorrisos estranhos e dedos muito compridos. Mas nenhum desses aspectos, sozinho, era a origem daquela inquietação que sentimos perto de alguém creepy.

O buraco, segundo McAndrew, é mais embaixo: o que nos perturba nessas pessoas é sua imprevisibilidade. Uma pessoa creepy não é exatamente assustadora – e por isso, seria mal-educado simplesmente fugir dela. Mas nossa intuição ainda sente que pode ter uma ameaça ali. É essa incerteza que gera aquele incômodo difícil de definir.

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Quer um belo exemplo de alguém com um comportamento imprevisível? Uma dica: maquiagem branca, peruca e um bocão. Ser voluntário de uma brincadeira com um palhaço é a maior armadilha. Você não consegue antecipar o que virá. Pior: sabe que não tem direito de se ofender se não gostar da piada ou da torta na cara.

Para completar o cenário, a maquiagem e a fantasia te impedem de ler as intenções e os sentimentos reais do palhaço. Aí seu detector de creepiness dispara e você prefere ficar bem longe daquilo – independentemente da idade que tenha.

O fato desse fenômeno aparecer desde muito cedo e continuar na vida adulta indica uma possível explicação evolutiva para o medo de pessoas com comportamento ambíguo e emoções difíceis de ler. O incômodo seria uma reação que nos mantém alertas perante ameaças que não conseguimos avaliar com precisão. Se aquela pessoa estranha acabar sendo inofensiva, não desperdiçamos energia fugindo, mas também não relaxamos completamente.

Da próxima vez que você der dois passos para longe de Patati Patatá em uma festa infantil, não pense nisso como covardia: pode ser que esse mesmo medo tenha salvado a vida dos seus antepassados lá atrás.

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