Clique e Assine SUPER por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Turistas no Lago Ness: Em busca do monstro perdido

Um projeto encanta os turistas e facilita a vida dos cientistas que estudam o Lago Ness, no norte da Escócia. O sucesso das viagens de submarino ao fundo do lago onde viveria a mais procurada criatura do mundo reaquece a lenda que desafia a ciência; ainda, a descoberta da fraude na fotografia do monstro feita em 1934.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 31 Maio 1994, 22h00

Thereza Venturoli

Um projeto encanta os turistas e facilita a vida dos cientistas que estudam o Lago Ness, no norte da Escócia. O sucesso das viagens de submarino ao fundo do lago onde viveria a mais procurada criatura do mundo reaquece a lenda que desafia a ciência.

Um novo submarino, com 10 metros de comprimento e pesando 24 toneladas é o mais novo recurso usado na caça à lenda mais famosa do mundo, o incrível monstro Nessie — um animal gigantesco que milhares de pessoas afirmam ter visto nas águas escuras do Lago Ness no norte da Escócia. Construído no Canadá, o submarino é capaz de mergulhar a 230 metros de profundidade levando até seis pessoas.

Este não é o primeiro submersível a vasculhar o lago escocês mas, diferentemente dos anteriores, seus passageiros são, a maior parte do tempo, turistas e curiosos dispostos a pagar cerca de 100 dólares por uma hora de divertida caçada mitológica. Só na primeira semana, de acordo com os organizadores, cerca de 500 pessoas fizeram reserva. Essas excursões têm um objetivo nobre: o dinheiro arrecadado é usado para financiar um projeto do Centro de Pesquisa sobre o Monstro do Lago Ness. Além do dinheiro, entre uma viagem e outra, o submarino desce para coletar amostras do fundo do lago que servirão para estudar a história e a idade geológica da região — daí seu apelido de Máquina de Volta ao Passado. Os cientistas garantem que não estão atrás de Nessie. Mas, como o nome do centro de pesquisa indica, nenhum deles deve ficar infeliz se topar com ele.

Nessie, aliás, é o maior beneficiado pelo projeto: depois de ter sua credibilidade seriamente comprometida com a descoberta de uma fraude vergonhosa, a lenda parece mais viva do que nunca, “ressuscitada” pelo sucesso das excursões. A farsa era uma fotografia batida em 1934 pelo ginecologista inglês Robert Wilson, considerada uma das provas mais “contundentes” da existência da fantástica criatura. A imagem do dorso, do longo pescoço e da pequena cabeça do que parece ser uma espécie de dinossauro semi-submerso tinha tudo para convencer até os mais incrédulos — e convenceu, por longos sessenta anos. Os peritos atestaram: a foto era autêntica. Era o que se pensava até o final de 1993, quando Christopher Spurling confessou que a figura era um boneco sobre uma bóia, construído por ele mesmo. O trote fora encomendado por seu padrasto, o cineasta Duke Wetherell, como vingança contra o jornal inglês Daily Mirror, que o despedira.

Continua após a publicidade

Apesar de abalada, a credibilidade de Nessie não foi destruída. Afinal, o monstro existe — ainda que só em fantasia — há quase 1 430 anos. Consta que a primeira aparição aconteceu no ano 565, quando o missionário irlan-dês Columba salvou um de seus discípulos das garras de uma gigantesca serpente surgida das águas escuras do lago. Mas foi a partir de 1933 que Nessie perdeu a timidez e passou a se mostrar mais. Há quem diga que o monstro foi acordado pelas explosões de dinamite na abertura da estrada que liga a cidade de Inverness a Fort Augustus, nos extremos do lago. Ao todo, calcula-se que tenha sido visto por mais de 4 000 testemunhas, muitas delas com séria reputação a zelar e, por isso, consideradas fidedignas, como monges, oficiais da Marinha e até mesmo cientistas.

Boa parte dos relatos coincide em pelo menos alguns pontos: Nessie é vermelho-escuro, de pele brilhante e mede entre 8 e 9 metros de comprimento — uma descrição que leva a várias interpretações. A hipótese mais cotada é a de que seria um plesiossauro — uma espécie de dinossauro aquático. Seja a espécie de animal que for, uma coisa é certa: para perpetuar-se por mais de quatorze séculos teriam de existir pelo menos vinte monstros. O Lago Ness — o maior da Escócia, com cerca de 37 quilômetros de comprimento, 1,5 quilômetro de largura e 240 metros de profundidade média — oferece todas as condições para isso. Os grandes salmões e trutas que povoam as águas representam abundantes petiscos e o fundo rochoso tem pelo menos uma profunda caverna, ideal para abrigar uma família inteira de Nessies.

Todas as pesquisas baseiam-se nesse tipo de suposição, nos testemunhos e em dezenas de fotos e filmes. Pelo menos até que se prove que são falsos, isso é matéria-prima suficiente para dezenas de expedições científicas em busca do monstro. Na década de 70, por exemplo, sérias instituições americanas, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts e a Fundação Smithsonian vasculharam as águas do lago, sob o patrocínio do não menos sério jornal New York Times. Em 1987, 24 barcos “varreram” com sonares toda a área do lago, numa aventura que custou nada menos que 1,6 milhão de dólares aos patrocinadores. A melhor conclusão a que os pesquisadores chegaram foi a de que existe algo muito grande e estranho nadando lá embaixo. “Poderia ser uma espécie de esturjão do Báltico — um peixe que pode medir 3 metros de comprimento e pesar 200 quilos”, afirma Adrian Shine, encarregado das operações de pesquisa do novo subma-rino que percorre o lago. A opinião não é de estranhar. Preocupados em não arranhar a reputação, os cientistas sempre dizem que ninguém está atrás de Nessie. É assim, também, com o Projeto Urquhart, do Museu de História Natural de Londres, que começou em 1992 a estudar o ecossistema do Lago Ness.

A equipe já levantou, no fundo do lago, pelo menos 28 tipos de vermes nematóides, medindo de 2 milímetros a 1 centímetro de comprimento. Os nematóides estão entre os animais mais abundantes da Terra, representando entre 8% e 9% de toda a fauna do planeta. E Nessie, cadê? “Sobre isso, não tenho nada a comentar”, foi a resposta de John Lambshead, um dos líderes da pesquisa do museu londrino, a SUPERINTERESSANTE. Com comentário ou sem comentário, o fato é que as caçadas se sucedem, ano a ano. E Nessie vai sobrevivendo, de polêmica em polêmica, há quatorze séculos, atraindo cer- ca de 600 000 turistas a cada ano para a região do lago. A última e definitiva prova da existência de Nessie é a lei escocesa que, desde 1933, protege a fantástica criatura: nenhuma pessoa ou instituição pode capturá-la ou feri-la. E depois vêm dizer que não existe, ora. Lei é lei.

Continua após a publicidade

Para saber mais

Miragens do Ártico

(SUPER número 8, ano 3)

Erros, fraudes e intrigas

Continua após a publicidade

(SUPER número 2, ano 8)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 14,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.