5 filmes de 2019 para entender racismo
De "Pantera Negra" a "Se a Rua Beale Falasse", eles abordam temas como discriminação, diversidade cultural e representatividade.
Desde a primeira edição do Oscar, em 1929, apenas seis diretores negros foram indicados ao prêmio de Melhor Diretor – o primeiro deles, somente em 1991. Jordan Peele, indicado em 2018 por Corra!, tornou-se, naquele ano, o único na história a levar o troféu de Melhor Roteiro Original.
Em 2016, a questão da representatividade no Oscar atingiu o ápice com o movimento que ficou conhecido como #OscarsSoWhite (“#OscarTãoBranco”, em inglês). Surgido na internet, ele pedia por mais diversidade na premiação, já que, na edição daquele ano, todos os vinte indicados nas categorias de atuação eram brancos – o mesmo havia acontecido em 2015.
A Academia respondeu com uma mudança nas regras de votação, a fim de incluir mais diversidade entre os votantes. Até 2016, dos mais de 6 mil membros que escolhiam os vencedores do Oscar, 75% eram homens e 92%, brancos. A transformação, apesar de lenta, rendeu resultados: novos membros de diversas etnias entraram, e a vitória de Moonlight em 2018 (drama que acompanha as fases da vida de um jovem negro e homossexual) pode ser vista como um dos efeitos de toda essa discussão.
Oscar 2019
A edição do prêmio no ano passado trouxe cinco produções nas quais temas como racismo, representatividade, discriminação e desigualdade social aparecem em algum nível. Para Celso Prudente, professor, cineasta e curador da Mostra Internacional de Cinema Negro, isso pode ser um reflexo da chamada “era de consciência da diversidade”, pela qual o cinema dos EUA está passando.
“Nessa era, as minorias fazem uma espécie de revolução da auto-imagem”, explica. De acordo com ele, a tendência é que grupos como negros, mulheres, LGBTs e demais minorias não sejam apenas um objeto no cinema, mas que eles comecem a filmar a si próprios, assumindo o controle e a visão das narrativas. “O cinema negro vem do cinema crítico, que denuncia a opressão vivenciada pelas pessoas vulneráveis”.
Pantera Negra
Onde assistir: Google Play, Now e YouTube
Pantera Negra é um dos poucos filmes de super-herói que se sobressai a este rótulo. É claro, você pode apenas interpretá-lo como apenas uma aventura do bem contra o mal, ambientada no reino fictício de Wakanda, mas fica o aviso: esta é apenas uma das diversas camadas deste filme da Marvel.
“Você tem filmes de super-heróis que são dramas ou comédias de ação, mas Pantera Negra lida com questões de descendência africana”, disse o diretor Ryan Coogler à revista Time. A produção do longa se inspirou em diversas comunidades da África para criar as roupas dos povos que aparecem em tela, trabalho reconhecido nas indicações ao Oscar de figurino e design de produção.
A história do Rei T’Challa virou um fenômeno nos Estados Unidos. A atriz Octavia Spencer, assim como outros artistas de lá, comprou uma sessão inteira para que crianças negras carentes pudessem conferir o filme. Além disso, a Disney, distribuidora do longa, organizou sessões gratuitas em janeiro de 2019, em comemoração ao Mês da História Negra. Pantera Negra, certamente, merece ser visto.
Infiltrado na Klan
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Em 1978, um policial negro consegue se infiltrar na Ku Klux Klan, organização dos EUA que defende a supremacia branca – racistas, em bom português. Parece uma história inventada, ao estilo dos filmes de Quentin Tarantino, mas acredite, é real.
Infiltrado na Klan é mais um trabalho do diretor Spike Lee, conhecido pelos seus filmes que abordam a cultura e o movimento negro. De acordo com alguns críticos, o longa merecia o Oscar daquele ano tanto pelo tema abordado quanto pelo histórico do cineasta. Lanre Bakare, do The Guardian, escreveu: “[Com Infiltrado na Klan,] Lee não apenas apresentou uma lição oportuna sobre como a história se repete, mas também mostrou por que ele é um dos poucos verdadeiros heróis cinematográficos que operam hoje.”
Lee acabou levando o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado. Vale dizer que, no dia 12 de junho, seu próximo filme, Destacamento Blood, estreia na Netflix. Veja trailer aqui.
Green Book – O Guia
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Sul dos Estados Unidos, 1962. O pianista negro Don Shirley roda o país em uma turnê acompanhado do seu chofer/guarda costas Tony Vallelonga, descendente de italianos. Durante a viagem, eles utilizam o livro verde que dá título ao filme, um guia da época que ajudava a encontrar hotéis, restaurantes e demais estabelecimentos onde negros eram aceitos normalmente.
Pois é. Até meados dos anos 1960, a segregação racial era institucionalizada nos EUA, e Green Book é mais um dos filmes que retrata esse período. Com boas atuações e um roteiro que alterna entre a comédia e o drama, o longa venceu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali) do Oscar 2019.
Se a Rua Beale Falasse
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Baseado no livro homônimo do escritor James Baldwin, Se a Rua Beale Falasse acompanha a história de Tish, uma jovem negra que, nos anos 1970, luta para provar a inocência do namorado, Fonny, preso injustamente pela polícia de Nova York.
O filme é o terceiro trabalho de Barry Jenkins, que também dirigiu Moonlight, vencedor do ano passado, e é um sensível relato sobre como a discriminação e a violência policial pode impactar uma família. Helen O’Hara, crítica de cinema da revista Empire, ressalta a valorização que Jenkins faz de seus personagens: “É um filme lindo, mas pesado também. Ele humaniza os homens negros de uma forma que a mídia, muitas vezes, não faz.”
Rua Beale não veio com a mesma força que o seu antecessor e concorreu em apenas três categorias (atriz coadjuvante, roteiro adaptado e trilha sonora), mas tinha mérito suficiente para ficar com uma das vagas que sobraram para Melhor Filme. Regina King levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante.
Black Sheep
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Este documentário, produzido pelo jornal The Guardian, concorreu ao prêmio de Melhor Documentário em Curta-Metragem. Em 25 minutos, é possível acompanhar a história do jovem Cornelius. Quando criança, ele presenciou um brutal assassinato de outro jovem negro. Assustada com o fato, sua família decide se mudar de Londres para uma pequena cidade no interior da Inglaterra, a fim de escapar da violência.
No entanto, o que eles encontram ao chegarem é uma sociedade extremamente racista, na qual a discriminação está intrínseca desde cedo nas crianças de lá. Black Sheep, narrado em primeira pessoa, fala de uma maneira crua e direta sobre preconceito, aceitação e sobre como é preciso se adaptar para sobreviver em um ambiente hostil.