A atriz Audrey Hepburn atuou como espiã na 2ª Guerra Mundial
A adolescente Audrey Hepburn usou seu charme e seu talento como bailarina para ajudar a resistência antinazista. Entenda como.

Audrey Hepburn foi uma das atrizes mais importantes da história do cinema. Durante as décadas de 1950 e 1960, essa artista britânica nascida na Bélgica estrelou alguns dos maiores (e melhores) filmes de Hollywood, como Bonequinha de Luxo e Charada.
Menos de uma década antes do filme que a alçou ao estrelato, A Princesa e o Plebeu (1953), Hepburn usou seus talentos artísticos para ser uma espiã e trabalhar na resistência dos Aliados contra os nazistas durante a 2ª Guerra Mundial.
Hepburn, que nasceu em 1929, não era nem adolescente quando o conflito estourou em 1939. Sua mãe, a baronesa holandesa Ella van Heemstra, se mudou com ela para a cidade de Arnhem, na Holanda. Ela esperava que os Países Baixos se mantivessem neutros, como na 1ª Guerra, o que diminuiria as chances de um ataque alemão.
Não foi o que aconteceu. Em 1940, Hitler invadiu os Países Baixos, e a segurança que van Heemstra buscava num país neutro não se concretizou. Acontece que a própria baronesa não era neutra. Ela e o pai de Hepburn, um empresário britânico-austríaco que abandonou a família quando a filha tinha 6 anos, eram fascinados pelas ideias de Oswald Mosley, o líder da União Britânica de Fascistas.
A mãe de Hepburn chegou a escrever um artigo para o jornal dessa organização antissemita, enumerando as “glórias” do regime nazista na Alemanha. Anos depois, como conta uma reportagem da BBC, a atriz contou que nunca perdoou a mãe por seus ideais fascistas. Assim que conseguiu, Audrey Hepburn tomou uma decisão diferente e se reuniu à resistência antifascista.
Balé da resistência
Quando mudaram para a Holanda, nos últimos meses de 1939, Hepburn foi matriculada numa escola de dança sob o nome “Adriaantje van Heemstra” (o sobrenome pelo qual ela ficou conhecida era do pai, e ela só o adotou quando começou a atuar). Ela tinha dez anos, não falava holandês e não tinha amigas.
A comida e as roupas que abasteciam os soldados do Eixo na Frente Oriental da guerra vinha, em parte, da população da Holanda e de outros países ocupados. Mesmo a família de Hepburn, que era rica e privilegiada, passou fome durante a ocupação.
O tio de Hepburn, o conde Otto van Limburg Stirum, se posicionou contra os nazistas. Depois que um grupo da resistência antinazista tentou – e não conseguiu – explodir um trem alemão perto de Roterdã, Stirum foi preso mesmo sem estar envolvido no atentado.
O conde foi morto pelos soldados alemães ao lado de quatro outros membros da resistência. Hepburn, que amava muito o tio, ficou desolada. O país, que via Stirum como uma figura importante, começou a se mobilizar mais ainda contra os nazistas.
Quando Hepburn fez 15 anos, em maio de 1944, ela recebeu ordens para se juntar ao sindicato dos artistas dos nazistas ou desistir de se apresentar publicamente. Ela desistiu de se apresentar, mas começou a organizar recitais clandestinos, numa casa com persianas fechadas e um piano tocado delicadamente. Sem aplausos, o dinheiro arrecadado pelas apresentações era revertido para a resistência.
Espiã fora do cinema
Em 1944, Hepburn também se ofereceu para ser assistente de Hendrik Visser ‘t Hooft, um médico que era membro da resistência. Ele a contratou apesar da reputação da baronesa van Heemstra de colaboradora dos alemães, porque precisava desesperadamente de ajuda para cuidar de quem fugia dos nazistas.
Em setembro de 1944, os Aliados iniciaram uma operação para tomar nove pontes sobre o rio Reno. A batalha aconteceu perto da casa de Hepburn, e ela e a família precisaram se esconder no porão durante nove dias. Os soldados do Eixo venceram a batalha.
Depois desse episódio, Hepburn recebeu uma missão de espionagem de Hooft. Alguns aviadores aliados que voavam até a Alemanha precisaram fazer pousos de emergência na Holanda. A jovem foi encontrar um paraquedista britânico no meio da floresta com palavras-código e uma mensagem na meia.
Depois que ela saiu da floresta, a garota teve um encontro com a polícia holandesa, mas conseguiu despistá-los e encantá-los quando se abaixou para colher flores e dar aos policiais.
A estratégia deu certo, e Hepburn começou a ser responsável por levar mensagens para a resistência com cada vez mais frequência. As crianças eram muito usadas como mensageiras, já que os soldados alemães não desconfiavam delas.
Em 1945, Hepburn e sua família precisaram se esconder de novo no porão, mas dessa vez por três semanas. Por causa da escassez de comida, a garota ficou doente com anemia, icterícia e edemas. Até que um dia, trancafiada lá embaixo, ela sentiu cheiro de tabaco, que não podia ser obtido na Holanda ocupada.
Ela subiu para a casa e encontrou cinco soldados canadenses fumando e apontando as armas para ela. Logo que começou a falar em inglês, os soldados abaixaram as armas. Havia acabado a guerra para Audrey Hepburn.
Ela ganhou uma bolsa de estudos para continuar o caminho no balé em Londres, mas a desnutrição dos tempos de guerra fez um estrago que a impediu de ser bailarina profissional. Por causa disso, ela se voltou para o teatro.
Depois que Hepburn foi indicada ao Oscar de melhor atriz cinco vezes e se aposentou do cinema, ela trabalhou como embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Ela relacionou o ímpeto de fazer caridade à experiência de receber auxílio internacional depois da ocupação alemã da Holanda.