A melhor paródia da vida de Jesus no cinema
Os comediantes do Porta dos Fundos não eram nem nascidos quando “A Vida de Brian” escandalizou o mundo – e fez muita gente rir também.
Se o Monty Python ainda estivesse na ativa, é provável que fizesse uma paródia da vida de Maomé – e tivesse de sumir do mapa por causa disso. Mas, em A Vida de Brian (1979), esse grupo de humoristas britânicos, com um orçamento magro, aproveitou sobras de estúdio da produção Jesus de Nazaré (1977), na Tunísia, para fazer um filme tirando sarro da tradição envolvendo a narrativa dos Evangelhos. Ou quase isso.
Brian Cohen (Graham Chapman) é um contemporâneo de Jesus que acaba confundido com um profeta. Só que Brian não tem nada de santo, embora sua vida seja um paralelo escrachado da de Cristo: é reverenciado como um messias, perseguido pelas autoridades romanas e condenado a morrer na cruz – o que rende uma sequência musical hilária, com um grupo de crucificados, à beira da morte, cantando e assobiando o bordão “Sempre veja o lado bom da vida”.
O longa-metragem seria produzido pela EMI, mas a companhia tirou o time de campo assim que pôs os olhos no roteiro blasfemo. A Vida de Brian só chegou às telas porque contou com um mecenas famoso: o beatle George Harrison, grande fã do grupo. Quando perguntado por que tinha desembolsado milhões para a produção de uma comédia, George respondeu: “porque eu tinha vontade de ir vê-la”. Os Python não perderam a piada: responderam que, então, esse era o ingresso de cinema mais caro da história.
Messias bastardo
Em contraponto à imagem de uma Maria sem mácula, a mãe de Brian (interpretada por um homem, Terry Jones, também diretor do filme) admite para o filho que o concebeu ao transar com um centurião romano, iludida pelas vantagens que isso traria. Como o rapaz decide ingressar num grupo revolucionário judeu contra a opressão de Roma, essa revelação tem um quê de Luke Skywalker descobrindo ser filho do Darth Vader – e com uma mãe de infernizar qualquer um.
Essa personagem, aliás, rouba a cena em diversas passagens do filme. Reproduzindo o estereótipo da mãe judia que só reclama do filho, ela protagoniza uma das sequências mais engraçadas da paródia, logo no comecinho, quando os reis magos chegam à sua casa para reverenciar um recém-nascido Brian – isso porque erraram o endereço da manjedoura sagrada (José e Maria são vizinhos próximos dos Cohen). De início, ela repudia a visita inconveniente, na madrugada, achando que os três estariam bêbados por insistir que seu filho seria “o rei dos judeus”.
Mãe de Brian: “Vão saudar o pirralho de outra pessoa!” / Reis magos: “Fomos guiados por uma estrela.” / Mãe de Brian: “Guiados por birita, isso sim!”
Ela só muda de atitude quando descobre que eles querem presentear o bebê com ouro e incenso. “Mas não precisam trazer essa mirra da próxima vez”, resmunga, sem entender que se trata de um bálsamo.
Com um sacrilégio atrás do outro, não podia ser diferente: os Python foram acusados de blasfêmia. Tantas entidades cristãs, de diferentes tendências, se manifestaram contra o filme que o ator John Cleese comentou: “Foi a primeira vez que elas se uniram em 2.000 anos”.
A ousadia do enredo fez com que A Vida de Brian fosse proibido em vários países. Na Noruega, o veto durou um ano, uma censura que serviu de mote para o marketing irônico do longa na Suécia: “o filme é tão divertido que foi banido na Noruega” (os dois países têm uma rivalidade histórica, que vem, pelo menos, desde o século 16).
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Mas a polêmica toda ficou no passado: agora você encontra A Vida de Brian no catálogo da Netflix.