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A SUPER indica: 5 filmes sobre distúrbios mentais

O que une esses filmaços são personagens que sofrem com transtornos psiquiátricos. Ou que, por causa deles, fazem outras pessoas sofrerem.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 16 ago 2022, 12h17 - Publicado em 12 ago 2022, 17h13

Homens e mulheres com múltiplas personalidades, fobias extremas, Síndrome de Asperger, depressão… ou que não registram na memória acontecimentos de curto prazo. Selecionamos filmes que tratam de transtornos da mente com inteligência e poder de entretenimento. Você não vai desgrudar os olhos da tela. 

FRAGMENTADO

Direção: M. Night Shyamalan

Personagem do filme Fragmentado sorrindo.
(Universal Pictures/Reprodução)

Três garotas são raptadas por um homem misterioso (James McAvoy) e presas no subsolo de um local desconhecido. Quando ele surge no cárcere, é como um indivíduo de camisa abotoada até o pescoço, que sofre de um tipo de TOC com limpeza e tem obsessão sexual por adolescentes. A possibilidade de estupro logo passa pela cabeça das meninas. Porém, quando volta a visitá-las, o sujeito está vestido com saia e sapato de salto, e fala como uma governanta de sotaque britânico. Na vez seguinte, se comunica como um moleque de 9 anos, fã do Kanye West. 

(Assista ao trailer aqui.)

As jovens, assim como o espectador, logo entendem que o bandido sofre de algum problema mental, que se manifesta em múltiplas personalidades. E ficamos sabendo pela médica dele que se trata de um transtorno dissociativo de identidade. No RG, o nome desse homem é Kevin. Mas o distúrbio faz com que se apresente com muitos outros nomes. São 23 personalidades diferentes – embora só oito delas apareçam no filme.

O caso psiquiátrico do vilão existe de verdade – está listado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –, embora não haja essa tendência à violência como na tela. A maioria dos diagnosticados tenta esconder sua condição. 

Já no cinema, há um precedente interessante. As Três Máscaras de Eva (1957) é baseado na doença de uma mulher chamada Chris Sizemore. Quando ela vendeu os direitos para que filmassem sua história, o estúdio exigiu três assinaturas no contrato: de cada uma de suas personalidades. Afinal, uma delas podia não aceitar o acordo. 

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REPULSA AO SEXO

Direção: Roman Polanski

Personagem do filme Repulsa ao Sexo atravessando corredor cheio de mãos saindo das paredes.
(Compton Films/Reprodução)

No começo da carreira, o diretor Roman Polanski criou uma trilogia de terror, associando a solidão em um apartamento à tortura mental autoimposta. Repulsa ao Sexo foi o primeiro filme dessa sequência – depois viriam O Bebê de Rosemary (1968) e O Inquilino (1976). Também foi o primeiro a transformar em grande arte um caso de fobia sexual – distúrbio que provoca repulsa, ansiedade descontrolada e medo até de pensar em relações sexuais. 

(Assista ao trailer aqui – em inglês.)

Carol (Catherine Deneuve) é uma manicure tímida, que veio da Bélgica e mora com a irmã em Londres. Apesar de muito atraente, ela prefere viver reclusa, sente-se desconfortável na convivência com homens e tem nojo de simplesmente encostar em qualquer pertence masculino. Quando o namorado de sua irmã deixa a escova de dentes no seu banheiro, ela retira o objeto como quem tem de tocar num rato morto. 

Logo vamos descobrir que Carol sofre ataques de pânico em situações que remetam a sexo. Como ao ouvir a irmã transando no quarto ao lado. Seu quadro, que já era delicado, acaba se mostrando irrecuperável quando ela fica sozinha no apartamento claustrofóbico – e a inquietação decai para a insanidade.

O melhor de um filme com tantos acertos é a forma como o diretor polonês filma essa desintegração mental: ele constrói um universo surrealista que coloca o espectador dentro do pesadelo íntimo da personagem: o terror vai envolvendo aos poucos, e as imagens são expressionistas, distorcidas de propósito. Escolhas que cumprem com o intento de refletir uma consciência torturada. 

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CLUBE DA LUTA

Direção: David Fincher 

Cena do filme Clube da Luta com os dois personagens principais no metrô.
(20th Century Fox/Reprodução)

“A televisão nos fez acreditar que um dia seríamos milionários, deuses do cinema e astros do rock. Mas não seremos”, afirma o brigão Tyler Durden (Brad Pitt). Claro, o que a maioria consegue são trabalhos chatos, repetitivos e mal pagos. Essa rotina corporativa atormenta seu amigo, o personagem narrador (Edward Norton), que não tem seu nome mencionado no filme. 

Os dois se unem no ódio contra a sociedade de consumo, embora seja Tyler o profeta desse inconformismo: “Para se ter liberdade completa, recomendo uma vida caótica”.

(Assista ao trailer aqui.)

A amizade dos dois começa de um jeito improvável. O narrador tem insônia e resolve frequentar grupos de autoajuda. Até que descobre uma válvula de escape formando, com o novo amigo, um clube em que os “sócios” se juntam tão somente para socar a cara um do outro. Sua primeira regra vai ao encontro da negação da publicidade, tão valiosa ao capitalismo: “é proibido falar sobre o Clube da Luta”. 

Mas aos poucos o espectador recolhe pistas de que o enredo não é só manifesto antissistema. Por trás da ação, há um distúrbio de ansiedade que permeia os acontecimentos. 

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Uma dica é prestar atenção à dualidade dos protagonistas. Até conhecer Tyler, o narrador é o cidadão certinho, que agoniza num emprego aborrecido. O amigo é o seu oposto: anárquico, o que abraça a marginalidade sem medo de nada. A fusão dessas duas personalidades está na essência desse retrato – alucinado – da autoafirmação masculina, tentando sair do seu cubículo no escritório.

 

MARY E MAX: UMA AMIZADE DIFERENTE

Direção: Adam Elliot

Personagem do filme Mary e Max cheia de selos postais.
(Icon Entertainment/Reprodução)

Tire as crianças da sala. Esta animação sobre amizade tem alcoolismo, depressão e até uma tentativa de suicídio. O primeiro som é o de um narrador descrevendo a personagem principal: “Mary Daisy Dinkle tinha os olhos da cor de poças de lama e uma marca de nascença da cor de cocô”.

Pense na baixa autoestima dessa menina de 8 anos, sem amigos, que mora com os pais alcoólatras na Austrália. Ela ainda ouve da mãe que nasceu por acidente. Por acidente? Mary então pergunta ao avô como bebês são fabricados. “Eles brotam no fundo de canecas de cerveja” é a resposta. Intrigada, a menina resolve checar se é assim no mundo todo. E decide escrever uma carta a um desconhecido do outro lado do mundo: Nova York. Quer saber se, num país em que todos se entopem de refrigerante, bebês surgem no fundo dessas latinhas.

(Assista ao trailer aqui.)

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Seu destinatário é um quarentão judeu, Max Horovitz (dublado por Philip Seymour-Hoffman). Assim como Mary, ele é um solitário, tem sobrepeso e adora chocolate. As coincidências geram empatia, e os dois passam a trocar cartas. Só que elas acabam provocando ataques de ansiedade em Max, o que faz com que ele às vezes demore para responder. Como não quer perder sua amiga, Max decide explicar suas peculiaridades. “Não entendo expressões faciais.” “Acho o mundo confuso e caótico porque minha mente é literal e lógica.” “Tenho dificuldade em expressar emoções.”

O perfil não deixa dúvida: estamos vendo uma criança melancólica tentando se comunicar com um portador da Síndrome de Asperger – tipo de autismo marcado por dificuldade na interação social. 

Ou seja, não dá para dizer que o filme seja leve. O contrapeso são os diálogos engraçados, como se a animação tivesse as melhores falas de Woody Allen. Um exemplo é quando Max responde à tal questão do nascimento: “Minha mãe disse que os bebês vêm de ovos botados por rabinos. Se você não é judeu, veio de um ovo de uma freira católica. Se é ateu, aí é ovo de uma prostituta”.

AMNÉSIA

Direção: Christopher Nolan

Personagem do filme Amnésia mostrando fotografia Polaroid.
(Paris Filmes/Reprodução)

“A memória muda o formato de um quarto, a cor de um carro. Lembranças podem ser distorcidas. São só uma interpretação”, afirma Leonard (Guy Pearce). A fala é simbólica de como podemos ser enganados pelo baralho complexo que mistura memória e imaginação. O que você lembra não é o registro perfeito de um acontecimento – é a releitura que você faz desse evento, e que vai sendo distorcida com o tempo.

(Assista ao trailer aqui.)

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Pior para o protagonista deste filme, que precisa criar e decifrar recordações à base de fotos de polaroid. Desde que foi nocauteado quando bandidos invadiram sua casa, estupraram e mataram sua mulher, ele sofre de amnésia anterógrada – um distúrbio mental que afeta a memória de curto prazo. Leonard não é capaz de recordar o que aconteceu no dia anterior – nem anteontem, nem na semana passada –, embora se lembre de todo o seu passado até esse trauma. O que já significa uma rotina difícil fica ainda mais complicado quando sabemos de sua única motivação na vida: encontrar e se vingar do criminoso. Mas dá para botar fé numa investigação feita por um amnésico? 

Este thriller psicológico é apresentado de modo inventivo, em duas correntes paralelas. Uma é mostrada em P&B e corre no sentido linear. É a narrativa que dá a Leonard – enquanto fala ao telefone – a chance de explicar ao espectador seu problema de esquecimento. A narrativa paralela – predominante no filme – é em cores e conta a história de trás para a frente. Começa pelo que seria o fim: Leonard dando cabo do suposto assassino de sua esposa. Conforme essa narrativa avança – intercalando as cenas com as da história linear em P&B –, vai revelando o que levou o protagonista a esse desfecho. 

Ao acompanhar a trama a partir do final, sempre de marcha à ré, o espectador se coloca na posição do amnésico: também ele não tem as pistas de cada sequência. Quando a garçonete Natalie (Carie-Anne Moss, de Matrix) aparece na cama de Leonard, ficamos tão perdidos quanto o protagonista, e a única informação que recebemos é a que ele tem: uma polaroid com a anotação de que essa mulher poderia ajudá-lo. O mesmo se dá quando surge Eddie (Joe Pantoliano), o homem que Leonard mata no final/começo da história. O viúvo só sabe do suspeito o que já está anotado em suas fotos: “É ele! Mate-o!”.

Assim vivenciamos o filme no reino da subjetividade, dentro da cabeça do protagonista – diferente da maioria dos roteiros, que nos dão o conforto de uma realidade objetiva. Por isso, somos tentados a fazer os mesmos julgamentos que ele. Pelo menos no começo. À medida que as duas narrativas avançam – e elas vão se encontrar em algum instante –, começamos a ter informação suficiente para questionar o ponto de vista de Leonard. Descobrimos que ele acredita demais na própria interpretação das memórias, e aí vem a dúvida: o quanto seu discurso é confiável? Não sabemos mais se a perspectiva distorcida do amnésico é verdadeira, se o personagem está sonhando ou mentindo para si próprio. A confusão mental é transferida da película para a percepção abalada do espectador. 

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