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A voz do Brasil

Rede Globo: mocinha ou vilã?

Por Leandro Narloch
Atualizado em 14 fev 2017, 15h59 - Publicado em 31 Maio 2005, 22h00

Era o Cid Moreira de sempre. Terno impecável, topete no cabelo grisalho como em todo Jornal Nacional. Ele olhou para a câmera e disse: “Tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos que dominou o nosso país.”

A fala histórica foi ao ar ao vivo, na noite de 15 de março de 1994. Não era um pedido público de demissão. O apresentador transmitia um direito de resposta concedido pela Justiça ao ex-governador Leonel Brizola, que redigiu o texto após ser a acusado, no Jornal Nacional, de “declínio da saúde mental” e “deprimente inaptidão administrativa” por tentar proibir a transmissão do Carnaval. Naquele dia, milhares de brasileiros devem ter se deliciado com o texto de Brizola, lido no programa jornalístico que com média de 68% dos televisores ligados era, proporcionalmente, o mais assistido do mundo. Pessoas que como eu, e talvez você, cresceram fazendo lição-de-casa diante da Sessão da Tarde, jantando com a novela das 7 e indo dormir depois dos dramas de Regina Duarte na novela das 8. Após 40 anos como líder da televisão no Brasil, a Globo se tornou uma paixão nacional – mas uma paixão tão grande quanto a de falar mal dela.

Todos os anos, cada brasileiro passa em média 700 horas assistindo à Globo. Sem William Bonner, Xuxa ou Sinhozinho Malta, nossas roupas, jeito de falar, famílias e a imagem que temos do lugar em que vivemos seriam diferentes. “Tire a televisão de dentro do Brasil e o país desaparece”, diz Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás, co-autor do livro Videologias e ex-diretor de redação da SUPER. Exagero? Nas páginas seguintes, você verá como a Globo inventou o Brasil.

O Brasil sem a Globo

Na década de 1950, quando a televisão começou por aqui, o país escutava Tonico e Tinoco, ria de Mazzaropi e tinha 70% das pessoas morando no campo. Na cidade, ter um televisor era mais chique que home theater nos dias de hoje. As famílias deixavam de ir à ópera para assistir ao “teleteatro” em casa – e depois ligavam para o camarim cumprimentando os atores. E como não existiam satélites, cada cidade tinha sua programação, com celebridades, piadas e notícias locais.

Nos anos 1960, esse Brasil rural passou por um banho de loja cultural. Até o início dos anos 1970, o número de livros impressos passaria de 43 milhões para 191 milhões, a venda de discos cresceria 800% e a televisão viraria profissional, com antenas mais potentes, tecnologia para gravar programas e um aumento de 500 mil casas com televisores por ano. Percebendo a reviravolta, um grupo de comunicação resolveu se modernizar para virar empresa. Em 1963, contratou quase 100 funcionários num só dia – entre eles Chico Anysio e Gianfrancesco Guarnieri – e começou a fazer novelas diárias. Não, essa empresa não era a Globo. Era a TV Excelsior.

A Excelsior tinha tudo para dar certo, menos um item – isenção política. Com o golpe militar de 1964, foi boicotada pelos militares. Seu proprietário, Wallace Simonsen, que usava abertamente a televisão para apoiar o presidente João Goulart, sofreu retaliações financeiras. A emissora fechou em 1969. A outra grande TV da época, a Tupi, do magnata Assis Chateaubriand, dado a negociatas e ameaças políticas, entrou em declínio até falir em 1979. O trono estava vago para uma nova dinastia. “Os militares queriam uma empresa com visão moderna e que fosse parceira da expansão da televisão pelo país”, afirma a psicanalista e estudiosa de televisão Maria Rita Kehl. É aí que entra Roberto Marinho.

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Em 26 de abril de 1965, 3 anos após ganhar a concessão do então presidente Goulart, o dono do jornal O Globo levou ao ar o canal 4 do Rio de Janeiro. Em poucos meses deu para ver as novidades. A grade de atrações era conhecida do público e não mudava de repente, como na Tupi, na Excelsior ou na Record. Outra inovação: os anúncios publicitários, que apareciam ao longo do dia todo, mas em breves intervalos. Em resumo, igualzinho ao que assistimos hoje. Foi a Globo que implantou esse formato no Brasil.

Por trás do arrojo da Globo estava quem mais entendia de televisão na época: o grupo Time-Life, dos EUA. Um contrato assinado em 1962 previa que a Globo desse aos americanos 30% de seus lucros em troca de dinheiro para investimentos e experiência. O acordo virou escândalo nacional. A lei proibia que grupos estrangeiros fossem sócios de empresas de comunicação. Uma CPI foi instalada para apurar o caso e o governo podia até ordenar o fechamento da emissora – mas como uma legítima CPI brasileira, tudo terminou em pizza. Em 1969, insatisfeita com a rentabilidade do negócio, a Time-Life desistiu do contrato.

A Globo é o Brasil

Em 1969, uma casualidade mudou os rumos da TV Globo. Um incêndio destruiu a sede da emissora em São Paulo e, com os estúdios destruídos, a cidade teve de assistir à programação que ia ao ar do Rio. Surpreendentemente, a audiência na cidade não caiu. O que começou como estratégia de emergência, virou a maior vantagem da Globo, que se tornou a primeira emissora nacional do país. E uma rede que alcançasse o país inteiro era tudo o que os militares queriam. “Acreditava-se na época que o território nacional só estaria livre da ameaça estrangeira se as fronteiras estivessem em contato com o centro”, diz o jornalista Gabriel Priolli, da PUC-SP e autor do livro A Deusa Ferida. Essa mentalidade fez nascer megaprojetos, como a estrada Transamazônica e a instalação de um sistema nacional de torres de televisão. Em muitos países, esse investimento foi feito pela iniciativa privada. Aqui, o Estado bancou tudo. E ainda abriu linhas de crédito para qualquer pessoa comprar um televisor sem juros. O resultado foi um país unificado na tela da televisão.

Você já parou para pensar o que um descendente de alemães do interior gaúcho, um paulistano e um ribeirinho da Amazônia têm em comum? Eles falam português, ainda que um português bem diferente, descansam nos mesmos feriados e têm uma carteira de identidade que diz: brasileiro. Até 1969, era só isso. Mas depois que a Globo se tornou uma rede nacional, todos passaram a ter um enorme universo em comum. O mesmo sonho de conhecer o Rio, os mesmos bordões como “Não, Pedro Bó”, o mesmo desejo de comer pizza com guaraná. “A televisão igualou o imaginário de um país cuja realidade é constituída de enormes contrastes, conflitos e contradições”, afirma Eugênio Bucci.

Um estudo do pesquisador Luiz Augusto Milanesi, da USP, sobre a chegada da televisão a Ibitinga, interior de São Paulo, deixa claro os efeitos desse fenômeno. Assistindo a atores e jornalistas, os moradores descobriram que palavras como “compreto” e “frauta” estavam erradas. Mas, sem certeza do quanto já tinham se enganado, acabaram também trocando as letras em palavras corretas – “freira” virou “fleira”. E se “paia” virou “palha”, “meia” passou a ser “melha”.

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A Globo governa

Ok, a política de integração nacional deu ao país uma cara moderna e uma rede de telecomunicações de primeiro mundo. Mas o avanço também serviu como espaço de propaganda política. O programa Amaral Neto, o Repórter, por exemplo, se dedicava a noticiar os feitos milicos. No resto da programação, a censura encrencava com a roupa das chacretes e investigava até se Tom & Jerry tinha mensagens revolucionárias subliminares.

Além disso, a televisão rendeu cartadas no jogo de poder. Um estudo da pesquisadora Susy dos Santos, da Universidade Federal da Bahia, mostrou que pelo menos 40 afiliadas da Globo pertencem a políticos locais, todos ex-aliados dos militares. Os Magalhães, na Bahia, os Sarney, no Maranhão, os Collor, em Alagoas. O clima de paz e amor com o governo era tanto que, em 1972, o presidente Médici chegou a dizer: “Fico feliz todas as noites quando assisto ao noticiário. Porque, no noticiário da Globo, o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz.”

Mesmo após 1976, com o fim da censura prévia, o noticiário da Globo continuou sem farpas contra os militares. “Quando o país começou a se democratizar, a resistência da Globo às mudanças ficou clara”, diz Valério Brittos, professor da pós-graduação em ciências da comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Foi assim durante as greves do ABC, entre 1978 e 1980, que mal foram mencionadas pela emissora, e na campanha pelas eleições diretas em 1984. Esse comportamento fez surgir nos muros e passeatas o lema “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo.” “Na prática do jornalismo, como em qualquer outra atividade, erros podem acontecer”, diz Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. “O importante é ter humildade para corrigir rumos e agir com transparência.”

Nos últimos anos da ditadura, o poder de Roberto Marinho era de espantar mesmo. Para tentar diminuir sua força, o governo abriu concorrência para novas concessões de TV, em 1980. O Jornal do Brasil e a Editora Abril, que edita a SUPER, estavam no páreo, mas a disputa acabou ganha por Adolpho Bloch, que fez a Manchete, e Silvio Santos, do SBT. Enquanto esses canais engatinhavam, Roberto Marinho decidia os rumos do país. “Eu brigo com o papa, com a Igreja Católica, com o PMDB. Só não brigo com o doutor Roberto”, disse o presidente eleito Tancredo Neves, em 1985, a Ulysses Guimarães, que estava indignado com a indicação de Antonio Carlos Magalhães para o Ministério das Comunicações. ACM não foi o único ministro que Roberto Marinho nomeou ou demitiu nessa época.

Revolução dos costumes

Para muitas pessoas, a história da Globo acaba aqui. A emissora só chegou aonde chegou graças a barganhas políticas e ponto final. É aí que esses críticos quebram a cara. A Globo não se fez apenas apoiando militares e jogos. “Estamos diante de um caso de talento artístico. Nenhuma emissora do mundo domina tão bem a produção técnica em vídeo quanto a Globo. Melhor que ela, só a produção em película de Hollywood”, diz Gabriel Priolli. Hoje, não é só líder no Brasil: é a maior produtora de televisão do mundo. “Em 2004, produzimos 2.546 horas de programação, o que equivale a mais de 1.000 longas-metragens”, afirma Erlanger, da Globo. Neste momento, 62 países estão assistindo a programas que você viu meses atrás.

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Foi combinando alcance nacional e capacidade técnica acima da média mundial que a Globo protagonizou a construção da identidade brasileira. E esse talento se concentrou principalmente nas novelas. Para escrevê-las, foram chamados os melhores dramaturgos. Muitos deles vieram de jornais e grupos de teatro de esquerda da década de 1960, como Benedito Ruy Barbosa, Dias Gomes e Aguinaldo Silva. “Os autores disseminaram em cadeia nacional novos estilos de vida”, diz o pesquisador Cláudio Paiva, da Universidade Federal da Paraíba. Em vez das velhas histórias da moça virgem que tinha um pai carrancudo e fora enganada por um homem, trama típica do dramalhão latino-americano, aparecem os adolescentes que transam sem culpa, o homem que chora, a mulher separada, o gay. “O Brasil tem costumes mais modernos que o restante da América Latina também porque nossas novelas são mais realistas que as mexicanas”, diz Priolli.

Em 1994, a pesquisadora Anamaria Fadul, da Universidade Metodista de São Paulo, montou a árvore genealógica de 33 novelas da Globo produzidas entre os anos 1970 e 1990. Apenas duas mostravam famílias com mais de 2 filhos. “Não se pode fazer uma relação de causa e efeito, mas ficou claro que as novelas da Globo anteciparam o modelo da família atual em 2 décadas”, diz Anamaria. “Há quase 30 anos a Rede Globo promove o reexame das relações homem e mulher”, afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro, autor do livro O Afeto Autoritário. “Os movimentos feministas iniciaram esse questionamento, mas a rede Globo assumiu a causa e não a abandonou.” Duas produções dessa linha marcaram época:

Dancin’ Days (1978), que mostrava a vida de Júlia (Sônia Braga), ex-presidiária que luta para retomar a vida ao lado da filha, criada pela irmã milionária.

Malu Mulher (1979), em que Malu (Regina Duarte) é uma socióloga que decide se separar depois de ser traída pelo marido. A minissérie questionava tabus como aborto e virgindade, narrando os dramas da mulher madura que passa a ter de sustentar a filha. Malu Mulher foi sucesso na Inglaterra e na Holanda – e censurada em países da América Latina.

No caldo sem-gracinha do melodrama, também entraram pitadas de sátira, que parodiavam a política brasileira. “O Jornal Nacional mostrava políticos, em geral nordestinos, que depois de servir a todos os ditadores haviam se reciclado com a volta da democracia. Apareciam como grandes homens da República. Meia hora depois, a principal novela da mesma Globo expunha clones deles como emblemas do que há de pior em nossa sociedade”, diz Renato Janine. Você deve se lembrar de algumas dessas novelas:

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Roque Santeiro (1985), que tinha 36 capítulos gravados quando foi censurada pela ditadura, em 1975. Regravada 10 anos depois, mostrava como protagonista Sinhozinho Malta (Lima Duarte), um típico coronel nordestino.

Que Rei Sou Eu? (1989), passada no reino de Avilan, país imaginário da Europa do século 18 que vivia crises comuns às do Brasil de 1989: inflação, planos econômicos furados, moedas que mudavam de nome. Sem falar nas falcatruas e negociatas políticas.

• O Bem-Amado (1973), onde a cidade fictícia de Sucupira era palco de diversos tipos brasileiros – não exatamente os melhores. Exemplo de como a novela transformada em minissérie retratou o país é a fala do general Golbery do Couto e Silva, braço-direito do presidente Geisel, que ao deixar o cargo de chefe da Casa Civil disse aos repórteres: “Não me perguntem nada. Acabo de deixar Sucupira”.

A vida começa aos 40

E hoje? E o futuro? É difícil que, daqui pra frente, um canal de TV tenha tanta importância para o imaginário de Sucupira, ops!, do Brasil. “É uma tendência mundial as grandes televisões perderem audiência para outros canais ou tipos de mídia”, diz o professor Valério Brittos. “Mas, dentro dessa segmentação, a Globo vai seguir como uma das principais produtoras do mundo.”

O maior baque de perda de público aconteceu na década de 1990. A audiência média de 49% dos televisores ligados, em 1979, baixou para 37% em 1997. Record e SBT aproveitaram o barateamento da tecnologia de produção e lançaram programas populares. Também apareceu o controle remoto, arqui-inimigo das líderes de audiência. Mas o susto passou rápido: a novela Terra Nostra, de 1999, recuperou antigos índices de audiência e provou que o modelo “sanduíche” de um jornal entre novelas, marca da Globo instituída em 1968, não estava acabado. Até programas típicos de emissoras B no resto do mundo, como o Big Brother, viraram atração global. “A capacidade de inovar e adaptar que a Globo tem é incomum em empresas tradicionais”, diz Valério Brittos.

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Essa inovação, porém, foi um tiro pela culatra no que se refere à televisão a cabo. Quando partiu para a transmissão por assinatura, a Globo teve, desta vez, de tirar do próprio bolso os custos de instalação da rede. O grupo que controla a emissora fez uma dívida que, com a crise do real, em 1999, virou uma bolha de R$ 1,3 bilhão. “A empresa pode até sanear essa dívida, mas terá dificuldades se precisar fazer mais investimentos em novas tecnologias”, diz Brittos.

Falando em novas tecnologias, a TV digital está mudando o jeito de ver TV hoje. Hoje, dá para escolher entre ler um e-mail, escutar música ou assistir aos Simpsons enquanto se espera o ônibus (pois é, os ônibus continuam os mesmos de sempre). Especialistas dizem que a TV on demand pode tornar obsoleto o sistema de concessões de canais, no qual a Globo nasceu e virou gigante.

Isso significa o fim da Globo? Será que a televisão generalista, que todos vêem ao mesmo tempo, é coisa do passado? A interatividade da internet fez de qualquer pessoa uma potencial emissora de conteúdo – e mudanças como essa, que cindem a idéia de uma sociedade uniforme, tem força para inaugurar uma nova idade histórica. Por isso, é difícil prever o futuro da emissora que deu uma cara ao Brasil – “aguarde e confie”, diria Didi Mocó. Já é possível, no entanto, julgar seu papel desde 1965. Sim, em muitos momentos a Globo foi mesmo porta-voz dos militares. Mas também não faltam motivos para tratá-la como agente modernizante e um orgulho do talento nacional. A Rede Globo tem uma grande dívida com o Brasil. Mas o Brasil também deve muito à Rede Globo.

Teorias da conspiração

A Glogo atraiu a entrada do controle remoto no Brasil

FALSO. O velho boato que circula entre faculdades e sites anti-Globo é desacreditado por especialistas. Desde os anos 1960 já havia televisores com controle remoto no Brasil. “O problema é que ele encarecia muito o televisor”, diz o jornalista Gabriel Priolli. Os aparelhos com controle remoto eletrônico só se popularizaram na década de 1990.

Roberto Marinho escolhia alguns ministros

VERDADEIRO. Antes de assumir o Ministério da Fazenda, em 1988, Maílson da Nóbrega conversou por 2 horas com Roberto Marinho. “Era como se eu estivesse sendo sabatinado”, contou Maílson para a revista Playboy. 10 minutos após a conversa, o Jornal da Globo dava o furo: ele era o novo ministro da Fazenda.

A Globo fez do Flamengo o time mais popular do Brasil

FALSO. A popularização da TV no Norte e Nordeste aconteceu nos anos 1980, quando o Flamengo foi campeão brasileiro, sul-americano e mundial. Seus jogos eram exibidos sem parcimônia. Hoje, o clube é o que tem mais torcedores no país, mas 80% deles fora do Rio. Efeito Globo? Nem tanto. Mesmo antes da TV o clube já era o grande time da capital federal. “O Flamengo representava o Brasil”, afirma o escritor Ruy Castro, autor de Flamengo – O Vermelho e o Negro.

A Globo democrática

Diretas sim

Na véspera da votação das emenda das Diretas, a Globo burlou a censura e transmitiu ao vivo imagens do comandante militar do Planalto reprimindo uma manifestação. No Jornal da Globo, o comentário de Jô Soares sobre a repressão ao protesto foi ficar 30 segundos em silêncio – alguns repórteres optaram por vestir amarelo, cor ligada ao movimento pelo retorno da democracia.

Adeus, Collor

Com a inflação anual em 1.000% e denúncias de corrupção, a Globo captou o espírito dos caras-pintadas e noticiou intensamente as passeatas contra Collor. Também exibiu a minissérie Anos Rebeldes, sobre jovens que lutaram contra a ditadura, e mostrou ao vivo as 6 horas de votação do impeachment do presidente.

Sem-terra na novela

Em 1996, 2 meses após a morte de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (PA), o MST entrou para a trama da novela O Rei do Gado. O movimento era apoiado pelo senador Caxias (Carlos Vereza), morto durante uma invasão. “A novela ajudou a fazer as pessoas nos olharem de maneira diferente. Nos deu status de cidadãos”, disse na época o presidente do MST, João Pedro Stédile.

A Globo manipuladora

Greve, que greve?

Entre 1978 e 1980, as greves do ABC foram quase ignoradas pela Globo, que cobriu o assunto com notas sem entrevistas e som ambiente. Armando Nogueira, então diretor de jornalismo, afirmou que a emissora tinha ordens dos militares de cobrir o evento “de leve”.

Diretas não

Passeatas em Curitiba, Vitória, Salvador e Campinas pelas eleições diretas não mereceram menção nos jornais da Globo. Mas ao contrário do que muita gente acredita, a grande manifestação paulistana de 25 de janeiro de 1984, na Praça da Sé, foi, sim, noticiada pela emissora. O conteúdo da reportagem, no entanto, misturava o pedido por Diretas Já e o aniversário da cidade.

Lula também não

Após o debate entre Collor e Lula, na eleição presidencial de 1989, as pesquisas de opinião apontavam vitória de Collor. Mas o Jornal Nacional exagerou na dose. Durante 3min34s, mostrou Collor enfático e seguro. Lula mereceu 2min22s e trechos em que aparecia trocando a palavra “seca” por “cerca”. Dois dias depois, Collor, que começara a semana com 1% de intenção de votos acima de Lula, ganhou a eleição com vantagem de 6%.

As modas que a Globo lançou

Turismo no Nordeste

Em 1994, a novela Tropicaliente, apoiada pelo governo do Ceará, mostrou como é linda a praia de Porto de Dunas, em Fortaleza. Resultado: os hotéis do estado ficaram lotados e o movimento nos principais pontos turísticos do Nordeste aumentou 30%.

Imperialismo brasileiro

A Globo exporta para o mundo seu jeito de falar. Em Portugal, lançou expressões como “bater um papo”, “que droga” e “Oi, tudo bem?”. Em Cuba, restaurantes caseiros são chamados de “paladares”, por causa da Rede Paladar, que Raquel (Regina Duarte) criou em Vale Tudo. Na Rússia, a palavra “fazenda” entrou no vocabulário por causa da novela Terra Nostra.

Trajes globais

A primeira vez que a Globo lançou moda foi na novela Dancin’Days, em 1978, que difundiu discotecas e popularizou as meias “lurex”. “Tomamos um susto com o poder das novelas”, diz Marília Carneiro, figurinista da emissora. Outros sucessos: mais de 200 mil dos anéis-pulseiras usados por Jade (Giovanna Antonelli) em O Clone vendidos. E aumento de 85% na produção de perucas no Brasil por influência de Sinhozinho Malta (Lima Duarte), de Roque Santeiro.

Para saber mais

Jornal Nacional – A Notícia faz História – Memória Globo, Jorge Zahar, 2004

Dicionário da TV Globo – Memória Globo, Jorge Zahar, 2003

A Deusa Ferida – Silvia Borelli e Gabriel Priolli (coords.), Summus, 2000

Videologias – Eugênio Bucci e Maria Rita Kehl, Boitempo Editorial, 2004

O Afeto Autoritário: Televisão, Ética e Democracia – Renato Janine Ribeiro, Ateliê Editorial, 2005

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