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Andy Serkis: “A relação de Mogli com os animais é mais visceral”

"Mogli: Entre Dois Mundos" é uma versão mais tensa e adulta da história. Serkis, diretor do longa, veio ao Brasil e conversou sobre o filme - já na Netflix

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 24 out 2020, 16h38 - Publicado em 12 dez 2018, 10h09

Se você pretende assistir a Mogli: Entre Dois Mundos, que estreou na Netflix na última sexta (7), aqui vai um aviso: não espere por cantorias nem animais simpáticos. O filme, que conta com nomes como Christian Bale, Cate Blanchett e Benedict Cumberbatch no elenco, é uma versão mais sombria do que as adaptações da Disney.

O britânico Andy Serkis, famoso pelos seus personagens de captura de movimento, como Gollum de O Senhor dos Anéis e César de Planeta dos Macacos, é o diretor do longa e também interpreta o urso Baloo. Ele veio ao Brasil para a Comic-Con Experience (CCXP), que aconteceu entre 6 e 9 de dezembro, além de participar de uma coletiva para jornalistas, na qual contou detalhes sobre a produção do filme.

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Versão “dark” 

A história de Mogli vem de “Os Livros da Selva”, livro escrito em 1894 por Rudyard Kipling, e se tornou famosa com a versão em desenho animado em 1967 feita pela Disney. Em 2016, o estúdio fez uma versão em live-action da animação, assim como vinha fazendo com outros clássicos como Cinderela A Bela e a Fera.

“Quando eu soube que a Disney ia fazer uma nova versão, eu não fiquei preocupado, pois sabia que seriam visões diferentes”, disse Serkis. E com razão: No Mogli da Netflix há sangue, drama e personagens complexos. “Eu quis que a relação entre Mogli e os animais fosse mais real e visceral”.

Segundo Serkis, o roteiro estava pronto desde 2013. Originalmente, ele seria lançado nos cinemas pela Warner, mas em julho deste ano, o estúdio vendeu os direitos de distribuição para a Netflix. “A Warner sabia dos riscos, já que a versão da Disney havia estreado apenas dois anos antes. Acho que foi uma boa saída para que o filme seja visto pelas pessoas”, disse o diretor.

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Os dois mundos de Mogli

O enredo do filme segue a mesma base das produções anteriores, e não será difícil resgatá-lo da memória: após o tigre Shere Khan (Benedict Cumberbatch) assassinar seus pais, Mogli (Rohan Chand), um bebê recém-nascido, é salvo pela pantera negra Bagheera (Christian Bale) e passa a ser criado por uma alcateia de lobos.

A principal diferença está na abordagem. A selva é retratada como um lugar hostil, e os próprios personagens constantemente brigam entre si, revelando camadas mais profundas de complexidade. Além disso, há o conflito do personagem principal entre o seu lado humano e animal.

“A ideia foi retratar alguém que vivesse dividido em duas culturas”. O diretor afirma que se identifica com isso, já que ele mesmo, quando criança, viveu algo parecido: seu pai era árabe e sua mãe, britânica.

Serkis também falou sobre a atualidade da história de Mogli. “Acho que [o livro] permanece contemporâneo. Temos muitas pessoas marginalizadas e que se sentem deslocadas, não só culturalmente, mas fisicamente também, como no caso dos refugiados.” E completa: “As pessoas passam mais tempo pensando no que nos distancia do que nas coisas que nos aproximam”.

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Captura de movimento

O filme teve cenas rodadas na África do Sul, onde a produção construiu a aldeia em que Mogli entra em contato com outros humanos. “Por questões de orçamento, nós não pudemos gravar na Índia. Mas filmamos na região de Durban, que concentra a maior população de indianos vivendo fora do país”.

Mas a maior parte de Mogli: Entre Dois Mundos é, de fato, a captura de movimento, tecnologia pela qual Serkis ficou conhecido. Ele conta que, quando o elenco se reuniu, os demais atores o perguntaram se havia algum segredo para atuar dessa maneira.

“Você estuda os animais que vai interpretar, seu comportamento e porte físico, assiste documentários, mas não pode ser uma observação genérica”. Para Serkis, o mais importante é entender o que aquele personagem sente, qual o seu propósito e as suas motivações. “No fim das contas, você está criando um personagem como qualquer outro. A tecnologia é só um caminho”. E brinca: “É como maquiagem, só que ao invés do trivial há uma série de pontos na sua cara e câmeras capturando seu movimento em 360o“.

De acordo com o diretor, o maior desafio foi fazer com que o design dos personagens refletisse a interpretação dos atores na medida certa. “Não poderia ficar humano demais, mas se fosse muito parecido com os animais também ficaria estranho”. Por sorte, o filme passou um ano e meio na pós-produção, e o resultado final atendeu às expectativas do diretor. “Eu não quis gravar a maior parte do filme com cenas em ângulos abertos, mas com close-ups nos rostos, para aumentar a carga dramática”.

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Próximos projetos

Quando perguntado sobre as diferenças entre lançar um filme via streaming ou pela forma tradicional, Serkis enxerga um futuro em que ambos os formatos coexistirão em harmonia. “As pessoas não estão indo ao cinema com a mesma frequência. No futuro, acredito que haverá espaço tanto para quem quer ter a experiência na tela grande, quanto para quem quer ficar em casa porque é mais confortável ou mais barato”.

Serkis e a Netflix estão trabalhando juntos para fazer uma adaptação em captura de movimento da obra A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Mas não espere por uma versão totalmente literal. “Com esse longa, queremos responder a pergunta: ‘Se Orwell escrevesse o livro hoje, quais temas ou alvos políticos ele abordaria?'”. E quando perguntado sobre uma outra história clássica sobre a qual gostaria de fazer uma versão “dark”, o diretor foi direto ao ponto: O Corcunda de Notre-Dame.

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