Brasileiro comprou mais livros na pandemia – distopias subiram no ranking
As vendas de ficção subiram 41,4% entre o começo do ano passado e o deste ano – escapar da realidade se tornou atraente no isolamento social.
O brasileiro está lendo mais durante a pandemia – ou, no mínimo, comprando mais livros. (Se eles são mesmo lidos, é outra história. Existe até uma palavra em japonês para quem passa o rodo na livraria e não dá conta de ler tudo depois: tsundoku, que mistura “empilhar” e “ler”. Uma boa tradução do neologismo é “empiler”.)
As vendas de livros em março de 2021, em relação a março de 2020 – quando eclodiu a pandemia no Brasil –, aumentaram 38,38% em número de exemplares e 28,46% em faturamento. Os números vêm do Painel do Varejo de Livros, relatório produzido pela Nielsen – uma empresa que gera dados para o mercado editorial – e divulgado pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel)
Um dado interessante é o aumento de 41,4% nos exemplares de ficção vendidos entre os três primeiros meses de 2020 e o mesmo período em 2021. Uma análise informal dos rankings de mais vendidos do site PublishNews e da Veja mostra que 1984 e A Revolução dos Bichos, de George Orwell, estão firmes nas vendas ao longo da pandemia, bem como o O Conto da Aia, de Margaret Atwood.
Encontrar distopias em meio aos campeões de vendas mais óbvios, como Stephenie Meyer e Neil Gaiman, mostra que nem só de escapismo vive o cidadão exausto com o isolamento social. A polarização na política brasileira, a pandemia digna de filme-catástrofe e a crise econômica mundial deixaram o leitor curioso com os rumos que o mundo pode tomar.
Devemos olhar os dados com cuidado, é claro: em março do ano passado, o respeito ao isolamento social nas grandes cidades atingiu um patamar que não se repetiu mais. As lojas ficaram fechadas e o público pisou no freio com as compras. Seria improvável as editoras repetirem um desempenho tão desolador nas vendas um ano depois.
O mercado editorial se recuperou do baque pandêmico no segundo semestre de 2020. Além das ficções de tom lúgubre, a alta pegou carona em títulos de autoajuda, em volumes que discutem feminismo e racismo e, por fim, na série de livros que inspirou a série Bridgerton.
A migração das vendas para a internet e o grande número de promoções (o desconto médio aplicado sobre os preços foi de 16,84% a 24,98% em um ano) fez com que o número de exemplares vendidos crescesse mais que o faturamento. O preço médio de cada exemplar caiu de R$ 45,56 para R$ 42,29.