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Como a guerra dos consoles pode terminar de vez em 2025

PlayStation e Xbox já foram dois titãs do mercado de consoles. Hoje, um deles está em clara vantagem.

Por Victor Bianchin
Atualizado em 31 mar 2025, 11h13 - Publicado em 7 mar 2025, 12h00

Em 2024, o mercado de games movimentou US$ 184,3 bilhões — mais que o dobro das indústrias da música e do cinema somadas. Quem olha um pouco mais além, contudo, logo percebe que se trata de um mercado no fundo do poço: 14.800 pessoas perderam seus empregos (cerca de 10% de todos os desenvolvedores da indústria), estúdios fecharam portas e alguns títulos fracassaram de forma colossal, gerando prejuízos milionários. O mundo nunca jogou tanto videogame, mas o videogame nunca esteve tão em crise.

Esse paradoxo poderia render livros e mais livros, mas pode ser resumido da seguinte forma: produzir games ficou caro demais. Um jogo AAA, que são os títulos blockbuster lançados por grandes publicadoras, pode custar qualquer coisa entre US$ 100 e US$ 300 milhões. E leva séculos para fazer: Marvel’s Spider-Man 2 levou cinco anos; Cyberpunk 2077, sete; Elder Scrolls VI, anunciado em 2018 pela Bethesda, só chega em 2028, e isso sendo muito otimista.

Nesse meio tempo, executivos deixam as empresas e outros tomam seus lugares, mudando os objetivos a curto e médio prazo. Por isso, é normal (embora péssimo) que projetos sejam cancelados mesmo após anos em desenvolvimento. Em fevereiro, o estúdio Monolith Productions foi fechado por sua dona, a Warner Bros., fazendo com que o jogo da Mulher Maravilha, em desenvolvimento desde 2021 e que já havia custado US$ 100 milhões, fosse cancelado.

A indústria dos games se acostumou a medir qualidade com a régua do avanço tecnológico: os consoles estão cada vez mais potentes, então os jogos têm que ser também, certo? Só que esse modelo é insustentável: fazer um jogo AAA que atenda a essas expectativas exige tempo, e tempo é tudo que os relatórios de fechamento de trimestre não oferecem. A crise está instaurada – e até grandes estúdios estão ameaçados.

E nesse cenário que um dos maiores símbolos da corrida tecnológica dos games parece estar chegando ao fim: a guerra dos consoles está com os dias contados.

Vamos entender essa história. Do começo.

O que é a guerra dos consoles

Nos anos 1990, a Sega, com seu Mega Drive, e a Nintendo, com o NES e depois o SNES, disputavam a liderança do mercado de consoles. As empresas tiravam sarro uma da outra em publicidades e lançavam jogos que tentavam superar as peripécias dos títulos da rival. A Sony entrou na briga em 1994 com o primeiro PlayStation. Já a Sega saiu em 2001, quando parou de fabricar consoles após o fracasso do Dreamcast e passou a ser apenas uma desenvolvedora de software.

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A Microsoft entrou no ringue também em 2001, quando lançou o primeiro Xbox. Assim como a Sony, ela apostava nos gamers mais velhos, que procuravam jogos com mais ação e gráficos mais avançados. A Nintendo, por sua vez, estava feliz em lançar jogos para a família. E assim se formou a lógica que dominou o mercado por mais de duas décadas: a Nintendo com seu público cativo e a Sony e a Microsoft disputando o pessoal que queria mais do que Mario.

Os fãs se engajaram na chamada “guerra dos consoles” e cada lado passou a defender seu território: os fãs de Xbox, muitas vezes chamados de “xbots” ou “caixistas” (“box” quer dizer “caixa” em inglês), zoam coisas como os hackeamentos da rede PSN e a falta de grandes games no PS5. Os fãs de PlayStation (ou “sony ponies”), por sua vez, tiram sarro do “círculo vermelho da morte” no Xbox One e as vendas fracas do Series X/S. E isso pra ficar só nas ofensas com algum fundamento.

Por muito tempo, Sony e Microsoft estiveram parelhas na disputa. O Xbox tinha Halo, Gears of War, Left 4 Dead e outros clássicos, enquanto o PlayStation contava com God of War, Uncharted, Infamous e mais. A partir da sétima geração, porém, a Sony começou a disparar na frente. O PS4 era mais barato que o Xbox One, tinha jogos exclusivos mais interessantes e não exigia uma conexão constante à internet (medida bizarra que a Microsoft implementou e depois abandonou).

Foi o começo de uma disparidade que nunca mais se desfez. O PS4 vendeu o dobro do que o Xbox One e trouxe exclusivos que garantiram boas vendas, como God of War 2018, Horizon Zero Dawn e The Last of Us. Com a chegada do PS5, as diferenças continuaram: em setembro de 2024, foi reportado que o PS5 havia vendido 61 milhões de unidades contra 28 milhões do Xbox Series X/S.

A Microsoft não ficou parada. O serviço Game Pass, lançado em 2017, tornou-se um dos melhores custos-benefícios desse universo: por um valor mensal, ele oferece acesso ilimitado a uma biblioteca gigantesca de jogos no seu Xbox, sem precisar comprar nada. A Sony não teve escolha a não ser repensar seu próprio serviço de assinatura, a PS Plus, e transformá-lo em algo parecido em 2022.

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Mas o Game Pass sozinho não foi suficiente para reverter a crise causada pelas baixas vendas do Xbox. 

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2024: o fim dos exclusivos de Xbox

Tudo começou em fevereiro daquele ano, quando Phil Spencer, o CEO do Xbox, anunciou que quatro títulos exclusivos da plataforma ganhariam portabilidade para o PS5 e para o Switch. A notícia caiu como uma bomba para os fãs de Xbox, e as subsequentes falas do CEO não ajudaram a acalmar os ânimos. Em junho, ele deu uma entrevista confirmando que mais jogos seriam portados para o PS5. Em agosto, na Gamescom, uma das maiores feiras do setor, o primeiro trailer do exclusivo Indiana Jones And the Great Circle foi anunciado com uma surpresinha no final: o jogo também sairia para o PS5. É bem complicado quando você faz uma conferência para seus fãs e resolve agradar a torcida rival.

Àquela altura, as porteiras já estavam bem abertas. Em novembro, a Microsoft lançou a campanha “This Is An Xbox” (“isto é um Xbox”), que parte do princípio de que qualquer dispositivo que rode o Game Pass pode ser um Xbox, o que inclui celulares, smart TVs, laptops, tablets, Steam Decks e outros. E aí a grande pergunta estava feita: se tudo é um Xbox, por que comprar um Xbox?

Fotografia do CEO do Xbox, o Phil Spencer.
O CEO da Microsoft Gaming, Phil Spencer (Wikimedia Commons/Reprodução)
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A pior parte é que a Microsoft parece não ter uma resposta para isso. Phil Spencer veio a público em janeiro afirmar que o hardware “é uma parte crítica do que fazemos”, mas também disse que a Microsoft continuará lançando seus ex-exclusivos em outras plataformas. É um discurso contraditório e que não está enganando ninguém. Nem o próprio Spencer, que recentemente mudou sua bio no Twitter de “Head of Xbox” para “Head of Microsoft Gaming”.

O CEO, inclusive, parece não ligar para jogar as últimas pás de cal em sua própria plataforma. Há poucos dias, ele deu uma entrevista a um podcast em que disse com todas as letras: “Não estou mais tentando levá-los [o público] ao Xbox. Estamos tão engajados em nossos games, vamos só deixar mais gente jogar”.

Vale dizer que, na Sony, as coisas não vão às mil maravilhas também. Em 2024, o estúdio lançou Concord, um jogo em estilo live service – games como o Fortnite, com milhares de jogadores simultâneos, atualizações o tempo todo e com vários itens e customizações que você pode comprar ao infinito e além. Concord custou US$ 200 milhões (ou US$ 300 milhões, se você acreditar em alguns rumores), mas fracassou de um jeito tão retumbante que foi tirado do ar apenas duas semanas depois. 

Esse foi o fundo do poço de uma estratégia capitaneada pelo ex-CEO Jim Ryan: investir em jogos live service e deixar os títulos single player, que fizeram a fama do PlayStation, em segundo plano. De todos os live services que a Sony lançou nesta geração, apenas Helldivers 2 deu certo. O resto foi cancelado em alguma etapa da produção ou fracassou com o público — e, assim, milhões de dólares foram pelo esgoto porque a Sony quer desesperadamente a montanha de dinheiro que Fortnite faz, embora não tenha nada como Fortnite para competir. Ryan deixou a empresa em março do ano passado.

A atual geração foi também aquela em que a Sony passou a investir mais pesado em portar seus exclusivos para o PC, embora ainda com períodos de espera entre o lançamento no PS5. Não há qualquer sinal, porém, de que a Sony vá começar a liberar seus exclusivos para o Xbox.

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Imagem do jogo Concord.
Concord, o grande fracasso da Sony (Wikimedia Commons/Reprodução)

E agora, como ficamos?

Em 2025, o cenário está bem delineado: a Nintendo folga na liderança do mercado de consoles com o Switch e seu sucessor, o Switch 2, que será lançado este ano. A Sony desfruta de um segundo lugar consolidado após a derrocada da Microsoft. E a Microsoft, em terceiro, parece estar sem rumo, prometendo que seu hardware permanecerá relevante enquanto seus títulos migram para outras plataformas.

Não há realmente como dizer que existe uma “guerra dos consoles” se, dos três guerreiros, um não está interessado em conflito e, entre os outros dois, um se apresenta em clara vantagem. Ao longo do ano, mais jogos de Xbox devem chegar ao PlayStation, ao passo que a Microsoft deverá investir pesado em novos jogos para fortalecer sua marca (o último evento Xbox Games Showcase, transmitido em junho do ano passado, trouxe ótimos anúncios). Ou seja: tudo deve seguir como já está desenhado.

Imagem do Nintendo Switch.
Com o sucesso do Switch, a Nintendo consolidou ainda mais a sua fatia do mercado de consoles. (Nintendo/Tavrius/Gettyimages/Reprodução)

Uma verdadeira reviravolta só deve acontecer se o Game Pass for lançado no PS5 e/ou no Switch, sinalizando que a campanha “isto é um Xbox” realmente vale para tudo e que não há mais motivo nenhum para comprar um Xbox. 

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Ou então lá por 2028, quando a atual geração será substituída pelos próximos PlayStation e Xbox. Especula-se que a Microsoft esteja trabalhando em um hardware avassalador para recuperar a confiança de seus fãs, o que pode incluir um aparelho portátil no estilo do Switch. Por enquanto, porém, isso é apenas um rumor. Até que a Microsoft traga novos tanques para o front, a guerra dos consoles está resolvida.

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