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Conheça Matilda Gage, a ativista que inspirou as bruxas de “O Mágico de Oz”

Ela foi uma militante e intelectual feminista do final do século 19. E sogra do criador de Oz, que escreveu inspirado por suas descrições da caça às bruxas.

Por Bela Lobato
Atualizado em 2 dez 2024, 08h37 - Publicado em 30 nov 2024, 19h00

O universo do Mágico de Oz, criado por L. Frank Baum, já foi cenário de filmes, musicais e peças de teatro desde que o livro original foi lançado em 1900. Em 2024, a Terra de Oz volta a ficar em evidência com a estreia do filme Wicked, estrelado por Ariana Grande e Cynthia Erivo, que fazem o papel de duas bruxas estudantes.

No livro de Baum, existem bruxas do bem e do mal. Todas têm poderes mágicos, como voar, se materializar em locais e ver coisas de perto e de longe. As Bruxas do Norte e do Sul são boazinhas, enquanto as do Oeste e do Leste são malvadas (no inglês, o termo para as malvadas é wicked, daí o título do filme e da peça da Broadway).

A história real que inspirou Baum é tão fascinante quanto a das bruxas Elphababa e Glinda. Se prepare para conhecer Matilda Electa Joslyn Gage, uma das mais importantes militantes e intelectuais feministas e progressistas dos EUA no século 19. 

Matilda foi sogra de Baum, e foi quem o incentivou a enviar seus poemas e contos para revistas. Foi ela que sugeriu, também, que Baum colocasse ciclones na história de Oz.

Ela nasceu em 24 de março de 1826 no estado de Nova York, nos EUA, em uma família abolicionista. Ativista radical dos direitos humanos, Matilda foi uma figura proeminente no movimento pelo sufrágio feminino nos EUA, bem como no movimento contra a escravidão e na defesa dos direitos indígenas.

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Por sua propensão ao confronto, foi frequentemente chamada por críticos homens de satânica e herética. Em 1886, por exemplo, ela compareceu à inauguração da Estátua da Liberdade, em Nova York. Em cima de um carro de boi e portando um megafone, ela gritava que era “uma mentira gigantesca, uma farsa e uma zombaria” retratar a liberdade como uma mulher quando as mulheres americanas de verdade tinham tão poucos direitos.

Ser chamada de profana inspirou Matilda Gage a se tornar uma especialista no tema da caça às bruxas medieval. Em 1893, escreveu um manifesto chamado Mulher, Igreja e Estado, em que relatou perseguições ocorridas entre 1300 e 1800 contra pessoas (em sua maioria, mulheres) acusadas de bruxaria. Elas eram condenadas a morte por fogo, enforcamento, afogamento, apedrejamento e outros meios torturantes. 

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Quando descrevia uma situação em que 400 mulheres foram queimadas simultaneamente em uma praça na França, ela diz que a causa foi “um crime que nunca existiu, exceto na imaginação daqueles perseguidores e que cresceu na imaginação deles a partir de uma falsa crença na extraordinária maldade da mulher”. O termo que ela usou foi wickedness, o mesmo que ficou marcado na criação das personagens das wicked witches (bruxas malvadas).

Talvez uma de suas maiores contribuições intelectuais, a publicação do seu ensaio Woman as an Inventor (“Mulher enquanto inventora”, em tradução literal) ocorreu antes de tudo isso, em 1870. Nesse texto, Gage discute o fenômeno em que cientistas homens recebem o reconhecimento pelo trabalho feito por mulheres.

Mais tarde, a ironia é que a intelectual e militante foi ela mesma vítima de uma versão literária do fenômeno que, mais tarde, foi batizado em sua homenagem: Efeito Matilda.

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“A influência de Matilda na escrita de Frank foi significativa e, embora Oz seja conhecido mundialmente, a própria Matilda foi excluída da história.”, diz a biografia de Gage no site do Matilda Joslyn Gage Center, uma fundação criada para manter viva a memória e a luta progressista de Gage.

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