Bruno Garottoni
Imagine um tradutor mágico, que convertesse as palavras antes mesmo de elas saírem da sua boca: você falaria em português, mas sua voz sairia em chinês, russo ou qualquer outro idioma. É exatamente isso que um grupo de cientistas da Universidade Carnegie Mellon (EUA) acaba de criar: o primeiro tradutor realmente instantâneo. É um grande avanço. Com os tradutores atuais, você precisa ditar em voz alta as frases para um computador, que só então faz a tradução. Aí, quando o seu interlocutor vai responder, tem de fazer a mesma coisa. Fica difícil conversar assim – é uma barulheira só. Já com o sistema novo dá para falar normalmente. Ou melhor: você não fala. Só mexe a boca, pronunciando as palavras sem fazer som, e será dublado, em tempo real, por uma voz sintetizada. O aparelho faz isso medindo a eletricidade que passa pelos seus músculos quando você articula a fala. “São 6 eletrodos, conectados ao rosto do usuário. Nos testes, já conseguimos 80% de precisão”, conta a pesquisadora Tanja Schultz, inventora do protótipo.
Mas como o tradutor da Carnegie consegue fazer isso? Afinal, cada pessoa tem um rosto diferente, e ao falar usa os músculos de maneira distinta. Então você precisa treinar o aparelho antes de usá-lo. Mas ensinar a máquina palavra por palavra seria impossível (o português, por exemplo, tem cerca de 360 mil verbetes). Para driblar isso, Schultz e sua equipe vieram com uma sacada: em vez de associar os movimentos da sua boca a palavras, o computador só interpreta os fonemas – as unidades sonoras que as formam. Aí é infinitamente mais fácil – o português, por exemplo, tem só 27 fonemas.
O protótipo já entende inglês, alemão, chinês e espanhol, mas, segundo seus criadores, a tecnologia vai levar “pelo menos mais 10 anos” para ficar afiada a ponto de virar um produto comercial. E seria um produto com outros apelos além da tradução instantânea: “Você poderia, por exemplo, falar ao celular sem emitir som, mantendo a sua privacidade mesmo em lugares públicos”, imagina Schultz. Isso, claro, se tiver coragem de sair na rua com uma maçaroca de fios grudados ao rosto. “Um dos nossos desafios é criar eletrodos menores, sem fios e mais inteligentes, que possam interpretar várias situações – para que o computador não se confunda, por exemplo, se você sorrir enquanto fala.”