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Hattie McDaniel, primeira pessoa negra a ganhar um Oscar, sofreu racismo na própria premiação

A atriz levou a estatueta em 1940 por interpretar uma escrava doméstica em "...E o Vento Levou", mas precisou sentar numa mesa segregada durante a cerimônia. O próximo prêmio para uma pessoa negra só viria 24 anos depois.

Por Eduardo Lima
23 fev 2025, 12h00

A primeira cerimônia do Oscar, a principal premiação do cinema nos Estados Unidos, aconteceu em 1929. Os vencedores da honraria são escolhidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que demorou 11 anos até selecionar a primeira pessoa negra a vencer o prêmio: Hattie McDaniel, que levou a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante em 1940.

McDaniel, que nasceu em 1893, foi uma atriz, cantora, compositora e comediante afro-americana que trabalhou numa época em que os Estados Unidos ainda tinham leis segregacionistas e racistas contra pessoas negras.

Ela ganhou o Oscar por seu papel em …E o Vento Levou, épico de 1939 que dominou a cerimônia da Academia em 1940. O longa-metragem (e bota longa nisso: 3 horas e 58 minutos de duração) dirigido por Victor Fleming, George Cukor e Sam Wood se consagrou como clássico do cinema, e venceu nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz e ainda garantiu as estatuetas de fotografia, edição e direção de arte (hoje chamada de “design de produção”).

Além dessas sete vitórias, …E o Vento Levou também foi o primeiro filme a conseguir um Oscar para uma pessoa negra. Apesar da conquista histórica, McDaniel ainda sofreu racismo na estreia do filme e na premiação, quando foi obrigada a se sentar numa mesa separada, só para negros, no fundo do salão.

Segregada na estreia e no Oscar

No filme, McDaniel interpreta Mammy, a escrava que trabalha como empregada da família O’Hara, no sul dos Estados Unidos, durante a Guerra de Secessão. Na vida real, a atriz era filha de dois antigos escravos, e sua avó foi uma empregada numa fazenda, como Mammy no longa. Por causa de seu papel estereotipado, McDaniel recebeu críticas do movimento negro.

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Na época, todos os filmes de Hollywood precisavam passar pelo crivo do Código Hays, uma lista de regras de censura moral que durou entre 1930 e 1968 e ditava o que podia e o que não podia aparecer nas produções. O documento tentava “limpar” a imagem dos estúdios de cinema depois dos Loucos Anos 20, um período marcado pela efervescência cultural e ousadia e experimentação nas artes. O código incluía regras racistas, como a proibição de romances entre brancos e negros, e impedia afro-americanos de atuarem em certos papéis.

Isso limitava as possibilidades de atores negros a estereótipos, como o de escrava doméstica, e papéis pequenos, muitas vezes não creditados. Mesmo nessas circunstâncias, McDaniel conseguiu se destacar e conquistou o papel em …E o Vento Levou – o filme que lhe deu o Oscar, mas para o qual ela nem foi convidada para a estreia.

…E o Vento Levou estreou em Atlanta no dia 15 de dezembro de 1939. Foi um evento gigante, com 300 mil pessoas presentes e uma festa que durou três dias, com muitas bandeiras confederadas, em referência aos separatistas escravistas do sul dos Estados Unidos durante a guerra civil.

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McDaniel não foi convidada para a estreia do filme em Atlanta porque o sul do país, mesmo depois do fim da escravidão, mantinha as chamadas leis Jim Crow, que ordenavam a segregação de brancos e negros em espaços públicos. Somente 16 anos depois disso a ativista dos direitos civis Rosa Parks questionaria a legislação racista ao se recusar a abrir mão de seu assento no ônibus para um homem branco, dando início a um movimento que levaria ao fim das leis segregacionistas.

Apesar do desrespeito com McDaniel, ela foi muito elogiada pela crítica especializada por sua atuação e foi a primeira pessoa negra a receber uma estatueta do Oscar. Sua caminhada até o palco foi longa: em vez de estar sentada com o resto do elenco do filme numa mesa nas primeiras fileiras, ela e seus acompanhantes foram relegados a uma mesa segregada,no fundo do salão. Dá para assistir seu discurso emocionado:

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Ela era a única mulher negra daquela sala, a primeira a ser convidada para um prêmio da Academia. O produtor de …E o Vento Levou, David O. Selznick, precisou de uma autorização especial para levar McDaniel para o teatro do Oscar. Ela não podia nem tirar foto junto de seus companheiros de elenco, porque a Califórnia também continuava como um estado segregado e o Hotel Ambassador, onde aconteceu a cerimônia, não aceitava pessoas negras.

O Oscar demorou 24 anos para voltar a dar um prêmio para uma pessoa negra. O próximo a vencer foi o ator Sidney Poitier, em 1964. Artistas negros continuam sendo minoria na premiação até hoje: na história do Oscar, só 58 prêmios, em todas as categorias, foram entregues a pessoas negras.

Em 2015, internautas começaram a campanha #OscarsSoWhite, que criticou a predominância branca na premiação. Os prêmios estão começando a mudar, diversificando a base de votantes da Academia e abrindo as portas mais pessoas negras, asiáticas, latinas e histórias fora do eixo Estados Unidos-Europa. Nesse ano, há candidatos negros para as categorias de Ator, Atriz, Atriz Coadjuvante, Figurino, Trilha Sonora, Canção Original e duas indicações para Roteiro Adaptado.

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