House of the Dragon: como funciona a sucessão ao trono de ferro?
Não há leis claras no universo de “Game of Thrones”, mas a tradição sempre prefere herdeiros homens do que mulheres – daí o conflito retratado na série.
O rei está morto – e agora?
Esse é o dilema apresentado no nono episódio de House of the Dragon, após a morte de Viserys I (Paddy Considine), rei de Westeros desde o começo da série.
O foco da trama, a partir de agora, é a questão da sucessão: quem assume o trono com a morte de Viserys? Há duas opções que entrarão em conflito.
De um lado, sua filha mais velha, Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), tem a seu favor o fato de ter sido nomeada como herdeira oficial por seu pai. Do outro, Aegon II (Tom Glynn-Carney), o segundo filho do rei – primeiro com a sua nova esposa, Alicent Hightower (Olivia Cooke) –, cuja maior vantagem na corrida é o fato de ser homem.
O conflito é a base da Dança dos Dragões, o nome do período retratado na série e no livro Fogo e Sangue, de George R. R. Martin, o criador desse universo. O impasse parte do princípio de que há diversas interpretações sobre quem deve assumir o poder depois da morte do monarca. Mas, afinal, como funciona a sucessão ao trono?
As regras
A confusão vem do fato de que Westeros não tem um código claro e cristalizado de leis sobre a sucessão ao trono. Por isso, o dilema é analisado sob a ótica da tradição e de precedentes na história do trono.
Em geral, a sucessão do trono de ferro segue os mesmos costumes das outras casas nobres de Westeros. Elas seguem uma herança cultural dos ândalos – um dos principais povos a migrar e formar a população do continente (trazendo consigo, por exemplo, a Fé dos Sete, religião predominante nos Sete Reinos).
Essa tradição diz que um filho homem sempre tem prioridade sobre filhas mulheres, independentemente da idade. Mais: outros parentes homens têm preferência sobre as herdeiras mulheres. Ou seja, um irmão mais novo do rei seria preferível para herdar o trono do que uma filha.
Isso não significa que seja impossível para uma mulher herdar um cargo em Westeros. Isso acontece quando não há nenhum parente homem próximo na linha de sucessão. Na época retratada em House of the Dragon, a região do Vale de Arryn é liderada por uma mulher, a Lady Jeyne Arryn, que deve dar as caras na segunda temporada da série.
O trono de ferro segue uma lógica parecida: filhos homens primeiro, depois outros parentes homens, e, por fim, filhas mulheres. No reinado de Maegor I, o terceiro rei de Westeros, a herdeira escolhida pelo próprio monarca enquanto ele não tinha filhos foi sua sobrinha Aerea Targaryen.
O maior precedente sobre mulheres herdarem o trono, porém, aconteceu no Conselho de 101 – cena que abre o primeiro episódio da série. Na época, o rei Jaehaerys I se viu num dilema: ele tinha tido diversos filhos, mas quase todos haviam morrido antes dele, incluindo Aemon, o primogênito, e Baelon, o segundo filho.
Nisso, a dúvida da sucessão foi herdada por seus netos. De um lado, Rhaenys Targaryen (Eve Best), filha do primogênito do rei. Do outro, Viserys, filho do segundo filho. Pelas tradições da primogenitura, Rhaenys teria a preferência; Viserys, por outro lado, era homem.
A questão foi decidida numa grande votação que reuniu centenas de nobres de Westeros. No fim, Viserys foi eleito como rei, confirmando o precedente de que homens sempre são preferíveis ao trono.
Nos livros escritos por George R. R. Martin, o precedente vai além. Não só a reivindicação de Rhaenys foi descartada como também seu filho mais velho, Laenor Velaryon (John MacMillan), foi rejeitado pelos lordes. Isso significa que, pela tradição de Westeros, não só as mulheres são preteridas como também toda sua linhagem – mesmo que seus descendentes sejam homens.
As exceções
No fim, como não há leis claras e Westeros funciona como uma monarquia absolutista, a decisão cai nas mãos do próprio rei. Jaehaerys I convocou o conselho porque quis, mas a palavra final poderia ser só dele.
É esse o conflito de House of the Dragon: Viserys I escolheu a filha mais velha como herdeira ao invés do irmão, e não mudou de ideia mesmo depois de ter um filho homem, ignorando o precedente que colocou ele próprio no trono.
Por outro lado, a série e os livros deixam claro que, para reinar, um rei tem que ter apoio e ser aceito por outros nobres (e, em menor grau, pelo povo). E há aqueles que não aceitariam uma mulher como monarca – daí o conflito que será mostrado na série.
Vale lembrar que essas tradições que priorizam os filhos homens não são unânimes em todo o continente. Em Dorne, região dominada pela casa Martell, por exemplo, prevale o costume dos roinares (um outro povo que veio refugiado à Westeros séculos antes dos acontecimentos mostrados em House of the Dragon): o filho ou filha mais velho sempre será o herdeiro, independentemente do sexo.