Livro da Semana: “O Palácio da Memória”, de Nate DiMeo
O trem perdido por Edgar Allan Poe. As astrônomas esquecidas de Harvard. A mulher que se disfarçou de homem para fugir da escravidão. Em textos deliciosos, "O palácio da memória" reúne 50 histórias instigantes.
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O americano Edgar Allan Poe (1809-1849) foi um dos maiores escritores do século 19. É autor de clássicos como o poema narrativo O Corvo, além de vários contos de terror e mistério, e influenciou diversos autores da geração seguinte, como Arthur Conan Doyle e Oscar Wilde.
Mas, apesar do talento, Poe teve uma vida sofrida, regada a muito álcool. Até hoje, ninguém sabe exatamente como ele morreu, aos 40 anos, ou sequer como foram seus últimos dias. Mas uma coisa é certa: muito dos infortúnios finais de sua vida aconteceram porque ele pegou um trem errado.
Desde 2008, Nate DiMeo apresenta o podcast O palácio da memória (em inglês, “The memory palace”), no qual se propõe a contar histórias curiosas. O mote é simples, como mostra a capa da coletânea lançada no Brasil pela Todavia: “pessoas extraordinárias em tempos conturbados”.
O livro reúne 50 crônicas que se passam, em sua maioria, nos EUA e na Europa do século 19 e início do século 20. Em uma época de efervescência tecnológica e cultural, não faltam personagens famosos, como o próprio Poe e Guglielmo Marconi, tido como o pai do rádio (embora não tenha, de fato, inventado o aparelho).
Contudo, são as histórias de pessoas comuns e desconhecidas que mais saltam aos olhos. Charles Hatfield foi um charlatão que dizia conseguir fazer chover – ele foi, inclusive, contratado por uma cidade da Califórnia para o “trabalho”. Já Williamina Fleming, Annie Jump Cannon e dezenas de outras astrônomas de Harvard identificaram mais de 400 mil estrelas e criaram o método para classificá-las, usado até hoje. Só que, por muito tempo, o único a levar crédito foi o chefe delas, Edward Pickering – uma história tão interessante que já a contamos nesta reportagem.
Não faltam assuntos e personagens para DiMeo. Há o caso de um jovem cientista que recebeu uma tarefa ingrata: ser babá de uma bomba atômica. Tem também a história de Ellen Craft, uma escrava americana de pele clara que se disfarçou de homem branco para fugir com o marido William, também escravo. Eles conseguiram – e viraram símbolos do abolicionismo. Há espaço também para causos animais, como a história de Leo, o leão que aparecia no símbolo dos estúdios MGM, e a da lagosta, que passou de uma comida de gente humilde para queridinha da alta sociedade.
DiMeo já venceu diversos prêmios pelo trabalho. Em 2016, seu podcast foi indicado ao prestigiado Peabody Awards, que reconhece indivíduos, instituições e veículos de mídia que prestam serviços públicos de excelência. Merecido: seus textos são curtos, ágeis, informativos, divertidos e emocionantes. É o livro de cabeceira perfeito.
Mas talvez o maior trunfo de O palácio da memória esteja em mostrar que, às vezes, uma boa história não precisa de universos fantásticos, personagens místicos ou enredos mirabolantes. Basta olhar ao nosso redor – no mundo real.
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