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Livro da semana: “O Som e o Sentido”, de José Miguel Wisnik

Uma viagem pela história dos sons e silêncios, que começa na natureza física das ondas e passa pelas músicas de povos e eras variados – tudo acompanhado por uma playlist online.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 set 2020, 13h57

“O Som e o Sentido” | Clique aqui para comprarLivro da semana: “O Som e o Sentido”, de José Miguel Wisnik

Quem já acompanha nossa série de posts sobre livros há alguns meses vai notar algo fora do padrão: até agora, nossas sugestões foram obras clássicas das ciências naturais. O Som e o Sentido é um catatau sobre música, escrito por um dos maiores estudiosos de música e literatura do Brasil. Mas por que você, nerd leitor da SUPER, deveria dar uma chance a esse pitel?

O motivo é que a música é ao mesmo tempo a mais exata e mais abstrata das artes. Uma nota não é um signo, ela só significa algo em relação às notas que vem antes e depois dela (ou que soam junto a ela). A música é como uma linguagem que tem gramática, mas não tem vocabulário.

Essa gramática é construída com uma exatidão que fascina a humanidade desde muito antes da física newtoniana. Em 550 a.C., Pitágoras criou um instrumento de cordas rudimentar, o monocórdio, e com ele desvendou as proporções matemáticas que regem o funcionamento de cada guitarra, baixo ou cavaquinho de hoje.

O aparato consistia em uma corda só, esticada sobre uma caixa de ressonância. Um cavalete deslizante prendia a corda em diferentes pontos de seu comprimento. Quando a corda está mais curta, ela emite um som mais agudo. Quando está mais longa, um som mais grave.

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Pitágoras percebeu que, se usasse o cavalete para dividir a corda em frações simples (digamos, dois terços ou três quartos de seu comprimento), ele conseguia notas mais agudas que soavam de forma agradável em combinação com a nota mais grave emitida com a corda solta, sem interrupção do cavalete. A descoberta dessas frações permitiu a ele determinar as relações matemáticas entre as notas da escala diatônica, usada na música Ocidental até hoje. O braço de todo instrumento de corda é dividido aproximadamente nessas proporções.

Wisnik começa a obra por aí: nos tijolos que constroem a música. Fala da física por trás das ondas, de como uma sequência de pulsos cada vez mais acelerados sai do campo do ritmo e entra no campo da frequência. Depois, passa pela música modal, e nos apresenta jeitos de organizar sons e silêncios de povos e tempos variados – todos alienígenas e fascinantes para nós, que crescemos basicamente em contato com a música ocidental. Na China, encontramos um significado político nas escalas pentatônicas, no mundo árabe, podem haver 24 notas em vez das 12 da nossa escala cromática.

Wisnik não economiza adjetivos na hora de criar paisagens sonoras – e se deixa levar por reflexões extremamente profundas em cada parada que faz. Com o livro, vem uma playlist online que ilustra todos os tópicos abordados. Leia com fones: é hipnotizante. Principalmente para quem aprendeu um pouquinho de violão ou piano na infância, e não se deu conta de que apenas molhou os pés no imenso oceano da história da música.

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