O novelo da inteligência
A sociedade da mente, Marvin Minsky, Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1989
Anthony de Christo
Por que o humor se nutre tanto de assuntos desagradáveis, penosos ou desprezíveis? De acordo com Marvin Minsky, fundador do Laboratório de Inteligência Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, a resposta está nos cen¬sores da mente – sempre preocupados em bloquear “maus pensamentos”. E o humor é uma uas formas bem-suee¬uidas de apanhÚ-los com a guarda bai¬xa, Tanto isso seria verdade que uma piada ouviua pela segunda vez não tem tanta graça: os censores já esta¬riam preparados para agir com maior rapidez e eficiência, Minsky. um dos pioneiros da ciência da computação, está mergulhado na elaboração das bases para uma nova e revolucionária concepção da psicologia humana. Este livro é resultado daqueles estudos.
Para o autor, a mente é uma espécie de sociedade cujos componentes desde os neurônios aos processos de associação de idéias se compor¬tariam como peças de um quebra-ca¬beça dinftmico. Ou seja, embora inca¬pazes de raciocinar por si, produzi¬riam ao final da montagem um quadro unificado da inteligência humana. A erudição de Minsky proporciona ao leitor uma inebriante sucesso de exemplos. Graças a isso, mesmo nas passagens mais especializadas, a leitura é agradével. As ilustrações, o glossário e a bibliografia fazem de A sociedade da mente um livro de consulta que deve estar sempre à mão. Para os que podem estranhar a estrutura pouco lógica da narrative, Minsky tem uma resposta na ponta da lingual: A mente é complexa demais para se adequar aos moldes de narratives que comçam aqui e terminam acolá; um intelectuo humano depended as conexões num emaranhado que simplesmente não funcionaria caso fosse desembaraçado.
Anthony de Christo
Arquivo do passado
O povo do lago, Richard E. Leakey e Roger Lewin, Editora UnB/Melhoramentos, São Paulo, 1988
Maria Inês Zanchetta
Na margem este do lago Turkana encravado entre o norte do Quênia e o sul da Etiópia na África Oriental, encontra-se o que os pesquisadores chama de o arquivo fóssil da humanidade. Afinal, ali foram desenterrados entre 1968 e 1978 fragmentos de fósseis de centenas de criaturas pré humanas. Juntando os pedaços, foi possível aos cientistas recontruir um pouco da trajetória da espécie nos últimos 2 ou 3 milhões de anos. À frente das descobertas estava o pesquisador queniano Richard Leakey, filho dos célebres antropólogos Mary e Louis Leakey, descobridores de fragmentos fossilizados de hominídeos na década de 50. Richard aliou-se em 1975 a Roger Lewin, editor da revista inglesa New Scientist.
Dessa associação resultou a publicação do já clássico Origens (Melhoramentos/ UnB, São Paulo, 1980). O povo do lago é outro fruto apetitoso do trabalho da dupla. Nele, além de hstoriar as mais importantes descobertas de fósseis de hominídeos. Leakey e Lewin. a partir de ossos e obj ¬tos fossilizados. traçam um esboço cuidadoso da estrutura biológica da¬queles ancestrais do homem e descre¬vem o que imaginam ter sido a sua vi¬da diária. Alternando fatos e hipóteses, oferecem mais uma contribuição valiosa para esclarecer as ainda obscu¬ras origens da humanidade.
Romance de História
A Conquista do México, Mustafa Yazbeck, Àtica, São Paulo, 1988
Pré-História, Antonio Olivieri, Ática, São Paulo, 1988
Antonio Auguto da Costa Faria
Esta coleção foi concebida para tornar o aprendizado da História uma atividade agradável e acessível. Por meio de tex¬tos ficcionais bem elabora¬dos. o leitor toma contato com o dia-a-dia dos ho¬mens na sua luta pela so¬brevivência. Nos dois mais novos livros da coleção. que já tem dezenove lan¬çamentos. o historiador e escritor Mustafa Yazbek focaliza a cultura asteca quando da conquista do México pelos espanhóis, enquanto o historiador Antoino Car¬los Olivieri mostra os primeiros e difíceis passos do remoto antepassado do homem.
Para Yazbek. “mais que um sim¬ples rclato sobre o cotidiano de um povo”. seu livro “narra a desinte¬gração de toda uma sociedade atra¬vés do choque entre dois mun¬dos. que se en¬frentam num dos episódios mais violcntos da His¬tória humana”, Depois desse em¬bate sangrento, que levou os remanescentes astecas a vagar como fantasmas por uma América que já não era sua, ficou apenas a certeza de que aquela sociedade pereceu antes de ter florescido completamente.
O livro de Olivieri sobre a Pré¬História, período que abrange dcs¬de as origens da atividaue humana até o surgimento da escrita. come¬ça desfazendo um persistente equí¬voco: “Quando se fala em Pré¬História. é comum se pensar numa época longínqua. quando o mundo era habitado por gigantescos dinossauros e homens rudes. A verdade é bem diferente. Há mais de 100 milhões de anos. quando os dinossauros passeavam pelo planeta. faltavam cerca de 90 mi¬lhões de anos para surgir o primeiro mamífero que pode ser considerado um antepassado do homem”.
Contagem progressiva
Os números a história de uma grande invenção, Georges Ifrah, Editora Globo, Rio de Janeiro, 1989
Silvio Atanes
O homem aprendeu a contar desde os tempos mais remotos, mas a invenção dos números foi um acontecimento lento e gradual. O marroquino Georges Ifrah, 42 anos, professor e historiador de matemática, que vive em Paris mostra que os números foram aparecendo de acordo com as necessidades do dia-a-dia. Se um pastor, por exemplo, não tivesse de contar seus animais, provavelmente nunca precisaria de números. O livro, muito bem ilustrado, traça a hist´roia dos números desde quando eram apenas intuídos como expressões e coisas reais e não como entidades abstratas. O pastor que fazia um risco num pedaço de osso para cada animal que recolhia a qualquer momento podia contar o rebanho pelo simpks cotejo entre riscos e ani¬mais. ou seja. contava sem conhecer nenhum algarismo. A grande quali¬dade do livro é a linguagem. que é bem acessível. .
Ifrah escreveu pensando nos .jo¬vens leitores, lembrando-se com cer¬teza da vez em que empacou quan¬do um aluno lhe perguntou de onde vinham os números. No final das contas, o leitor terá desvendado os primeiros segredos dos algarismos, como se tivesse estudado um daque¬les simpáticos livrinhos de tabuada de antigamente.