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Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 31 out 1991, 22h00

O professor irreverente e as artimanhas da ciência

O que é uma lei física, Richard P. Feyman, Gradiva, Lisboa, 1989

Flávio Dieguez

O físico alemão naturalizado americano Hans Bethe, um dos mais importantes da atualidade, diz que existem dois tipos de gênios da ciência. Os primeiros fazem um trabalho que desperta a admiração dos outros cientistas, mas lhes deixam a impressão de que poderiam fazer o mesmo, desde que se dedicassem com afinco. Já os gênios do segundo tipo fazem mágicas. Têm idéias totalmente inesperadas, que ninguém mais tem. Na opinião de Bethe, o americano Richard Feynman, autor deste livro (em 1965 e só recentemente traduzido para o português), era um desses mágicos. Falecido aos 69 anos, em 1988, Feynman já era uma estrela nos meios acadêmicos quando se tornou conhecido do grande público, ao participar da comissão que investigou o acidente com a nave espacial Challenger, há quatro anos. Chamou de imediato a atenção pelo estilo direto de questionar, na TV, as autoridades do programa espacial. E acabou encantando os espectadores pela forma como demonstrou que a provável causa do desastre era uma das juntas elásticas de vedação usadas nos tanques de combustível da nave.

Diante das câmaras, mergulhou uma junta igual num copo de água gelada, mostrando com clareza a milhões de pessoas que ela se deformava consideravelmente. Como fez frio no dia do acidente, esse evento não previsto pelos técnicos pode ter levado a nave a explodir. Neste livro, Feynman utiliza o mesmo estilo direto para descrever e interpretar a seu modo alguns dos mais importantes truques dos grandes mágicos, como diria Bethe, que a Física já viu ao longo dos séculos – do italiano Galileu Galilei ao alemão Albert Einstein. Mas não se trata de história: o autor se concentra efetivamente nas idéias, não importa quando surgiram. Apresenta os nós cegos da natureza e as artimanhas inventadas para desatá-los – as próprias leis matemáticas da ciência. O inglês Isaac Newton, por exemplo, imaginou a lei da gravidade: isto é, supôs que existia uma força que, mesmo invisível, denunciava a sua presença, fazendo com que os objetos caíssem sobre a Terra. A partir dessa idéia, pôde calcular a órbita dos planetas, uma proeza que outros haviam tentado sem sucesso.

Nessa época, brinca Feynman, “algumas pessoas diziam que atrás de cada planeta havia um anjo escondido a empurrá-lo.” Newton procurou ser mais preciso e chegou a formular uma lei da natureza. O que o autor tenta mostrar, de certo modo, é a diferença entre uma “idéia-anjo” e uma idéia científica, assinalando, com razão, que não houve mudança essencial entre as descobertas do passado e as mais estranhas construções da Física moderna. Destas últimas, Feynman participou com brilho e as descreve com um sabor especial. Mas logo de “início adverte: “Ao discutir a gravitação estou sendo totalmente moderno”. Nesse caso, uma de suas reflexões mais profundas é a de que as leis da Física, além de sempre terem uma forma matemática, são também sempre inexatas. Isso vale, por exemplo, tanto para a gravitação newtoniana quanto para a lei que a corrigiu, a gravitação einsteiniana. “Existe sempre uma fronteira de mistério”, pondera Feynman, imaginando se essa inexatidão não seria, ela mesma, uma lei da natureza. No esforço de transpor aquela fronteira, o que se busca hoje é a unificação das teorias relativísticas de Einstein com as teorias quânticas: afinal, umas e outras procuram descrever o espaço, o tempo, a energia e a matéria. Mas matematicamente não se encaixam, são inexatas, diz Feynman.

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Ele deve saber. Em 1965, recebeu o Prêmio Nobel justamente por ter dado um dos primeiros passos na direção desse casamento, criando uma teoria onde se integravam, até certo ponto, os dois grandes pilares da Física moderna. Realizou esse trabalho ainda relativamente jovem, como convém aos mágicos do ramo, entre os 27 e os 31 anos. Não admira: garoto, havia sido uma espécie de celebridade em Queens, o bairro nova-iorquino onde morava, por saber consertar rádios como um profissional. Aos 22 anos, trabalhava na construção da primeira bomba atômica, no projeto secreto de Los Álamos, nos Estados Unidos. E sempre arranjou tempo para divertir-se – de maneira pouco acadêmica. Aprendeu a arrombar cofres, a desenhar nus, a decifrar a escrita maia e tocar bongô. Chegado a uma festa, desfilou certa vez no carnaval carioca. Ah, sim, também falava português. Tais predileções não se deixam entrever neste livro, cujo estilo é o de uma aula enxuta e densa. Mas, quem quiser ter uma sólida idéia dos métodos que os físicos usam para decifrar o mundo dificilmente poderá encontrar um professor mais irreverente e informal.

 

 

 

 

O céu deste ano

Anuário de Astronomia 1990, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Livraria Francisco Alves Editora, 1990

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Pela décima vez consecutiva, o público leigo tem à sua disposição um anuário que reúne informações sobre os calendários cristão, gregoriano, muçulmano e israelita, a posição dos planetas e os eventos astronômicos que ocorrerão durante o ano. O livro traz ainda um resumo atualizado da viagem da Voyager pelo sistema solar.

 

 

O mapa da mina

Para ler Galileu Galilei, Carlos Arthur do Nascimento, Nova Stella Editorial/Educ, São Paulo, 1990

Trata-se de um guia para a leitura do Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo, escrito por Galileu em 1632 e que ainda não mereceu uma edição brasileira. Nascimento, doutor em filosofia e professor da Universidade Católica de São Paulo, define seu trabalho como um mapa destinado a orientar os leitores da obra do genial astrônomo italiano.

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A dama e os nativos

Margareth Mead, Phyllis Grosskurth, Casa Maria Editorial, Rio de Janeiro, 1989

A autora, biógrafa canadense, reconstitui a movimentada trajetória da antropóloga americana Margareth Mead (1901-1978), cujas pesquisas de campo mudaram a maneira de estudar os chamados povos primitivos. Espécie de grande dama da moderna Antropologia, Mead ficou famosa por um trabalho sobre os nativos das Ilhas Samoa, no Pacífico Sul, publicado em 1928. Depois de sua morte, porém, o livro foi alvo de impiedosa revisão: descobriu-se que, enganada pelos nativos, a cientista acabou idealizando o seu estilo de vida.

 

 

 

 

Procura sem fim

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O sonho de Einstein, Barry Parker, Edições 70, Lisboa, 1988.

Albert Einstein dedicou as últimas décadas da vida à busca de uma teoria capaz de explicar de forma unificada a ação das forças que governam o Universo. Neste livro, o astrônomo americano Barry Parker, da Universidade de Idaho, apresenta as etapas pelas quais já passou essa interminável procura – cuja grande estrela atual é o inglês Stephen Hawking.

 

 

 

 

Tempos de terremoto

A Rússia durante a Revolução de Outubro, Jean Marabini, Companhia das Letras/Círculo do Livro, São Paulo, 1989

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Apesar dos tropeções retóricos do autor, jornalista francês, uma apaixonante reconstituição do dia-a-dia em São Petersburgo, atual Leningrado, sob o impacto do maior terremoto político do século: o nascimento da União Soviética, em 1917. Mesmo não sendo uma história da implantação do comunismo na Rússia, ajuda a compreender como começou aquilo que por obra de Gorbachev, talvez nunca mais seja o que foi.

 

 

 

 

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