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Música: House nation

Cansado de lenha?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h58 - Publicado em 30 nov 2003, 22h00

Claudia Assef

Nova geração de djs do rio, SP e brasília se soma aos veteranos da house para dar novo fôlego ao estilo. a tal “house jamanta” atrai novos fãs, reconquista antigos seguidores e lota festas como a freak chic e a colors, em São Paulo

Dançar o set da DJ Heather, um dos maiores nomes da house music de hoje, não foi tarefa pra qualquer um. Direto de Chicago para a cabine do clube D-Edge, em São Paulo, a moça deve ter ficado tão espantada quanto eu com a recepção calorosa que recebeu dos brasileiros quando esteve por aqui, em meados de outubro.

Às três e pouco da manhã, horário nobre de seu set, a pista lembrava os áureos tempos do clube Massivo: era uma almôndega só, uma massa de gente dançando grudada. Só que, ao contrário do que acontecia no clube gay mais famoso que São Paulo já teve, a pista do D-Edge se movia como uma massa involuntária. Apinhada, a galera dançava do jeito que dava – a maioria com as mãos próximas do corpo, no estilo soldadinho de chumbo.

A dancinha espremida nada tinha a ver com moda ou com pegação. O clube estava mesmo lotadinho da silva. Com fila na porta, só se conseguia um lugar ao sol, ou melhor, na pista, na base do “sai um, entra um”.

O mais bizarro é que o sucesso da noite pouco teve a ver com a fama da DJ Heather no Brasil – ela nunca havia tocado por aqui, não tem discos lançados aqui nem integra listas de top DJs das revistas gringas. Na verdade, o sucesso daquela e de outras festas de house Brasil afora tem mais a ver com uma tendência: cansada de tanta bombação movida a lenha – gíria para tecno pesadão – pistas de várias cidades do país (re)abriram espaço para a house. E eu que sou fã do gênero desde garotinha acho o máximo.

A noite Freak Chic, que rola às sextas no D-Edge, tem boa parcela de “culpa” nisso. Além de seus residentes, os veteranos da house Marcos Morcerf e Luiz Pareto, ao lado do próprio dono do clube, Renato Ratier, a Freak Chic investe na vinda de novos talentos de outros estados: Jonas Rocha, Gustavo Tatá, RM2, Gustavo MM… Mas foi bancando a vinda de DJs gringos que a noite pegou fama: este ano passaram por lá James Curd (do Greens Keepers), Luke Solomon (do superselo Classic), Diz Washington (idem), David Duriez e Mazi (ambos do selo francês Brique Rouge). Entre os nomões da house, só faltou trazer as estrelas Mark Farina e Derrick Carter – fica aí registrado o pedido, tá?

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Gringos e brasileiros dessa nova geração de houseiros têm em comum o gosto por um novo tipo de música: a freak house. Daí o nome da noite no D-Edge e também de selos como o inglês Music for Freaks e o francês Freak’n’Chic.

Mais debochada que a house tradicional, a freak house não demorou para ganhar tradução engraçadinha em português. No jargão dos DJs e fãs mais antenados, o termo “house jamanta” já pegou. Um dos maiores entusiastas do gênero é o produtor musical Eduardo Marote. Fã de carteirinha dos selos Classic e Music for Freaks, ele mantém, junto com o DJ Jonas Rocha, projetos de música eletrônica que traduzem bem a “jamantice” em som. Sua house vem sendo apresentada em live PAs (apresentações ao vivo) sob os codinomes Gongolóid e Prztz. As músicas dos dois projetos serão lançadas em breve, apenas em vinil, pelo Jamanta Recordings, subselo da gravadora Segundo Mundo (do próprio Marote). O mesmo selo também vai lançar bolachas de Nego Moçambique, Droors e RM2.

“Jamanta é uma palavra que surgiu pra diferenciar a música que não tinha nada a ver com a house tradicional nem com o som progressivo”, diz Marote. “Jamanta é um som mais ousado, debochado e funkeado.” No Brasil, boa parte dos DJs de house que adotaram a “jamantice” vêm do Rio. Nomes como Gustavo Tatá, Jonas Rocha, RM2 e Gustavo MM começaram a ouvir e tocar esse som nas noites de sexta-feira do Barman Club, em Copacabana, entre 2000 e 2001. Em São Paulo, outra festa de house começou a atrair a atenção – e ouvidos – de gente cansada de som pesado. Os irmãos e DJs Wander A e Wagner J atinaram para a falta de festas do gênero há cerca de dois anos e meio. Foi quando fizeram a primeira Colors. A noite começou num bar, passou pelo finado clubinho Next, viveu momentos memoráveis no mezanino do edifício Copan e emplacou de vez quando foi para o Brahminha – espaço anexo ao tradicional bar Brahma, que tem entre seus “residentes” os Demônios da Garoa. Hoje, a Colors é sucesso na programação do Supperclub, na Barra Funda, onde acontece um sábado por mês.

“Os outros gêneros vão passando, e a house se mantém em constante evolução”, avalia o veterano Pareto, que desde o começo da carreira, no início dos anos 90, optou pela house. Outra festa que iniciou muita gente no gênero foi a React, do DJ Mimi. Promovida mensalmente numa rua de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, a festa já reuniu milhares de pessoas dançando (de graça) ao som de novos talentos, como os DJs Reba e Sidney Gomes.

Não importa se foi a house jamanta, a noite do D-Edge ou os DJs cariocas. Fato é que a house music atravessa hoje uma fase feliz no Brasil. Nada mais justo então a gente se lembrar daqueles que nunca arredaram pé do estilo: graças a DJs como Gil Barbara, Felipe Venancio, Anderson Soares, Maurício U.M., Morcerf, Marquinhos Mesquita, Edu Corelli, Robinho e Pareto a house nunca deixou de respirar. E para terminar no melhor estilo jamanta, evoco o Gugu: “Viva a noite!”

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A história da house em três estações

1. Frankie Knuckles e Larry Levan, dois pilares fundadores da house, chegaram a tocar disco music juntos numa sauna gay de Nova York, a Continental Baths. Depois, a dupla se separou: Levan foi fazer história no clube Paradise Garage (NY), e Knuckles mudou-se para Chicago, onde assumiu os toca-discos do clube Warehouse – que deu o nome ao gênero.

2. O francês François Kevorkian mudou-se para NY nos anos 70, procurando emprego como baterista. Após ver Levan tocando, resolveu virar DJ. Hoje, François K é um dos mais respeitados DJs do mundo.

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3. “On and On”, lançado por Jesse Saunders em 84, é considerado o primeiro single de house da história – saiu pelo selo do próprio DJ, o Jes Say Records.

Internet

Underground house

Combina loja, biblioteca de sets e traz críticas atualizadas de discos. https://www.undergroundhouse.net

Deephouse

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Site que tem o maior número de sets históricos da internet. Aula de house sem sair da frente do computador. https://www.deephouse.com

Classic

Site do selo dos DJs Derrick Carter e Luke Solomon, um dos preferidos dos DJs de house para fazer compras. https://www.classicmusiccompany.com

In da house

Uma discoteca básica
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The Album (1993) – Masters At Work

Selo: Cutting (importado)

Primeiro disco da dupla de DJs e produtores de Nova YorkLittle Louie Vega e Kenny Dope

Paradise Garage (1995) – Larry Levan

Selo: salsoul (importado)

CD póstumo do mestre da house Larry Levan (54-92). Por causa de sua residência no Paradise Garage (NY) foi criado o termo garage house

San Francisco Sessions V.1 (1999) – Mark Farina

Selo: om (importado)

Primeiro da série San Francisco Sessions, mixado pelo papa de Chicago Mark Farina

Thanks For Coming By (2001) – Derrick Carter & Luke Solomon

Selo: Classic (importado)

Disco duplo mixado pela dupla número um da “house jamanta”. Os caras são donos do selo Classic

Trax Records Essentials v. 1 (2003) – Vários Artistas

Selo: sum records (nacional)

O supra-sumo da house dos anos 80 está nesta coletânea da gravadora Trax, de Chicago

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