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Nasce um rei, Roberto Carlos

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Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

Um rapaz tímido e baixinho vindo do Espírito Santo, que tentara meter-se na música pela bossa nova, que cantou rock nos programas de Carlos Imperial, andava com os suburbanos da Tijuca e compunha com outro zé-ninguém com o mesmo segundo nome, “Carlos”. Em dezembro de 1963, Roberto Carlos começou a sedimentar a trajetória mais impressionante da música popular brasileira. Com dois sucessos nacionais – “Parei na Contramão” e “Splish Splash” –, o cantor se destacou no meio de dezenas de súditos do “rei do rock” Sérgio Murilo para inaugurar seu próprio reinado. A entrevista a seguir foi publicada originalmente na revista Bizz, em agosto de 1988, e revela as bases roqueiras sobre as quais foi firmada a mais forte relação entre um artista e o povo brasileiro.

“Zunga” era o quarto filho de seu Robertino Braga e de dona Laura Moreira Braga, família classe média da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, interior do Espírito Santo. Do colégio Cristo Rei levaria o temor religioso (e um medalhão que usaria por toda a vida); do Conservatório Municipal levaria o domínio tímido do piano e violão.

Aos 13 anos, Zunga deixou sua cidade e foi morar com a tia Dindinha em Niterói – onde estudava e tentava lançar-se como cantor em programas de rádio da capital. Em 1956, toda a família de Zunga (ou, àquela altura, Roberto Carlos, como se apresentava) resolveu se mudar para o Rio de Janeiro. Foi quando o garoto, como todos de sua idade, descobriu o rock’n’roll. Na curva para os anos 60, entretanto, o bom gosto impôs a bossa nova até entre os adolescentes da periferia – como Roberto e seus novos amigos cariocas, Erasmo e Tim Maia. Roberto dividiu-se entre a razão e o coração até o final de 1963, quando emplacou, ao mesmo tempo, uma versão de “Splish Splash”, do americano Bobby Darin, e o original “Parei na Contramão”. Aquilo era fresco como seus 22 anos, popular como a história do menino do interior vencendo na cidade grande, sintonizado com o rock à Beach Boys, com a Motown e as raízes nacionais de Tony Campello e Sérgio Murilo. Era um novo capítulo da música jovem brasileira.

Sua primeira gravação foi um compacto de 1959, pela Polydor, com “João e Maria” e “Fora do Tom”, duas canções bossa-novistas. Antes, foi recusado na Chantecler, na RCA, na Philips e na Odeon até conseguir chegar à CBS. Essa incompreensão, logo de saída, não levou você a pensar em desistir?

Pensar em desistir, não. Mas eu ficava pensando em quantas gravadoras ainda sobravam para bater na porta. A CBS foi a última delas. Cheguei para o Carlos Imperial e disse: “Lá tem um cara chamado Roberto Côrte Real. Como ele é Real e você Imperial, quem sabe sai alguma coisa” (risos). Basicamente, os responsáveis por esse começo foram três pessoas: o Chacrinha, que me levou para a Polydor, o Imperial, que me levou para a CBS, e o Côrte Real.

Côrte Real disse que precisava de você para segurar o Sérgio Murilo, que era o “Rei do Rock” no início dos anos 60. O que ele te propôs? Algum tipo de música, de produção? Ou foi tudo coisa sua?

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Na verdade, na época eu não sabia de nada disso, estava lá só para cantar. Ele me propôs fazer um disco variado – porque até então eu havia gravado só bossa nova. Ele me disse: “Precisa ter um pouco de rock”, e eu respondi: “Então está bom”. Fiz um disco com boleros, baladas e rocks. Foi meu primeiro LP, de 1961, Louco por Você. Teve uma execução razoável, mas não vendeu – somente umas quinhentas cópias.

Vamos voltar para o começo, quando você era menino, e, na rádio de Cachoeiro de Itapemirim, fazia covers de Bob Nelson. Em que momento descobriu que cantava?

Minha mãe disse que nasci cantando (risos). E, antes de falar, assobiava. Uma nota só, mas assobiava (risos). Aos 5 anos, 6 anos, chegava gente em casa e minha mãe me mandava cantar. Envergonhado, cantava escondido atrás da porta. Quando tinha uns 9 anos, minha mãe sugeriu que eu fosse a um programa de rádio.

Você lembra a primeira música que cantou?

Na época se cantava muito bolero, tangos – a música cantada em espanhol fazia muito sucesso. Era a época do Gregorio Barrios, do Fernando Borel. Cantei um bolero chamado “Amor y Más Amor”, do Borel. Depois, comecei a cantar em português os sucessos de Nelson Gonçalves. Mas as músicas de Bob Nelson eu cantava em casa. Tinha aquela coisa de gostar de caubói, de uma música que falava da vaca Salomé.

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Após alguns anos, você mudou para Niterói e depois para o Rio de Janeiro, onde, em 1958, conheceu o Erasmo Carlos e o Tim Maia, com quem formou o grupo The Sputniks. Como descobriu esse povo e o rock?

Depois que comecei no rádio em Cachoeiro, me deram a chance de fazer um programa meu, de 15 minutos, duas vezes por semana. Tinha um regional que me acompanhava. De vez em quando, eu ia a Niterói com minha mãe, porque tínhamos uns parentes lá. Mais ou menos com 14 anos, fui ao Rio. Fiz alguns programas de rádio e disse a minha mãe que queria ficar por lá, tentar a vida artística. Fiquei um ano estudando em Niterói e cantando no Rio, em programa de calouros. Minha mãe então se mudou para o Rio e saí da casa de minha tia. Era mais fácil, não precisava mais tomar a balsa. Entrei na escola Ultra, na Praça da Bandeira, onde fiz o Artigo 91 (curso supletivo). Lá conheci o Arlênio Lívio, que era da Rádio Nacional. Ele conhecia o pessoal da Rua Matoso, na Tijuca. E essa rua dava na Barão de Itapagipe, em frente à casa do Tim Maia. O Erasmo morava por ali e a gente se encontrava, ficava tocando violão. Aí já estava rolando o rock, tinha pintado o sucesso do “Rock Around the Clock”, com o Bill Haley. No Cine Roxy passou o filme Juventude Transviada, com o James Dean. Eu tinha um blusão como o dele, vermelho, usava botas e cantava “Tutti-Frutti”. Um cara chamado Otávio Terceiro, que era assistente do Chiara de Garcia, apresentador de um programa de televisão, me levou para o Teletour, da TV Tupi. Cantei “Tutti-Frutti” e já comecei a ficar mais conhecido na escola. Aí comecei, ao lado do Erasmo, do Edson Trindade e do Zé Roberto, que a gente chamava de “Tininha”, porque fazia uma voz aguda, gostava de vocalizar. E, na época, aprendi um negócio que me deixou deslumbrado, que era a batida que o Tim Maia fazia no rock, em “Long Tall Sally”. Ouvi, fui para casa e fiquei tocando a noite inteira. Aquilo mudou minha forma de tocar. Foi então que fizemos o Sputniks. Depois vieram o Snakes. Como eu era o vocalista, mudamos para Roberto Carlos & The Snakes. E nos apresentamos no programa do Imperial, o Clube do Rock. Ele gostou muito e me apelidou de “Elvis Brasileiro”, mas só porque eu cantava músicas dele. Quem tinha mesmo aparência de Elvis era o Erasmo. Ele tinha aquele andar, que tem até hoje. No que a gente falava, ele ficava mais parecido ainda (risos).

Qual era a formação? Guitarra, baixo, bateria…?

Que guitarra? Era violão acústico! (risos)

Quanto tempo demorou para a coisa ficar elétrica?

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Foi alguns anos mais tarde. Quando a gente pintava em algum lugar que tinha um cara com baixo ou bateria, era uma festa. A gente fazia mesmo só com dois violões.

Já havia composições suas e do Erasmo?

Não havia, não. Era Elvis, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Tommy Sands, Chuck Berry, Buddy Holly, Gene Vincent. “Be Bop a Lula” tinha sempre. Mas de repente o Clube do Rock saiu do ar, não pintavam mais shows, a grana encurtou e a coisa começou a ficar delicada. Comecei a precisar de um emprego. Mas, peraí… Esse emprego veio depois. Antes a gente tinha conhecido um cara chamado Ataliba Santos, que disse que ia fazer um grande trabalho conosco. Acabamos indo parar em Volta Redonda, catando cacos de show. Eu tinha 17 anos e esse período rolou por dois anos. Foi aí que começou a pintar a bossa nova. Tinha uma prima casada com um cara chamado Amaral, que era gerente da boate Plaza. João Gilberto já tinha aparecido cantando “Desafinado”, “Chega de Saudade”, e fiquei apaixonado por aquilo.

Do rock à bossa nova você passou por uma mudança harmônica brutal. Você aprendeu sozinho?

Bossa nova eu só cantava. Não tocava aquele violão todo, não (risos). Fiquei lá (na boate) nove meses. Era crooner. Tinha uma banda com o João Donato. Foi no Plaza que um dia o Imperial vinha passando, viu minha foto na porta e entrou: “Ô meu filho, você por aqui? O que está fazendo?” “Estou cantando bossa nova.” “O quê? Bossa nova? Quá-quá-quá… Eu vou levar você a alguns lugares.” E me levou. Conheci o Carlos Lyra e, certa vez, eu e Erasmo tivemos uma grande noite, na casa de Nara Leão. Foi assunto para um mês inteiro. Imperial me apresentou ao Chacrinha, que me apresentou ao Rafael de Almeida, da Polydor, onde fiz meu primeiro single (João e Maria, de 1959). Não vendeu nada. Foi aí que arrumei um emprego no Ministério da Fazenda.

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Ficou muito tempo?

Uns dois anos. Nesse período, gravei na CBS. O disco tocava, mas a gente não fazia show, não pintava uma grana. Fui transferido para o Ministério da Educação e Cultura e pedi para ir para a Rádio MEC para ver se conseguia fazer um programa lá. Na época, não existia o divulgador da gravadora, a gente tinha de ir à rádio direto, convencer o cara a tocar. Foi quando pintou o primeiro sucesso, “Splish Splash” (de 1963, versão de Erasmo para a música de Bobby Darin). Grana ainda não pintava, mas foi quando comprei minha primeira guitarra, uma Giannini.

Você ainda a tem?

Devo ter. Minha mãe deve ter guardado. Depois veio uma Phelpa, mas eu não tinha amplificador, usava emprestado. Na primeira vez que fui a Goiânia, o Jerry Adriani estava lá e ele tinha um (amplificador) Ibanez, que ficou um tempão comigo.

Inicialmente um crooner disposto a cantar de boleros como “Não é por Mim” até rock-baladas como “Mr. Sandman”, Roberto deixou essa primeira fase registrada no LP Louco por Você (nunca mais relançado após 1961, chegando a custar até 2 mil reais em sebos). Seus primeiros trabalhos “oficiais”, entretanto, eram bem resolvidas adaptações do pop americano e do surf rock da época. A rebeldia a serviço do amor (que permitia estacionar na contramão, desde que fosse pela garota mais bonita) abriria a trilha para um comportamento rock’n’roll. Em 1964, viriam novos hits, como “É Proibido Fumar” – de novo a contravenção romântica –, “Broto do Jacaré”, “O Calhambeque” e “Um Leão Está Solto nas Ruas”. Roberto Carlos, rapidamente, alcançaria o posto de principal ídolo jovem do Brasil. Tudo isso antes mesmo da estréia, em agosto de 1965, do programa-movimento que o imortalizaria: o Jovem Guarda.

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Como foi o início da jovem guarda? Como você arregimentou aquele pessoal de frente?

A jovem guarda aconteceu depois do sucesso de “Parei na Contramão” e “O Calhambeque”. Eu vinha fazendo uns programas de TV em São Paulo, estava em primeiro lugar nas paradas e o Paulinho Machado de Carvalho (então presidente da Record) teve a idéia de fazer um programa jovem. Achei o nome estranho, mas resolvi deixar daquele jeito. Pensei que devia fazer o programa com pelo menos dois amigos, que foram o Erasmo e a Wanderléa.

Foi insegurança, medo de enfrentar sozinho?

Era para variar um pouco. Primeiro, porque o Erasmo compunha muito comigo, era meu perceiro. E a Wanderléa também era uma amiga e na época fazia sucesso de rádio e televisão com um disco, o Meu Anjo da Guarda (1963).

Na época da jovem guarda vocês ajudaram a difundir um comportamento, criaram uma grife que distribuía vários produtos, de calças a bonecos. Apesar dessa manifestação toda, a jovem guarda pretendia passar uma reação meio inconformista. Isso era uma postura ensaiada, assumida, ou era só uma farra que por acaso virou uma coisa contestatória?

Não era combinado, não. Era tudo muito espontâneo. Cada um trazia uma idéia, vinha sempre alguém com uma roupa, um adereço diferente, e assim a coisa ia rolando.

Você era relativamente garoto quando conheceu o sucesso. Quando terminou o programa, você teve consciência de que um ciclo estava se fechando, que você teria de caminhar sozinho?

A questão é que, com o tempo, logicamente, as coisas foram mudando. O programa já não tinha a mesma audiência. E o negócio da televisão é assim. O Paulinho me chamou e disse que era hora de parar com o programa, mas queria que eu continuasse fazendo um outro, à noite, que eu fiz. Daí comecei a fazer mais Rio e São Paulo. Fiz TV Rio e Tupi no Rio, e em São Paulo era sempre a Record. Parei com os programas à noite e fiz uma participação durante muito tempo no programa do Flávio Cavalcanti, na Tupi, uma vez por mês. Em 1974, fui para a Globo, onde queriam que eu fizesse um programa semanal. Disse que só topava anual, que faço até hoje.

Como é que você, vindo do interior, aquele menino que cantava na rádio, fez para segurar as pressões do sucesso?

Segurei trabalhando. Sempre me preocupei com a qualidade dos meus discos. Não sei explicar se é por isso ou por aquilo, se existe uma fórmula. Tá certo que minha profissão é uma vocação, mas é uma profissão, então não posso deixar de considerar um monte de detalhes – sem trocadilhos! (risos). Isso sempre me deixou muito ocupado.

Muita gente relutou em aceitar seu estilo. Você sempre se referiu muito a Tito Madi e João Gilberto como influências. Mas quando começou a fazer o programa, você foi fuzilado por essas mesmas pessoas da bossa nova. A que atribui a quebra dessa resistência depois? O que mudou?

Não sei exatamente. A gente tem que reconhecer que a bossa nova foi um trabalho mais sofisticado que o rock que a gente fazia naquela época. A gente pode pensar que o pessoal da bossa nova, de repente, considerava que aquilo não era música da mesma qualidade, musicalmente, harmonicamente falando. Era muito difícil que alguém da bossa topasse cantar um iê-iê-iê, embora nós sempre estivéssemos dispostos a cantar uma bossa. Sabíamos dessa sofisticação, mas sabíamos também que nosso trabalho tinha uma identificação, um diálogo grande com o povo, que era uma música fácil de cantar, de decorar. Esse preconceito eu só posso explicar por esse lado. De repente é isso mesmo, a gente acha estranho uma coisa nova que aparece. Depois eles também foram reconhecendo que nosso trabalho tinha uma importância grande dentro da música brasileira. Também havia aquela história: guitarra elétrica na bossa nova? Jamais! Mas, depois, ela foi entrando e esse preconceito foi se diluindo.

Como você se sentia sendo ídolo de um movimento?

Havia no princípio a satisfação de fazer sucesso, a alegria, a empolgação com o aplauso, as meninas avançando no palco. A gente não estava preparado, não tinha esquema de segurança. Na saída do primeiro programa, meu Volkswagen estava parado do outro lado da rua. Saí relativamente rápido, mas não deu tempo, elas realmente correram. A gente não sabia que na vida real poderiam acontecer aquelas coisas sobre as quais a gente lia nas revistas. Só depois comecei a tomar consciência de tudo aquilo, de que havia uma responsabilidade muito grande envolvida.

O que você achava que tinha a passar a seu público?

Queria passar exatamente aquilo que a gente era, nada diferente. Queria dar uma mensagem sadia, uma coisa que mostrasse a eles que a gente fazia aquela coisa toda de música, mas que éramos também preocupados com o futuro. E ficávamos muito contentes por ver que muita gente começava a fazer música, a estudar incentivada pela jovem guarda. Acho que contribuímos bastante para isso.

Na época, cada bailinho tinha sua banda de garagem.

Exatamente. Então, Sentimos que foi um bom resultado, porque encaminhava os jovens para a música.

Vocês ajudaram a plantar o rock no Brasil. No que ele mudou até hoje?

Ele evoluiu muito. Nós falávamos de pescaria, do carrão, da velocidade, do namoro na esquina. Por meio de outros compositores, com os protestos de Bob Dylan e Joan Baez – se bem que eles não fizessem exatamente rock –, o gênero passou a ter outro tipo de poética, mais séria, sem temas infantis, tão simples. E o som teve enorme evolução. O rock contribuiu e se beneficiou disso.

Numa entrevista, em 1975, você disse que estava ouvindo Tony Bennett e Bee Gees…

Naquela época ouvia Tony Bennett porque ele sempre foi o maior cantor do mundo. E os Bee Gees ouvia porque faziam um som romântico, mas mais encorpado, moderno para a época. Fui ver um show e fiquei deslumbrado com os cuidados, a qualidade do som em geral. Era uma base para mim. Quando estava gravando, eu dizia para o técnico: “Quero o baixo dos Bee Gees!” (risos). O som de baixo que sempre gostei mais foi o deles e o do Paul McCartney. Eu gostaria de dizer uma coisa muito séria: o rock brasileiro é da maior qualidade, não fica a dever nada ao rock inglês ou americano. Mas para falar em nomes, à parte Erasmo Carlos, que é meu ídolo, gosto muito do Paralamas, do Lulu Santos, do Leo Jaime. Tem um trabalho muito bom da Legião Urbana, gosto das sacadas do Ultraje. Do internacional, continuo gostando dos Doobie Brothers, do Rod Stewart e muito do rock primitivo, do começo.

Entrevista a Sonia Maia e José Eduardo Mendonça

1961

Janeiro

• Sai o primeiro disco de Roberto Carlos, Louco por Você.

• Estréia na Inglaterra a série Os Vingadores (The Avengers).

Abril

• Os Estados Unidos realizam uma tentativa fracassada de invadir Cuba.

• Eduardo Araújo estréia com o compacto duplo O Garoto do Rock (Philips).

Julho

• Estréia na Rádio Guanabara Os Brotos Comandam, apresentado por Carlos Imperial.

Agosto

• Jânio Quadros renuncia. Os ministros militares são contra a posse do vice, João Goulart, que está em missão diplomática. As divergências resultam na aprovação do parlamentarismo no Brasil.

Setembro

• João Goulart toma posse e Tancredo Neves assume como primeiro-ministro.

Dezembro

• Os Beach Boys lançam Surfin’, que inagura o “som da Califórnia”.

1962

Março

• Os Beatles se apresentam pela primeira vez na Rádio BBC.

Maio

• A atriz Norma Bengell protagoniza o primeiro nu frontal do cinema brasileiro em Os Cafajestes.

• Celly Campello se casa e abandona a carreira artística.

Junho

• A Seleção Brasileira de Futebol é bicampeã no Chile.

Agosto

• Morre a atriz Marilyn Monroe.

Outubro

• Love Me Do, estréia dos Beatles, chega às lojas

• Crise dos mísseis em Cuba quase gera uma guerra entre Estados Unidos e União Soviética.

Dezembro

• Depois da Palma de Ouro em Cannes, O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, é exibido na Casa Branca.

1963

Janeiro

• Plebiscito aprova a volta do presidencialismo no Brasil, fortalecendo João Goulart e instaurando o medo do comunismo.

Junho

• Os Rolling Stones lançam seu primeiro compacto Come On/I Wanna Be Loved.

Julho

• A TV Excelsior leva ao ar a primeira telenovela brasileira, 2-5499 Ocupado.

Outubro

• Ao participar do programa Sunday Night at the London Palladium, os Beatles causam grande histeria, e a imprensa cunha o termo “beatlemania”.

• Jorge Ben lança seu primeiro sucesso, “Mas Que Nada”.

Novembro

• John Kennedy, presidente dos Estados Unidos, é assassinado em Dallas, Texas.

1964

Fevereiro

• Turnê promocional dos Beatles pelos Estados Unidos. Sua aparição no Ed Sullivan Show bate todos os recordes de audiência.

• As fábricas de discos brasileiras param de fabricar vinis de 78 RPM.

• Cassius Clay vence Sonny Liston e conquista o título mundial de boxe da categoria peso pesado.

Abril

• As tropas do General Mourão chegam ao Rio de Janeiro e depõem João Goulart. O general Castello Branco assume a Presidência do Brasil.

Maio

• O Brasil rompe relações diplomáticas com Cuba.

Junho

• Millôr, Ziraldo e Jaguar lançam a revista Pif-Paf, embrião do Pasquim.

Julho

• Roberto Carlos sofre um acidente de carro próximo a Paraíba do Sul. Seu amigo Roberto Oliveira morre dias depois.

Setembro

• Chega aos cinemas britânicos 007 contra Goldfinger, o primeiro filme do agente James Bond.

Tesouros perdidos dos primórdios do rock brasileiro

The Snakes

Só Twist (Columbia, 1962)

LP do maestro Astor & Seu Conjunto com vocais do Snakes, que tinha Erasmo Carlos em sua formação. Incluiu “Calypso Rock”, de Carlos Imperial.

Roberto Carlos

Louco por Você (Columbia, 1961)

O mais raro disco brasileiro, é o tal LP que Roberto Carlos renega.

Sérgio Murilo

Se Eu Soubesse (Columbia, 1959)

O Rei do Rock cantava sobre “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikóvski (!).

Eduardo Araújo

O Garoto do Rock (Philips)

EP do início dos anos 60 com o garoto mineiro gritando à Little Richard.

Jô Soares

Vampiro/O Volks do Ronaldo (Farroupilha, 1963)

A incursão do humorista no rock acrescentou humor e inteligência onde antes só havia romantismo.

Luizinho & Seus Dinamites

Choque Que Queima (RCA)

Grupo carioca pré-jovem guarda, histórico por unir twist e surf rock com vocais.

Moacir Franco

Rock do Mendigo (Copacabana, 1960)

Outro humorista se aventurando (e bem) pela música, com acompanhamento afiado de Betinho & Seu Conjunto.

Conjunto Alvorada

A Cigarra e a Formiga (Mocambo, 1962)

Quarteto feminino dirigido pelo maestro Theotônio Pavão, com a futura estrela Meire Pavão, filha do próprio.

O guitarrista: Gato

Um dos pioneiros da guitarra brasileira, José “Gato” Provetti tornou-se famoso como braço direito de Roberto Carlos na banda RC7. Esse paulista de Valparaíso (SP) começou tocando viola caipira, aos 9 anos. Depois de estudar violão clássico, começou a trabalhar na Rádio América, onde ouviu as linhas melódicas de Hank B. Marvin (The Shadows) e decidiu trocar de instrumento. Com uma Del Vecchio, gravou um compacto pelo selo Young, com “Kissin’ Time” e “What’d I Say”. Em 1962, entrou nos Vampires e, sendo o mais experiente, mudou os integrantes e os rebatizou como The Jet Black’s. A gravadora Chantecler, que buscava um concorrente para os Jordans, contratou a banda. No mesmo ano era lançado o aclamado disco Twist. O Jet Black’s foi contratado pela Record. Era a oportunidade para Gato participar de clássicos como “Rua Augusta”, com Ronnie Cord. Mas foi com “Negro Gato” e “Eu Te Darei o Céu”, ambas com Roberto Carlos, que ele se destacou e recebeu o convite para integrar a RC3. A fama era tanta que em 1966 Gato gravou seu (único) disco-solo, O Pulo do Gato, que passou despercebido até entre seus (muitos) fãs.

O rei da pilantragem

Texto Pedro Só

Mais que um momento crucial da história da música popular brasileira, foi um instante transformador dos rumos da cultura deste país enjoado. Carlos Imperial chegou para o jovem Roberto Carlos e deu o toque: era melhor parar com aquela história de imitar João Gilberto, violãozinho, mãozinha de aranha no acorde difícil, voz baixa. O negócio era cair no iê-iê-iê. Daí pra frente tudo foi diferente, e um país inteiro, bicho, aprendeu a ser gente.

Imperial engajou-se na difusão pioneira do rock’n’roll em Copacabana, ainda na segunda metade dos anos 50. Priscas eras em que o sujeito que quisesse profanar seus quadris com aquele ritmo tinha de confiar em Cauby Peixoto.

Em 1958, arrastava Roberto, Erasmo, Tim Maia e Renato & Seus Blue Caps para tocar em nome de um certo “Clube do Rock”, o mesmo do programa que Imperial sublocava de Jaci Campos na TV Tupi.

Ele também inventou Erasmo Carlos, seu assessor na Revista do Rádio, onde pilantramente plantava notas do tipo “Erasmo Carlos, o Brasil ainda vai ouvir falar muito desse rapaz”. E por falar em pilantragem… Imperial queria tirar o samba dos comunistinhas universitários e bolou uma coisa na linha “samba jovem”. Reza outra lenda de duvidosas fontes (o próprio Imperial) que Simonal ouviu a música-emblema do “movimento”, “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, e saiu cantando antes. E aconteceu ainda que Imperial foi parar na boca de Brigitte Bardot, que gravou “Nem Vem Que Não Tem” como “Tu Veux ou Tu Veux Pas”. Quer glória maior? Pois tem. Imperial lançou Elis Regina (ainda imitando Celly Campello) e Clara Nunes.

Outros louros em sua biografia: as pornochanchadas que produziu, os programas de TV que apresentou, as lebres que abateu… Ele foi um pioneiro do uso da mídia e da polêmica na divulgação de seus “produtos”.

Entrou e saiu várias vezes do Partido Comunista, antes de ser, em 1982, o vereador mais votado do Rio de Janeiro. Em 1985, foi, sem sucesso, candidato a prefeito da cidade. Mas ninguém tira dele a glória de esculhambar o AI-5 com sua prisão, motivada por um cartão de Natal de “Feliz 69”, enviado a autoridades e ilustrado com uma foto sua sentado na privada. Em maio de 1992, Imperial podia ser visto posando de sunguinha e debaixo dos lençóis com sua nova namorada, Jana, uma amazonense de 14 anos. Em novembro do mesmo ano, morreu, aos 56 anos. A revista Caras ainda não existia.

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