Neuroexpressionismo
Técnica de mapeamento de neurônios produz imagens que lembram arte abstrata
Texto Tarso Araújo
A mais nova técnica para estudar cérebros foi desenvolvida por biólogos moleculares da Universidade Harvard, nos EUA, mas parece obra de uma turma de artistas plásticos lisérgicos. Batizada de brainbow – trocadilho com as palavras “cérebro” e “arco-íris” em inglês –, ela é um método inédito para colorir e fotografar células nervosas. Os cientistas injetam pequenos pedaços de DNA retirados de corais e águas-vivas no organismo de ratos vivos. Graças a alguns truques de genética molecular, os neurônios das cobaias incorporam os genes estranhos, que uma vez ali começam a produzir proteínas fluorescentes, típicas daqueles animais marinhos. De acordo com a atividade mental do rato, cada célula nervosa produz diferentes quantidades de cada uma dessas proteínas fluorescentes. No microscópio, as amostras do tecido cerebral são iluminadas com luzes coloridas, que “revelam” diferentes tonalidades nos neurônios, de acordo com a combinação de proteínas que cada um deles produz – mais ou menos como numa boate, quando a luz negra realça o branco e apaga outras cores. A técnica permite que os cientistas fotografem tramas supercomplexas de neurônios, pintadas com até 90 cores, bem vivas e contrastantes. O resultado é de deixar muito artista abstrato com inveja.
Ok, mas, além do visual bacana, qual é a utilidade dessas imagens caleidoscópicas?
Elas permitem mapear as intrincadas redes de neurônios e entender como eles se conectam para desenvolver tarefas e processar sentimentos. Como cada neurônio é “pintado” de acordo com a função que desempenha, a técnica permite colorir de maneira distinta células vizinhas, mas que não estão trabalhando juntas. Isso é uma ferramenta poderosa para os neurologistas entenderem o funcionamento das redes neurais em cérebros saudáveis e, depois, o que acontece de errado naqueles que têm doenças como mal de Alzheimer, esquizofrenia e outros distúrbios mentais.