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O Cupido original não era um bebê com asas. Conheça sua história

Na mitologia romana, ele era menos um anjo bonitinho e mais uma força incontrolável – assim como o amor.

Por Leo Caparroz
14 fev 2023, 20h37

Você provavelmente já viu a seguinte figura do Cupido: pequeno, gorducho, com carinha de bebê, asinhas e portando um arco e flecha.

Pintura de um cupido feita por Guido Reni.
(Domínio público/Wikimedia Commons)

Essa é uma interpretação moderna do Cupido, presente em desenhos animados, cartões de Dia dos Namorados e gifs do WhatsApp. O problema é que, se compararmos com a versão original dessa figura mitológica, esse visual está bem equivocado.

O Cupido original era filho de Vênus, deusa romana do amor e da beleza – e o equivalente romano ao deus grego Eros (filho de Afrodite). Ele era uma divindade associada à luxúria e ao amor e, tanto na Grécia quanto em Roma, era retratado como um jovem belo, não como um bebê.

Ora, e de onde vem a versão baby do Cupido? Ela teria sido inspirada na “tropa de apoio” das divindades do amor. Chamadas de “Erotes” ou “Cupidines”, elas eram entidades aladas e parecidas com os querubins gordinhos de hoje.

O Cupido original não tem nada a ver com um bondoso anjo fofinho: na mitologia romana, ele é uma “criatura selvagem e indomável”, que age de maneiras imprevisíveis. E o melhor jeito de conhecê-lo é com sua história mais famosa: a de seu caso com Psiquê, uma princesa tão bonita que os mortais a veneravam como a própria deusa do amor.

A lenda começa com Vênus furiosa com a devoção dos mortais por Psiquê. Tomada pelo ciúme e inveja, Vênus ordenou a seu filho, Cupido, que fizesse a princesa se apaixonar por alguém extremamente miserável. Porém, o que aconteceu é que ele próprio ficou caidinho pela moça – e desobedeceu a mãe.

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Enquanto isso, a família de Psiquê estava preocupada. As duas irmãs da princesa já estavam casadas – mas a jovem estava longe de encontrar um amor. Com isso em mente, seu pai busca o Oráculo do deus Febo (a versão romana de Apolo), que informa que Psiquê se casaria com uma criatura selvagem e indomável, que põe medo até mesmo em Júpiter (Zeus, o rei de todos os deuses).

Em certo momento, Psiquê adormece e, quando acorda, está em um palácio grande e luxuoso, onde é servida por criados invisíveis. Naquela mesma noite, um “marido desconhecido chegou e fez de Psiquê sua esposa”, mas ele vai embora antes do nascer do sol e a proíbe de tentar investigar sua aparência.

A partir daí, esse marido misterioso chega todas as noites, dorme com Psiquê e sai antes do nascer do Sol. Não demora muito para que a princesa engravide e, pouco a pouco, a falta de contato com o mundo exterior a deixa cada vez mais triste e solitária.

O marido, então, permite que as irmãs de Psiquê a visitem. Quando elas aparecem, porém, ficam cheias de inveja da sua vida de luxo. Na tentativa de acabar com o casamento, elas fazem a cabeça de Psiquê com uma suposição para o segredo do marido: tal qual a previsão do Oráculo, ele seria uma serpente monstruosa, que iria devorá-la ainda grávida.

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Horrorizada, Psiquê acreditou, e decidiu matar o marido com uma adaga, enquanto ele dormia. Antes disso, porém, olhou para o seu rosto, à luz de uma lamparina. Foi quando descobriu quem era o homem misterioso: Cupido.

Pintura de Cupido e Psiquê feita por William-Adolphe Bouguereau.
Quadro “O rapto de Psiquê”, por William-Adolphe Bouguereau. (Domínio Público/Wikimedia Commons)

Emocionada com a descoberta, ela derrama o óleo fervente da lamparina e desperta Cupido. Totalmente desconcertado com a traição de sua esposa, ele voa para longe, deixando uma Psiquê apaixonada para trás.

Completamente perdida de amores, Psiquê embarca em uma longa busca para reencontrar Cupido – que estava de volta ao palácio de sua mãe, recuperando-se dos ferimentos. A princesa se submete a uma série de tarefas brutais e torturantes impostas por uma Vênus furiosa com a desonra de seu filho. Ao final da última tarefa, Psiquê cai em sono profundo.

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Cupido, recuperado de seu ferimento, escapa do castigo de sua mãe pela janela e salva sua amada do sono eterno. Ele leva sua questão até Júpiter, que propõe um acordo: ele ajudaria Cupido; em troca, o deus do amor daria uma mãozinha para que ele conquistasse qualquer donzela que chamasse sua atenção no futuro.

E foi assim que Psiquê se tornou imortal – e pôde se casar “oficialmente” com Cupido.

A história sugere uma lição de moral: embora o processo possa ser longo e difícil, casais eventualmente se ajustam a seus papéis. É claro: a trama de Cupido e Psiquê teria sido bem menos complicada se confiança e diálogo estivessem presentes desde o primeiro momento. Mas é interessante pensar que, uma vez amenizadas, as emoções intensas do deus do amor podem representar a base para um relacionamento duradouro.

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