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Os 5 melhores filmes sobre viagens no tempo

Por tocar em temas do universo da ciência, esses filmes nos permitem viajar aos extremos da inteligência no cinema. 

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 4 ago 2022, 16h40 - Publicado em 4 jul 2022, 17h24

Um americano acorda na Grã-Bretanha medieval e se vale da ciência moderna (ou melhor, do século 19) para impressionar os Cavaleiros da Távola Redonda. O conto Um Ianque na Corte do Rei Artur, de 1889, escrito por Mark Twain, foi inspiração para o primeiro filme sobre viagens no tempo, A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court, de 1921.

Nesses mais de cem anos, deslocamentos para o passado e o futuro surgem de modos tão variados nas telas que é difícil falar de um denominador comum. O padrão é que a maioria dá de ombros para as teorias de Einstein que permitiriam jornadas temporais. Com exceções.

Fiéis à ciência ou mais fantasiosos, os filmes sobre viagens no tempo costumam estimular a inteligência do espectador. É o caso dos 5 filmes que vamos descrever a seguir.

INTERESTELAR

Direção: Christopher Nolan | Roteiro: Jonathan Nolan e Christopher Nolan

(Assista ao trailer aqui.)

Cena do filme Interestelar, em que aparece em foco o personagem principal com roupas de astronauta da NASA.
(Paramount Pictures/Reprodução)

O cenário é um futuro próximo – e bem factível. As mudanças climáticas trouxeram secas que transformaram o planeta num ambiente inóspito, desértico, e onde a sobrevivência depende das parcas plantações que ainda vingam. De tempos em tempos, um tipo de hortaliça não resiste aos extremos do clima e desaparece para sempre. Com isso, profissões também entram em extinção. O mundo não precisa de mais pilotos hábeis como Cooper (Matthew McConaughey) – a Terra tem carência, desesperadora, é de fazendeiros que consigam colheitas bem-sucedidas. Mesmo assim, o piloto veterano ganha uma missão da Nasa: encontrar outro planeta habitável, já que este aqui está com os dias contados.

A mesma verossimilhança desse apocalipse ambiental, cada vez mais presente, Christopher Nolan imprimiu a uma parte do filme difícil de prescindir da fantasia: a viagem pelo espaço. Acompanhado por uma equipe de astronautas-cientistas, Cooper deve levar sua nave até as proximidades de Saturno, onde vai viajar através de um warmhole, ou buraco de minhoca, até uma galáxia distante, onde deve continuar sua caça ao gêmeo da Terra. Tudo muito além da imaginação para se esperar embasamento científico correto. Mas tem, sim. E num nível jamais visto no cinema.

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Para que o enredo fosse o mais próximo da ciência complexa que governa o Universo, Nolan contratou Kip Thorne, Prêmio Nobel de Física de 2017, como consultor. A equipe de efeitos especiais utilizou equações criadas por Thorne para representar um buraco de minhoca como uma esfera – e não como um buraco de fato, como os livros de divulgação científica geralmente mostram, reproduzindo um erro conceitual. Tudo isso só vale, claro, se buracos de minhoca realmente existirem por aí. Embora a Relatividade Geral considere o conceito válido, e ele seja bem aceito pela cosmologia moderna, ainda não há evidências de que esses túneis hipotéticos no tempo-espaço – que serviriam de atalho para atingir distâncias inimagináveis do Universo – sejam mais que uma teoria.

Outro acerto do filme foi mostrar como o tempo passa de maneira diferente para os astronautas quando estão próximos a um buraco negro. A gravidade descomunal nessa região estende o espaço-tempo – como uma bola de boliche faria num tecido esticado. E daí vem o conflito sentimental por trás de toda a física teórica de Interestelar. Quando Cooper  parte para as proximidades de um buraco, o tempo para ele passa muito mais devagar que o de sua filha, Murphy, que ficou na Terra, e que vai de menina a adulta (Jessica Chastain) enquanto o pai continua com a mesma idade. A ciência séria, então, dá lugar à licença poética: mesmo nessa incompatibilidade temporal, os dois tentam dar um jeito de se reencontrar. Nem que para isso Cooper tenha de contrariar as leis da física, voltando para casa, e para sua filha amorosa, após ter atravessado o horizonte de eventos, a fronteira teórica de um buraco negro, a partir da qual nem a luz (muito menos um corpo celeste de carne e osso) é capaz de retornar. Mas nada que estrague a inteligência do filme.

TE AMAREI PARA SEMPRE

Direção: Robert Schwentke | Roteiro: Bruce Joel Rubin

(Assista ao trailer aqui.)

Cena do filme Te Amarei Para Sempre, em que os personagens principais estão sentados em um banco, na rua, olhando um para o outro.
(Playarte Pictures/Reprodução)

Todo mundo gosta de De Volta para o Futuro, o clássico moderno sobre um garoto que viaja ao passado e muda sua própria história. Essa aventura tem 96% de críticas positivas no site Rotten Tomatoes, porém… tiraria nota baixa em física teórica. Assim como a maioria dos filmes de viagem no tempo.

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Isso porque a graça de seus roteiros se baseia num erro recorrente: a ideia de que o passado é mutável. Uma obra que obedecesse à Teoria da Relatividade mostraria que o passado e o futuro são inalteráveis. E que a nossa capacidade de transformar a própria história, no fundo, é uma ilusão.

Felizmente, esse filme existe. O romance Te Amarei para Sempre conta a vida de Henry (Eric Bana), um homem que, por conta de um distúrbio genético, viaja no tempo esporadicamente, repentinamente, sem o menor controle sobre isso – como quem tem um ataque epilético. Logo no começo do filme, ele topa com uma mulher desconhecida (Rachel McAdams), mas que diz ser amiga dele há anos. Tão amiga que, em algum lugar do futuro, os dois já estão casados. Henry não faz ideia de quem é a moça porque só a encontraria mais tarde, numa futura viagem… ao passado. Então, o que para ela já tinha acontecido, para ele ainda era novidade. Complexo, não? Ninguém disse que seria fácil.

Uma narrativa que cumpra com o que a ciência sabe até agora precisa respeitar o seguinte: há uma única linha do tempo com toda a história já escrita – tanto o que há para frente quanto para trás. “Ah, mas um viajante do tempo poderia interferir nos acontecimentos…” Será? O físico americano Kip Thorne (o mesmo que foi consultor de Interestelar) lembra que, pela natureza imutável do tempo, você não poderia voltar 60 anos e assassinar sua avó antes que ela desse à luz o seu pai – o que supostamente impediria que você nascesse. “Alguma coisa vai segurar sua mão quando você tentar matar sua avó. O quê? Como? A resposta, se é que existe uma, está longe de ser óbvia.”

CONTRA O TEMPO

Direção: Duncan Jones | Roteiro: Ben Ripley

(Assista ao trailer aqui.)

Cena do filme Contra o Tempo.
(Summit Entertainment/Reprodução)
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Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) precisa salvar Chicago de uma bomba atômica. Ele está a bordo de um trem que, em oito minutos, vai explodir. E tem de evitar que a cidade seja o próximo alvo. Sem pistas que o ajudem no início, ele tem como missão investigar: a) onde está a bomba; b) quem é o terrorista.

Porém, embora o capitão esteja empenhado em sua tarefa kamikaze, ele não entende muito bem a dinâmica enigmática da sua missão. Aliás, nem o espectador. O que logo fica claro é que o prazo não é suficiente. Stevens explode junto com o trem. Mas não morre. Pelo contrário, logo ressurge no mesmo vagão, e no mesmo instante oito minutos antes que tudo vá pelos ares – só que agora com as pistas obtidas nos oito minutos anteriores. E é aí que a coisa fica interessante.

O militar não morre porque não está lá de verdade. Ele faz parte de um projeto que consegue transferir sua mente para a consciência de um passageiro desse trem, numa espécie de viagem no tempo que leva em conta a hipótese de realidades alternativas. Enquanto sua mente dá habilidades de soldado a um homem comum, o corpo de Stevens está sendo mantido em outro lugar, misterioso.

Essa primeira produção de grande orçamento do diretor Duncan Jones (filho do David Bowie) apresenta experimentos que talvez não sejam tão fantasiosos assim. O próprio roteirista do filme, Ben Ripley, explicou: “Mais e mais, a física moderna está ficando confortável com a ideia de universos paralelos. Contra o Tempo imagina uma aplicação prática para eles”.

EFEITO BORBOLETA

Direção e roteiro: Eric Bress e J. Mackye Gruber

(Assista ao trailer aqui.)

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Cena do filme Efeito Borboleta.
(New Line Cinema/Reprodução)

Quem nunca sonhou em voltar ao passado? Nessa fantasia, poderíamos mudar algum episódio da nossa história. Então Evan (Ashton Kutcher) parece ter tirado a sorte grande. Ele descobre que, ao ler seus antigos diários, consegue viajar no tempo, de volta à infância, mantendo sua mentalidade de adulto. Parece a redenção para quem foi abusado por um pedófilo e apanhava de um coleguinha. Mas é nesse ponto que o filme se revela um thriller baseado em conceito científico. Toda vez que embarca numa viagem temporal para apagar seus traumas, Evan muda alguma coisa em sua história, o que mexe com o futuro. Cada pequena mudança traz uma consequência que implica outra… E gente que ele ama acaba se dando mal.

O matemático americano Edward Lorenz propôs o conceito de Efeito Borboleta nos anos 1960 – na tentativa de prever mudanças climáticas. Ele descobriu que o clima é um sistema tão sensível a pequenas interferências que é impossível fazer previsão do tempo a longo prazo. A ideia é de que o bater de asas de uma borboleta no Brasil (exemplo dado pelo próprio Lorenz) produz uma minúscula alteração no padrão dos ventos, que pode evoluir para mudanças progressivas até provocar um tufão no Texas – uma causalidade que pode ser aplicada tanto aos esportes quanto à Bolsa de Valores, e que se tornaria um novo ramo da ciência: a Teoria do Caos.

Parece efeito dominó, só que, em vez de a mudança gerar uma reação em cadeia linear, essa teoria descreve reflexos cheios de variáveis imprevisíveis por natureza. Como a vida.

FEITIÇO DO TEMPO

Direção: Harold Ramis | Roteiro: Danny Rubin e Harold Ramis

(Assista ao trailer aqui.)

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Cena do filme Feitiço do Tempo.
(Columbia Pictures/Reprodução)

Por que uma comédia de Sessão da Tarde nesta relação de filmes inteligentes? Menos preconceito, por favor. Feitiço do Tempo é brilhante ao transmitir a mensagem mais importante de todas: viva intensamente. E faz esse apelo transcendental te fisgando pelo humor e pela fantasia. Phil (Bill Murray) é o homem do tempo de um canal de TV. Todo ano, no dia 2 de fevereiro, ele precisa ir a uma cidadezinha, a contragosto, para uma reportagem sobre uma marmota que faz previsões sobre o clima. E Phil detesta esse trabalho – o que fica explícito no modo arrogante como trata as pessoas.

Então acontece a mágica: quando acorda no dia seguinte, ele descobre que é ontem de novo – é dia 2, toca a mesma música no despertador, ele tem de fazer a mesma reportagem chata… E a prisão temporal se repete, dia após dia. No começo, Phil se desespera. Tenta até o suicídio. Mas, depois de um tempo, ele aprende. Aprende que, se você “hoje” está congelado num looping, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” (Renato Russo).

Essa ideia de um homem preso no mesmo dia começou com um trecho de Gaia Ciência, de Nietzsche. A ideia do eterno retorno, para o filósofo alemão, é de que vivemos essa mesma vidinha de agora no passado, e a repetiremos sempre no futuro, prisioneiros de ciclos repetitivos. Se você gosta dessa existência, ótimo. Mas, se a encara com o tédio de Phil diante do roedor caipira, você está no inferno. Ou quase lá. O “dia eterno” do personagem se assemelha à visão cristã do purgatório: um lugar de provações onde o jornalista precisa se purificar antes de chegar ao paraíso.

“A jornada de Phil é uma parábola sobre a nossa época materialista, e incorpora uma visão do crescimento humano”, carimbou um dos críticos de cinema mais influentes da história, Roger Ebert.

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