Tudo bem que, para o esquimó, neve é que nem o Sarney: não adianta reclamar, ele está sempre lá. Mas daí a dizer que os nativos do Ártico batizaram dezenas de variações de neve é demais. Tudo começou com uma teoria linguística, e a partir daí foi, bem, uma bola-de-neve. Saiba a verdade sobre esse e outros mitos de linguagem.
Telefone-sem-fio
Conheça alguns mitos linguísticos
Os esquimós possuem dezenas de palavras para dizer neve.
A LENDA – Tudo começou com uma estimativa do linguista Benjamin Whorf de que os esquimós “provavelmente teriam” 7 palavras para neve. Os jornalistas americanos se entusiasmaram com a ideia e o número foi aumentando. Em 1984, um editorial do New York Times garantia serem mais de 100.
A VERDADE Alguns somam as “neves” de idiomas diferentes como se fossem do mesmo. Além disso, as línguas esquimós confudem por somarem palavras: em inuinnaqtun, neve é patu, que forma, entre dúzias de exemplos, patuqutaujuq, “coberto por neve congelada e brilhante”.
A palavra saudade só existe em português.
A LENDA – Um patrimônio imaterial da civilização lusitana, a palavra emplacou o 7º lugar no ranking de palavras mais difíceis de traduzir da empresa britânica Today Translations, publicado em 2004.
A VERDADE – “É como dizer que não sabemos expressar quantidades por não termos many e much“, diz Bruno Dallari, da PUC-SP. O inglês tem o verbo miss, e o espanhol a añoranza.
Em chinês, crise se escreve com perigo E oportunidade.
A LENDA – A história surgiu em 1938, em um jornal para missionários na China, e ficou famosa em um discurso de John Kennedy. Desde então, foi repetida por Nixon, Al Gore e manuais de autoajuda.
A VERDADE – “Crise”, em mandarim, é wëijï; wëi realmente quer dizer “perigo”. Mas já não tem nada a ver com oportunidade: é uma partícula que só ganha esse significado combinado com huì (“ocasião”).
Fontes: The Great Eskimo Vocabulary Hoax and Other Irreverent Essays on the Study of Language, de Geoffrey K. Pullum; Victor Mair, especialista em línguas asiáticas da Universidade Harvard.