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Por que precisamos de mais super-heroínas

O sucesso da Imperatriz Furiosa de Mad Max e da Viúva Negra em Os Vingadores mostra o interesse em mais personagens femininas — mas ainda temos muito a avançar

Por Priscila Bellini
Atualizado em 4 nov 2016, 18h44 - Publicado em 25 Maio 2015, 20h30

Nos anos 1980, a atriz americana Whoopi Goldberg, famosa por ser a médium de Ghost, falou sobre a importância de ter assistido quando era criança à tenente Nyota Uhura na série de ficção científica Star Trek. A artista, que tinha 9 anos de idade à época, chamou todos da família para ver pela primeira vez a personagem de Nichelle Nichols. “Eu corri pela casa gritando ‘mãe, venha rápido, venham todos! Tem uma moça negra na televisão e ela não é uma empregada’”. Depois disso, a atriz disse que descobriu que poderia “ser o que quisesse”.

A história de Whoopi mostra a importância de ver alguém parecido consigo na TV, nos quadrinhos, no cinema: estar representado ali abre uma infinidade de possibilidades. Quando os personagens fogem dos padrões mais comuns (que costuma ser homem- brancos-jovem-hétero-com-todos-os-membros-intactos) muita coisa pode mudar. É esse o ponto de partida para descobrir por que precisamos de mais super-heroínas. “Uma menina que cresce com representações de mulheres reduzidas às funções de mãe, dona de casa ou objeto sexual, sempre dependente de um homem, aprende que é isso que se espera dela, e termina restringindo suas possibilidades como pessoa”, explica a ilustradora e quadrinista Ana Luiza Koehler, autora da HQ Beco do Rosário e co-curadora do Festival Internacional de Quadrinhos. Uma reviravolta nesses conceitos, então, só apresentaria às leitoras mais um leque de oportunidades.

É por isso que, quando as personagens femininas finalmente apareceram nos quadrinhos e nas telas, a mensagem sobre um novo perfil de mulher ficou clara. Um dos primeiros ícones apresentados ao público foi a Mulher Maravilha, lançada em 1941. Segundo o criador da heroína, William Moulton Marston, ela era “o tipo de mulher que deveria governar o mundo”. A boa intenção ao criar a personagem, por outro lado, não impediu Marston de fazer comentários machistas sobre ela. Em uma de suas cartas para Maxwell Charles Gaines, responsável por fundar o que se tornaria a DC Comics, o autor afirmou que “o encanto das mulheres é que elas gostam da submissão”. (Bem, que o diga a personagem criada por ele, que nocauteia os inimigos com muitasubmissão.) Mesmo com o surgimento de mais heroínas no mercado, novos nomes como Batwoman (de 1956), She-Hulk (dos anos 1980) e Mulher Gavião (de 1940) também tiveram de aturar vários comentários machistas. Eles não vêm só dos grandes autores, mas de outros artistas — como na entrevista recente dada por Chris Evans (que interpreta o Capitão América) e Jeremy Renner (o Gavião Arqueiro). Eles se referiram à Viúva Negra, encarnada por Scarlett Johansson nos cinemas, como uma “vadia”, graças ao seu envolvimento com personagens masculinos. Para variar, eles sequer se lembraram da quantidade de namoradas que o Homem Aranha teve.

Só que o machismo não se manifesta apenas nas frases ditas pelos autores ou nas opiniões leitores. Até hoje persiste a ideia de que, em vez de estarem nas páginas das revistas para representar as mulheres, as figuras femininas servem para agradar aos homens. De uma forma geral, elas servem para enfeitar os planos de fundo, e nunca devem roubar a cena. “As personagens muitas vezes são desenhadas com proporções irreais e em posições que desafiam a anatomia”, constata Lady Sybylla, a criadora do site de ficção científica Momentum Saga e uma das responsáveis por organizar a coletânea de sci-fi feminista Universo Desconstruído. O caso recente que ganhou mais destaque foi o da capa alternativa para a revista da Mulher-Aranha, desenhada pelo italiano Milo Manara (veja abaixo, ao lado). As acrobacias anatômicas são tantas que não faltam piadas tirando sarro das poses, como o blog Escher Girls, que mostra como esse verdadeiro guia para desenhar as moças é tão absurdo quando parece. Quando o assunto é armadura (também nos videogames), então, nem se fala: o jeito é redesenhar tudo (e deixar o máximo de pele exposta).

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Se, por um lado, não falta esforço para retratar a anatomia da ala feminina, não se pode dizer o mesmo da atenção dada às histórias delas — mesmo quando escapam do clichê de serem namoradas dos heróis. Prova disso foi o descontentamento da DC Comics com o casamento daBatwoman e sua namorada Maggie Sawyer, que seria a primeira união gay dos quadrinhos. O episódio acarretou, inclusive, o pedido de demissão dos roteiristas J.H. Williams III and W. Haden Blackman, que se viram impedidos de desenvolver a personagem pela DC. Esse receio em investir nas histórias sobre as personagens fortes nos quadrinhos também barra as adaptações para as telas. Foi o caso da histórica Mulher Maravilha (que só chegará aos cinemas em 2017), e dos poucos flashes sobre a Viúva Negra que entraram para o filme Os Vingadores: A Era de Ultron, ainda em cartaz. Mesmo para as moças que já têm legiões de fãs, ter um filme próprio parece o maior desafio. Enquanto isso, Batman e Homem Aranha nadam no dinheiro investido nas megaproduções, com direito a reboot e remake dos filmes.

Reverter esse quadro, claro, não acontece da noite para o dia. Mas há esperanças – e demanda – para uma mudança. Para ter uma ideia, uma pesquisa de mercado baseada em dados do Facebookrevelou que metade dos leitores de histórias em quadrinhos são mulheres. Isso só mostra como um dos maiores argumentos para o espaço reduzido que as super-heroínas ocupam, o de que elas simplesmente não se interessam por esse universo, é infundado. Dar visibilidade para outros grupos em quadrinhos, filmes e séries não só contempla um público ignorado por muito tempo, como amplia a fatia de mercado que pode se interessar pelas produções.

 

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As boas novas

Já sabemos que existem super-heroínas fortes e incríveis no mundo do cinema e dos quadrinhos. Além da Mulher-Maravilha, a Supergirl é uma das grandes apostas da DC para o ano de 2015. Em novembro, o seriado da prima do Super-Homem vai estrear no canal norte-americano CBS.

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Mas não é só a DC que está atenta ao universo feminino. Sua principal concorrente vai lançar, no fim de 2018, o filme da Capitã Marvel, o primeiro que conta a trajetória de uma super-heroína da franquia. Além disso, o selo vai publicar a A-Force, primeira HQ com a equipe de Os Vingadorestotalmente feminina. Mesmo assim, o tão cobrado filme da Viúva Negra aparentemente não vai sair da imaginação dos esperançosos. Após um e-mail vazado, que gerou muita polêmica, a Marvel disse que não se arrisca em filmes do tipo devido ao fracasso de Mulher-Gato e Elektra. Isso tudo sem cogitar que o investimento nos dois filmes ficou bem abaixo dos multimilionárias sequências dos heróis.

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