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Quem foi Yukio Mishima, escritor que tentou dar um golpe de Estado no Japão

O autor mais famoso do Japão borrava a linha entre ficção e realidade, escrevendo romances autobiográficos e executando um suicídio ritualístico planejado.

Por Eduardo Lima
4 out 2024, 16h00

No dia 25 de novembro de 1970, cinco membros da milícia de extrema direita Tatenokai (a Sociedade do Escudo, em português) fizeram o comandante do quartel-general das Forças de Autodefesa do Japão de refém. 

Esse grupo de nacionalistas queria devolver o imperador a sua condição pré-Segunda Guerra, sem a nova constituição e apoio dos Estados Unidos, e com contornos divinos e religiosos. Mesmo assim, os Tatenokai e seu líder não eram respeitados por outros nacionalistas. O grupo chegou a afirmar que o imperador do Japão, Hirohito, deveria ter abdicado por causa das mortes japonesas na guerra.

A invasão e o refém eram um pretexto para uma tentativa de golpe de Estado, planejado há meses. O líder da milícia privada realizou um discurso sobre a queda do Japão e a necessidade de renovar o país.

Ao perceber que os dois mil soldados presentes não prestavam atenção nas suas palavras – e não se empolgavam com a ideia de retornar a uma suposta era de ouro do Japão –, o líder dos Tatenokai cometeu um suicídio ritual, o seppuku. Ele atingiu a própria barriga com uma espada curta e depois foi decapitado por um homem de confiança.

O homem que se matou após ser vaiado por dois mil soldados era o escritor mais famoso do Japão, Yukio Mishima. Ele tinha 45 anos. Sua obra – e seu suicídio – continuam a instigar leitores do mundo todo. Conheça mais sobre o autor, que é considerado um dos maiores escritores do século 20.

Quem foi Yukio Mishima

Yukio Mishima nasceu Kimitake Hiraoka, em 1925. Ele passou a maior parte da infância com a avó paterna, isolado do convívio de outras crianças pela superproteção da avó. Já na adolescência, ele começou a escrever e adotou seu pseudônimo para esconder os trabalhos literários do pai, que não gostava da ideia de ter um filho escritor.

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Ele não foi para a Segunda Guerra Mundial por causa de problemas de saúde. Isso virou um motivo de remorso no futuro, e foi uma das motivações para Mishima virar fisiculturista e ficar tão fissurado pela cultura militar. Ele também tinha uma fixação em ideias de beleza e juventude, chegando a dizer que “os belos deveriam morrer cedo, e todos os outros deveriam viver o máximo possível”.

Em 1946, aos 21 anos, ele publicou seu primeiro romance. A obra literária de Mishima pega detalhes e histórias emprestadas de sua própria vida. Vários livros têm traços autobiográficos, borrando a linha entre fato e ficção.

Isso pode ser visto em Confissões de Uma Máscara, um de seus romances mais famosos, publicado quando ele tinha 24 anos. O livro conta a história de um adolescente homossexual que esconde sua natureza atrás de uma máscara para não ter que lidar com os preconceitos tradicionais da sociedade.

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Se Mishima era mesmo homossexual, ninguém sabe. Mas o tema é recorrente na sua obra: em Cores Proibidas, ele conta a história de um homem gay que se casa com uma jovem mulher. Apesar de seu conservadorismo, a homossexualidade é sempre tratada de forma complexa, sem cair em estereótipos fáceis.

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O conservadorismo de Mishima se baseava mais na perda da identidade nacional japonesa, à medida que o país se aproximava e assimilava a cultura ocidental. Ele era um crítico do materialismo e do racionalismo, que representariam um abandono da tradição espiritual do Japão. Ele rejeitava a modernização do país, que levava as pessoas a só se preocupar com dinheiro.

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Mishima alcançou sucesso crítico e popular nas duas décadas em que atuou intensamente na literatura. Ele foi cotado para o prêmio Nobel cinco vezes, atuou como ator e modelo e escreveu poemas e peças.

No fim de sua vida, ele escreveu a tetralogia O Mar da Fertilidade. Os livros acompanham o personagem Shigekuni Honda desde 1912, quando era um estudante de direito (a mesma faculdade que Mishima cursou), até 1975, quando se torna um juiz aposentado. O último volume foi finalizado e enviado para seu editor na manhã de seu suicídio, com tudo planejado.

Para conhecer Mishima

As obras de Mishima são publicadas no Brasil pelas editoras Estação Liberdade e Companhia das Letras. Um de seus livros de contos mais famosos, Morte em Pleno Verão, acabou de ser lançado numa tradução inédita do japonês direto para o português. 

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Literatura e vida se confundem no caso de Mishima, das obras autobiográficas ao suicídio planejado nos mínimos detalhes – meio protesto político e meio performance artística. Quem entendeu isso muito bem foi o diretor americano Paul Schrader, que lançou o filme Mishima: Uma Vida em Quatro Capítulos, em 1985.

Schrader foi o roteirista de filmes como Taxi Driver e Touro Indomável. Com a ajudinha dos amigos ricaços e famosos Francis Ford Coppola e George Lucas, que atuaram como produtores executivos, ele conseguiu dirigir um filme ambicioso, uma produção dos EUA inteiramente em japonês, apesar do sentimento antiamericano de Mishima.

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O filme mistura a biografia do autor com encenações de três de suas obras – O Pavilhão Dourado, Cavalo Selvagem e A Casa de Kyoko –, mostrando a complexa relação de Mishima, andando na linha tênue entre vida e performance.

Mishima: Uma Vida em Quatro Capítulos arrecadou cerca de US$ 500 mil na bilheteria, 10% do que custou. Hoje, é considerado um clássico cult e um dos melhores filmes da sua década, uma obra à altura do escritor que a inspirou.

Obras de Yukio Mishima

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