Teatro de robôs
Companhia japonesa cria e encena peças que misturam pessoas e máquinas - e uma pitada de canastrice
Natalia Rangel
A moça da direita é real. A da esquerda, nem tanto…
“Foi bonito?”, pergunta o patrão, que está deprimido e não sai mais de casa. “O quê?”, retruca a empregada. “O pôr-do-sol”. “Sim, foi bonito. Um ser humano diria que foi”, explica a criada – o robô Robovie R3, protagonista da peça I, Worker (“Eu, trabalhadora”), encenada pela companhia de teatro japonesa Seinendan. Na vida real, o robô foi desenvolvido para cuidar de idosos. Na peça, interage com atores e reflete sobre a própria existência. “Antigamente, o máximo que podíamos fazer era segurar um ovo. Hoje carregamos bebês”, filosofa.
As falas foram escritas pelo dramaturgo japonês Oriza Hirata, que criou a peça junto com o engenheiro Takenobu Chikaraishi, da Universidade de Osaka. A companhia, que recentemente fez uma turnê por EUA e Canadá, também encena outra peça estrelada por um androide, Sayonara. “O nosso objetivo é estudar a interação entre robôs e humanos, e o teatro tem sido uma boa abordagem”, diz Chikaraishi. Os diálogos e os gestos do robô são pré-programados, mas de resto ele tem de se virar sozinho, usando câmeras de vídeo e um sensor laser para navegar pelo palco. E isso às vezes causa problemas. “Sempre tem um robô quebrado”, admite o diretor Hirata. Por isso, a companhia viaja com robôs de reserva. Mas, se algum deles tiver um problema e travar no meio da peça, uma pessoa pode reiniciá-lo via controle remoto – mais do que dá para fazer com atores de carne e osso.
Imagem: Seinendan.org