Terror à antiga
Livros que analisam a cabeça de terroristas e radicais políticos vêm pipocando nas livrarias desde os atentados de 11 de setembro.
Tiago Lethbridge
Livros que analisam a cabeça de terroristas e radicais políticos vêm pipocando nas livrarias desde os atentados de 11 de setembro. A mais recente adição a essa lista foi escrita há mais de 130 anos, acaba de ganhar nova tradução e está disponível na seção de literatura – grande literatura. No romance Os Demônios, o russo Fiódor Dostoiévski narra o impacto da atuação de um grupo de jovens revolucionários numa pacata cidade de província – e o horror que se instala depois dos crimes organizados por eles. Das páginas de Demônios saem personagens marcantes. Entre eles, o revolucionário Kírilov, que opta racionalmente pelo suicídio. Dostoiévski era opositor ferrenho da importação de idéias ocidentais – como o socialismo e o anarquismo, moda entre os jovens na Rússia do século 19. Para eles, era esse o caminho da salvação nacional. Para Dostoiévski, era a receita para a destruição do país.
• Boa parte do livro foi escrita fora da Rússia. Recém-casado, Dostoiévski saiu do país fugido – e às pressas – depois de dar um calote em seus credores. Quase foi parar na prisão.
• Epilético, o escritor teve uma série de ataques enquanto trabalhava na obra. Por culpa da doença, chegou a ficar um mês inteiro impossibilitado de escrever.
• Outro escritor russo, Turguêniev – autor de Pais e Filhos –, ganha caricatura impiedosa em Demônios. Dostoiévski discordava de suas idéias ocidentalizadas, mas isso não o impediu de pedir-lhe dinheiro emprestado. Turguêniev só emprestou metade da quantia – paga 11 anos depois.
• Uma carta escrita a um amigo mostra que Dostoiévski previa forte reação ao livro entre os críticos de esquerda. “Deixe que os niilistas e ocidentais me chamem de reacionário”, disse. “Que vão para o inferno”.
Os Demônios
Fiódor Dostoiévski
Editora 34, 697 páginas, R$ 59