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Tod Browning: O mestre do grotesco

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 21 dez 2004, 22h00

Álvaro Opperman

Estúdio da Metro-Goldwyn-Mayer, Los Angeles, 1932. No restaurante, estrelas e produtores degustam seus pratos quando são surpreendidos por um fato inesperado. Vagarosamente, um cortejo formado por aleijões humanos, anões deformados, gêmeas siamesas, uma mulher barbada e um homem-torso adentra o salão causando mal-estar geral e indignação. Por insólito que pareça, o desfile com artistas de circo fazia parte da apresentação do elenco de Freaks, um filme de terror da MGM. Não muito longe dali, o responsável pela confusão se deliciava pela indigestão que acabara de provocar em seus colegas. Seu nome: Tod Browning.

Um dos cineastas mais enigmáticos de Hollywood, Browning nasceu em 1880 e foi um dos pioneiros do cinema mudo. Desde cedo seus filmes carregaram uma marca distintiva: poucos diretores tiveram tanta fixação por aberrações humanas quanto ele. Começou a carreira no circo e dirigiu alguns clássicos do terror com o ídolo da garotada da época, Lon Chaney. Seu filme mais conhecido é Drácula (1931), com Bela Lugosi. Browning, entretanto, o desprezava.

Os críticos se dividiam quanto ao seu trabalho. Uns viam nele um gênio. Outros, apenas um picareta de mau gosto. Vivia recluso em sua mansão em Malibu, onde gostava de cozinhar, além de criar patos e cachorros. Quem o conheceu melhor, como o escritor Budd Schulberg, garantia que o diretor era um sádico.

Em 1931, durante as filmagens de Drácula no auge da depressão americana, costumava sair apressado do estúdio e correr para os teatrinhos da Hollywood Boulevard, onde se extasiava assistindo a maratonas de dança – competições em que casais famintos varavam noites dançando até o limite de suas forças. No teatro apinhado, o cineasta e os outros espectadores apostavam nos casais como se fossem cavalos de corrida.

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No geral, Browning era tido como um sujeito esquisito e afeito a brincadeiras de gosto duvidoso, como quando entregou a um desavisado gerente da MGM a lista dos atores de Freaks que passariam a freqüentar o restaurante do estúdio, ao lado de astros como Clark Gable, Jean Harlow e Spencer Tracy – diz a lenda que Tracy foi um dos poucos a não se importar com as figuras do circo. O que doía em suas pegadinhas era o fundo de verdade que revelavam. Afinal, por que os famosos não podiam dividir a mesa com deficientes físicos? Ninguém se atreveu a fazer a pergunta, mas um refeitório extra foi construído para servir o elenco do filme.

Freaks (“Monstros” no Brasil) foi um retumbante fracasso de bilheteria. O público sentiu imediata repugnância pela película, considerada macabra demais por causa das deformidades físicas que mostrava – o filme ficou proibido em muitos países por mais de 30 anos. Os críticos também odiaram. Era a chance que Hollywood esperava para se vingar de Tod Browning. E o ex-homem de circo não recebeu perdão, tendo sido boicotado pelo então chefe de produção da MGM, Irving Thalberg.

Quando morreu, em 1962, Browning estava esquecido. Nos anos 70, algo no entanto aconteceu: Freaks, o filme maldito que havia quatro décadas jazia enlatado, começou a ser exibido em sessões à meia-noite. Virou filme de culto. Aos poucos, os espectadores foram se dando conta de que as fábulas de deformidades desse cineasta maldito incomodavam porque nos diziam respeito. Ao descascar o brilhante esmalte de Hollywood, Browning deixou à mostra a unha encravada da América.

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